O vírus Zika continua na ordem do dia. Para combater a praga, uma infeção que provoca microcefalia em bebés nos ventres das mães, um grupo de cientistas internacionais está a desenvolver uma experiência em Tetiaroa, a ilha da Polinésia Francesa comprada por Marlon Brando na década de 1960. Os investigadores apostam em insetos geneticamente alterados para tornar inférteis as fêmeas do mosquito que transmite o vírus.
A iniciativa partiu do biólogo francês Hervé Bossin, chefe do serviço de entomologia do Instituto Louis Malardé em Papeete, cidade capital do arquipélago com 118 ilhas e cerca de 285.000 habitantes. Desde setembro de 2015, foram libertados mais de um milhão de insectos machos modificados para serem portadores de uma bactéria, a Wolbachia. Ponha fim às dúvidas sobre o vírus que preocupa quem vai viajar, quem fica por cá ou quem acaba de regressar de zonas afetadas.
O que é?
A doença é provocada por um vírus da família Flaviviridae, «cuja transmissão ao ser humano ocorre através da picada de mosquitos infetados, do género Aedes», esclarece Jorge Atouguia, médico infecciologista e presidente da Sociedade Portuguesa da Medicina do Viajante. Ainda assim, «existem casos comprovados de transmissão por via sexual», adianta o especialista.
Quais os riscos?
Na maioria dos casos, a doença é benigna, mesmo em mulheres grávidas. A gravidade da doença ocorre pelo efeito que o vírus parece exercer sobre o desenvolvimento do feto. A microcefalia (perímetro cefálico inferior a dois desvios padrão para a idade gestacional do feto ou para a idade e sexo no recém-nascido). Por este facto, a Organização Mundial da Saúde declarou a situação uma emergência de Saúde Pública de âmbito internacional.
Como é feito o diagnóstico?
Perante a suspeita de infeção, a deteção direta do vírus pode ser realizada durante os primeiros três a cinco dias, após o início dos sintomas através de análises ao sangue e até dez dias, na urina. Os resultados demoram três a cinco dias. Os testes de diagnóstico não estão, contudo, disponíveis na maioria das unidades de saúde, recorrendo-se nesses casos, ao diagnóstico clínico (através da observação dos sintomas).
Qual o tratamento prescrito?
Não existe, atualmente, no fim do primeiro trimestre de 2016, vacina ou tratamento específico para a doença por vírus Zika. Segundo a orientação da Direção-Geral da Saúde, o tratamento é apenas sintomático, baseado principalmente no alívio da dor, na administração de antipiréticos e de anti-histamínicos (em caso de erupção cutânea, que pode provocar prurido). Recomenda-se reforço hídrico para compensar a eventual desidratação associada à febre.
Os principais países onde o vírus Zika já atacou:
- América Central
Barbados, Costa Rica, Curaçau, El Salvador, Guadalupe, Guatemala, Haiti, Honduras, Ilhas Virgens, Jamaica, Martinica, México, Nicarágua, Panamá, Porto Rico, República Dominicana e Saint Martin
- América do Sul
Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Guiana Francesa, Paraguai, Suriname e Venezuela
- África
Cabo Verde
- Ásia
- Maldivas, Tailândia, Vietname
- Oceânia
Ilhas Samoa, Ilhas Fiji, Ilhas Salomão, Nova Caledónia, Tonga e Vanuatu
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Os sintomas a que deve estar atento
Entre três a 12 dias após a picada, podem surgir sintomas semelhantes aos da «doença pelo vírus do dengue, com febre, dores musculares e articulares e dores de cabeça. Não existem problemas hemorrágicos, na infeção por vírus Zika, mas podem ainda surgir adenopatias, exantema e conjuntivite», afirma Jorge Atouguia. No entanto, cerca de 80% das infeções não revelam sintomas, segundo a Direção-Geral da Saúde.
Entre dois a sete dias é o tempo durante o qual se mantêm, normalmente, os sintomas e 10% a 15% é a probabilidade de contrair o vírus nas zonas endémicas, se seguir todas as medidas de prevenção.
Texto: Vanda Oliveira, Carlos Eugénio Augusto e Luis Batista Gonçalves (edição internet) com Jorge Atouguia (médico especialista em doenças infecciosas e medicina tropical e presidente da Sociedade Portuguesa da Medicina do Viajante)
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