“Quis demover os companheiros de direção de que tínhamos, mesmo, de contratar pessoal, mas tive sempre um não por parte dos meus parceiros de direção. Cheguei a um ponto em que não podia continuar com isto porque não posso estar a sacrificar a vida e saúde dos utentes”, afirmou hoje à agência Lusa, Agostinho Freitas.
O responsável, que tomou posse no cargo em julho de 2020 e apresentou a demissão na última sexta-feira, acrescentou que a sua “saída foi o último recurso” que encontrou, por não ter “outra hipótese de fazer perceber aos colegas de direção que há um caminho a seguir e que, esse caminho, não pode passar ao lado dos cuidados a ter com os idosos”.
“Se eu tenho uma linha de conduta de olhar por eles e me é bloqueado esse caminho que tenho de percorrer, só tenho uma forma: é fazer rolar a minha própria cabeça. Se o modelo que eu quero implementar não serve, se serve o modelo que os meus colegas de direção pretendem seguir, então eu dou-lhes o caminho todo, venho-me embora e assumem o comando e dirigem de acordo com os parâmetros que entendem ser os melhores”, disse.
Além do presidente, a direção da Casa da Caridade de Ponte de Lima é composta por mais quatro elementos.
“Nunca consegui fazer valer, junto os meus colegas, a minha posição. Eu sou o presidente da direção e tenho mais quatro elementos. Não estou a dizer que os quatro estejam alinhados pelo mesmo diapasão, mas basta haver três e bloqueiam o processo. Por isso, não podia continuar”, frisou Agostinho Freitas.
Contactado pela Lusa, o vice-presidente Pedro Saraiva escusou-se a comentar as acusações feitas diretor demissionário, e disse que são da sua “responsabilidade” e pelas quais “terá de responder, se necessário, no sítio certo”.
A Casa da Caridade de Ponte de Lima detém o Centro Comunitário de Refoios e a Estrutura Residencial para Pessoas Idosas (ERPI) de Nossa Senhora da Conceição.
Agostinho Freitas tomou posse em julho de 2020 para equilibrar as contas da instituição que, em 2019, apresentavam “um défice financeiro de 300 mil euros”.
No ano passado, segundo o ex-diretor, aquele valor baixou para os 200 mil e em 2021 foi alcançado o equilíbrio das contas, prevendo saldo positivo em 2022.
“Só por esse facto está justificada a atenção que devia ser dedicada aos idosos, mas há elementos na direção que olham mais para a parte economicista”, sustentou.
Atualmente, segundo Agostinho Freitas, as duas respostas, acolhem 157 utentes e têm 81 funcionários.
Durante o pico da pandemia de covid-19, a instituição chegou a ter 105 funcionários, mas passado o período crítico da doença, “foi necessário equilibrar o quadro de pessoal por representar a grande fatia” do orçamento, “cerca de 1,2 milhões de euros por ano”.
“Em maio/junho conseguimos equilibrar o efetivo, com o número de funcionários, não só os acordos de cooperação com a Segurança Social, que obriga a um determinado rácio de funcionários das diferentes categorias, como também para fazer face às necessidades efetivas da instituição”, observou.
Agostinho Freitas explicou que “a falta de ajudantes de ação direta e auxiliares de serviços gerais começou por ser reportada, em setembro último, pela coordenadora geral da instituição que alertou a direção que estavam a ser postos em causa alguns cuidados elementares e básicos aos utentes por falta de pessoal”.
Disse ter feito diligências para perceber o que se passava e concluiu pela “necessidade de contratar cinco ajudantes de ação direta e auxiliares de serviços gerais, uma vez que nove daqueles profissionais que se encontram de baixa médica prolongada”.
“As diretoras técnicas dos dois lares, permanentemente estavam a reportar à direção a falta de pessoal. Sempre que colocava este problema à direção, tinha vozes que não aceitavam que para, suprir essas falhas, se deviam contratar pessoas”.
Em outubro, “as equipas de enfermagem dos dois lares reportaram à direção problemas de saúde e psicológicos, com situações em que já não se levantam os idosos das camas, não se fazia hidratação e de agravamento de algumas patologias dos utentes”.
Segundo o ex-diretor, aquela forma de “visão economicista” da direção “inverteu completamente a hierarquia de valores na condução dos destinos da instituição”.
Garantiu que a demissão é irreversível: “Com este modelo não. Diria mais, com algumas pessoas que compõem a direção, não”.
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