O procedimento realizou-se em agosto, no Hospital da Universidade de Duke, nos Estados Unidos da América (EUA), no âmbito do Expanded Access Protocol (EAP) ligado a um ensaio clínico na área do autismo e da paralisia cerebral, liderado pela Prof.ª Joanne Kurtzberg, especialista de renome internacional em hemato-oncologia pediátrica e pioneira no uso do sangue do cordão umbilical em transplantação hematopoiética como alternativa aos transplantes de medula óssea. Estima-se que, no Mundo, uma em cada 100 crianças viva com um distúrbio do espectro do autismo.
“Desde que o Salvador foi submetido ao tratamento, em casa e na escola, temos vindo a sentir várias melhorias. Notamos que está mais atento e concentrado e esperamos que nos próximos meses os progressos sejam ainda mais visíveis e significativos.”, refere Liane Paixão, mãe do menino que vive com autismo.
No final de 2019, Liane, enfermeira de profissão e mãe de dois meninos, iniciou o contacto com a Universidade de Duke, na Califórnia do Norte, por ter conhecimento do protoloco paralelo ao ensaio clínico que estava a ser realizado na área do espectro do autismo e da paralisia cerebral com infusão de células estaminais do sangue do cordão umbilical.
Das duas vezes em que foi mãe, Liane decidiu criopreservar as células estaminais do sangue do cordão umbilical, através de um banco de tecidos e células estaminais português, a BebéVida. “Foi, de certa forma, esta decisão que motivou o esperançoso contacto com a Universidade de Duke”, reflete Liane.
No início deste ano, após muita persistência, entre várias tentativas de contacto ao longo dos últimos três anos e diversos relatórios médicos exigidos, a mãe do Salvador conseguiu finalmente que o caso do Salvador fosse aceite no Expanded Access Protocol (EAP) da Universidade de Duke.
O laboratório de criopreservação, onde as células estaminais do Salvador estavam guardadas desde o seu nascimento, foi contactado por Liane para que libertasse a amostra. A BebéVida fez chegar a amostra ao Hospital Pediátrico da Universidade de Medicina de Duke, respeitando as mais exigentes condições de armazenamento de forma a não comprometer o material biológico. Dias depois de a amostra chegar aos EUA foi marcado o procedimento. A infusão de células estaminais demorou menos de uma hora e, não se tendo registado quaisquer efeitos secundários nas primeiras 24 horas o menino teve alta e pôde regressar a Portugal.
O recurso a produto biológico, isto é, células estaminais do sangue cordão umbilical, consiste na primeira abordagem clínica ao tratamento do espectro do autismo. Se o tratamento for bem sucedido, espera-se que, cerca de 6 a 12 meses após o transplante autólogo de células estaminais, o menino possa manifestar melhorias na fala. A primeira avaliação irá acontecer em fevereiro, quando passarem 6 meses após a infusão.
Nos últimos anos, vários ensaios clínicos têm demonstrado que a utilização do sangue e do tecido do cordão umbilical é não só um procedimento seguro como apresenta benefícios terapêuticos em crianças diagnosticadas com perturbações do espectro do autismo. Os benefícios passam pela redução de sintomas clínicos da patologia, melhorias comportamentais e fisiológicas, tais como capacidades sociais e de comunicação e aumento da conetividade neuronal.
A criopreservação consiste num procedimento simples no momento do parto, não invasivo e sem riscos, indolor tanto para a mãe como para o bebé, que consiste na recolha das células estaminais provenientes do sangue do cordão umbilical, que depois são devidamente armazenadas mantendo as propriedades originais durante vários anos.
Estima-se que 50 mil portugueses tenham perturbações do espectro do autismo. De acordo com a Associação Americana de Psiquiatria, as perturbações do espectro do autismo são consideradas uma síndrome neuro-comportamental com origem em alterações do sistema nervoso central que afeta o desenvolvimento normal da criança.
A designação de espetro foi atribuída pela variabilidade dos sintomas, desde as manifestações mais leves até às formas mais graves, podendo ser distribuídos em três grandes domínios de perturbação: social, comportamental e comunicacional. Habitualmente, os sintomas ocorrem nos primeiros três anos de vida, porém, podem não se manifestar inteiramente até as interações sociais excederem o limite das capacidades da criança. Embora não haja uma cura, a terapia comportamental ou a medicação ou uma combinação de ambas, pode ajudar a melhorar o desempenho diário.
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