Com entrevistas a 1.411 pessoas, o inquérito visou perceber as fontes de informação privilegiadas pela população, o nível de confiança depositado e a perceção de risco sobre a doença provocada pelo vírus SARS-CoV-2.

A investigadora Marta Entradas, do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, realça à Lusa a surpresa pela “elevada confiança na ciência”, com 87% dos inquiridos a subscrever a ideia de que a ciência vai resolver esta crise sanitária e 81% a pedir maior atenção dos políticos aos cientistas.

Segundo os resultados preliminares do estudo, 98% dos entrevistados assumem ter alguma (27%) ou muita (71%) confiança nos médicos e outros profissionais de saúde como fontes de informação, surgindo a seguir o grupo de cientistas e investigadores, com 93%.

Os números traduzem a credibilidade, a clareza e utilidade das informações destes profissionais, à frente de instituições nacionais de saúde, organizações internacionais, comunicação social, políticos e, por último, as redes sociais.

“Talvez a surpresa maior tenha sido no quão alinhada está a opinião pública sobre a doença, com o tom da informação que tem sido passada pelos vários atores, quer políticos, quer jornalísticos, quer a maioria das vozes de especialistas na matéria. Não há, digamos, debate como vemos, por exemplo, na Alemanha, onde a falta de consenso entre especialistas tem levado a opiniões mais divididas entre as pessoas”, afirma.

Uma das observações do inquérito aponta também para “alguma sensibilização da população para as chamadas ‘fake news’”, suportada na menor credibilidade e maior alarmismo reconhecidos pelos inquiridos nas redes sociais.

Com efeito, apenas 4% consideram “muito útil” a informação adquirida através de Facebook e Twitter, enquanto 16% definem-na como “nada útil”, muito atrás de fontes científicas, autoridades de saúde, jornalistas ou políticos.

As redes sociais, por onde se propagam muitas das chamadas ‘fake news’ que ocupam o espaço mediático, foram apenas a quarta fonte regular (34%) de informação, mas está à frente da imprensa escrita (somente 24% indicou a resposta “regularmente”) e do contacto direto com médicos e outros profissionais de saúde (18%).

De acordo com os resultados, os meios de comunicação mais tradicionais, como a televisão e a rádio, foram os eleitos no acesso regular à informação (86%), superando o contacto com amigos e familiares (48%) e as páginas na internet de fontes institucionais (44%), como a Direção-Geral da Saúde ou o Governo.

Paralelamente, oito em 10 dos inquiridos entende estar a ser transmitido um nível de alarme “adequado” sobre a covid-19, apesar de quatro em 10 considerarem “contraditória e confusa” a mensagem sobre a pandemia.

A maioria (53%) concorda totalmente em considerar ainda a covid-19 mais grave do que uma gripe sazonal e 95% subscreve a preocupação com o novo coronavírus, sendo que três quartos pensa estar em risco de contrair a doença no futuro próximo.

Nesse sentido, 64% dos participantes no inquérito conduzido pela investigadora Marta Entradas defendem que as “restrições deviam continuar em vigor por mais tempo”, contra apenas 33% que respondem que as “restrições em vigor deviam ser reduzidas”. Já sobre o nível de concordância face ao isolamento social, 76% advogam que este tem de ser restrito para evitar ao máximo a propagação da doença.

A informação foi recolhida através de entrevista telefónica, pela GfK Metris, entre os dias 29 de abril e 12 de maio de 2020. O universo deste estudo é constituído por pessoas com 18 e mais anos, residentes em Portugal Continental em lares com telefone fixo. Foram realizadas 1.411 entrevistas, numa amostra proporcional à população portuguesa. A margem de erro é de 1,6% para um intervalo de confiança de 95%.

Em Portugal, morreram 1.465 pessoas das 33.969 confirmadas como infetadas, e há 20.526 casos recuperados, de acordo com a Direção-Geral da Saúde.

A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 392 mil mortos e infetou mais quase 6,7 milhões de pessoas em 196 países e territórios. Mais de 2,8 milhões de doentes foram considerados curados.