No bairro mais afetado de New Rochelle, um dos primeiros e mais graves casos do novo coronavírus nos EUA, vivem o português Rui DeMelo, a esposa e os dois filhos, de dois e quatro anos.

A dois minutos de distância, no mesmo bairro, vivem os pais de Rui, numa zona próxima da sinagoga Young Israel e outros pontos de reunião de herança judaica, onde o novo coronavírus construiu um “viveiro”, segundo o Presidente Donald Trump.

“A chegada do vírus aos EUA foi mais rápida do que a gente pensava e ainda mais porque apareceu no nosso bairro”, disse à agência Lusa Rui DeMelo, de 45 anos.

New Rochelle foi considerada um “cluster”, um aglomerado de casos de coronavírus. Faz parte do condado de Westchester, que atualmente conta 380 casos confirmados, e do Estado de Nova Iorque, com mais de 1.300 casos no total e 12 mortes.

“Inicialmente eu, como muita gente, pensei que fosse um problema que ficasse pela China ou Ásia”, descreveu o português, que vive em New Rochelle há 37 anos. Passado pouco tempo, já a Europa estava a ser afetada e Rui ficou mais alarmado.

“Quando é mais perto de casa, a gente já pensa um pouquinho diferente”, considerou Rui, médico ortopedista.

Em 22 de fevereiro, regressou a New Rochelle um advogado que esteve de viagem e foi infetado com coronavírus, continuando a frequentar muitos locais no bairro Wykagyl sem o vírus ter sido detetado.

Numa questão de dias, a localidade já era considerada o maior ponto de acesso do vírus em todo o país e levou o Governador do Estado de Nova Iorque a declarar uma área de contenção à volta da sinagoga Young Israel.

A família de Rui está de boa saúde. As crianças estão em casa, aos cuidados da mãe, que foi dispensada das idas ao trabalho. Os avós, com idades mais avançadas, têm de ser mais protegidos.

Habitante de New Rochelle, mas fora da área mais afetada, a portuguesa Isabelle Coelho Marques disse à Lusa que o alarme perante a propagação do coronavírus significa menos pessoas na cidade, mas que “a vida segue”, ainda que com o auxílio de militares.

“A Guarda Nacional chegou na quarta-feira passada (11 de março) e o seu papel não é de policiamento, mas de auxílio à logística, desde a limpeza das escolas que estão encerradas, distribuir alimentação às famílias carenciadas”, explicou Isabelle Coelho Marques, conselheira das comunidades.

O número de pessoas a andar de transportes reduziu-se drasticamente na semana passada, assegurou à Lusa o dono de um café que está localizado a cinco minutos da estação de comboios e está na rotina dos habitantes.

Paulo Evangelista, português nascido e criado em New Rochelle, tornou-se proprietário de um café em janeiro e viveu um bom período até que, “pouco a pouco, o coronavírus começou a ter lugar e a colocar obstáculos” ao negócio.

Desde terça-feira que o café de Paulo Evangelista está a seguir uma ordem do Estado de não receber clientes no espaço e apenas fazer vendas ao balcão em serviço “take out”.

“Esta comunidade é bastante unida e procura sempre formas de apoiar os negócios locais”, considerou Paulo Evangelista, reconhecendo que as vendas diminuíram e que o regime de trabalho pode continuar por semanas ou meses.

Segundo Isabelle Coelho Marques, também líder da associação portuguesa NYPALC, a comunidade tem o “senso de se manter saudável” e de “apoiar os pequenos negócios da cidade”, notando as medidas tomadas pela câmara municipal para apoiar as pequenas empresas, como o estacionamento grátis na cidade.

Quanto aos supermercados, é possível abastecer-se de coisas ou alimentos necessários à sobrevivência em quarentena e “não é nada diferente de quando existe, por exemplo, aviso de uma tempestade de neve”, descreveu Isabelle Coelho Marques.

No entanto, Paulo Evangelista disse que os proprietários de cafés encontram dificuldades acrescidas pela limitação imposta por um dos maiores supermercados da zona de que cada cliente só pode comprar um galão de leite (3,8 litros). O café de Paulo utiliza, todas as semanas, entre 16 e 20 galões de leite (60 e 75 litros).

Rui DeMelo é médico ortopedista no hospital de Stamford, no Estado de Connecticut, e continua a cumprir o seu horário de trabalho normal, apesar de muitas consultas serem adiadas ou canceladas pelos pacientes.

Não há nenhum português infetado nesta localidade de “presença significativa” da comunidade portuguesa e onde existe um clube português há 85 anos, garantiu a líder da associação NYPALC.

Os Estados Unidos ultrapassaram, na terça-feira, uma centena de mortes provocadas pelo coronavírus, com mais de 5.800 casos confirmados.

 O coronavírus responsável pela pandemia da COVID-19 já infetou mais de 189 mil pessoas a nível mundial, das quais mais de 7.800 morreram.

Das pessoas infetadas em todo o mundo, mais de 81 mil recuperaram da doença.

O surto começou na China, em dezembro, e espalhou-se por mais de 146 países e territórios, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.

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