O teste de anticorpos, ou análise serológica do sangue, permite saber se uma pessoa foi infetada com o coronavírus e se desenvolveu imunidade contra a infeção. Esse tipo de exames começou a ser feito na Lombardia, a região mais afetada do país e uma das mais atingidas do mundo.

Itália espera poder contar com a chamada "imunidade coletiva" para reativar a economia dessa próspera região industrial, paralisada pela crise sanitária. Quase 13.000 pessoas morreram pelo vírus na Lombardia, que tem Milão como capital. Esse número representa mais da metade dos 25.000 mortos na península itálica.

As autoridades de saúde anunciaram que vão fazer 20.000 testes por dia nessa região.

Os primeiros a serem submetidos aos exames de sangue serão os trabalhadores da saúde: médicos, equipa de enfermagem, técnicos de laboratório e cuidadores de lares de idosos.

Na lista também estão pessoas que ficaram em quarentena por terem apresentado sintomas, aquelas que tiveram contacto com pessoas doentes e os que tiveram sintomas leves.

Os testes - que envolvem cerca de 300.000 pessoas, segundo o jornal "Il Corriere della Sera" - serão feitos pela empresa italiana de biotecnologia DiaSorin.

A Alemanha já começou a fazer estes exames e a Finlândia e a Grã-Bretanha anunciaram planos idênticos.

Para o diretor do Conselho Superior de Saúde da Itália, Franco Locatelli, as análises serológicas darão "informações muito importantes sobre a imunidade" do conjunto, algo crucial para os planos de reativação da economia e do país.

O diretor de Emergências da Organização Mundial da Saúde (OMS), Mike Ryan, e a sua colega Maria Van Kherkove, advertiram que, até agora, as evidências não demonstraram que uma pessoa que tenha contraído a doença e se tenha curado desenvolverá uma imunidade duradoura.

Os especialistas respondiam a uma pergunta sobre a decisão de alguns governos de emitir "cartões de imunidade" para quem se tiver recuperado do coronavírus. Segundo os especialistas, para se obter uma imunidade coletiva, é necessário que pelo menos 60% a 70% da população tenha esses anticorpos no sangue.

Um estudo recente, realizado pelo Instituto Pasteur, adverte que essa "imunidade coletiva" é mais difícil de determinar do que se pensava. Os cientistas devem esperar até que haja dados mais confiáveis disponíveis, advertiu o diretor do Instituto de Saúde Global de Yale, Saad Omer. "Ainda é muito prematuro", frisou Omer, em conversa com a AFP.

Além disso, não se sabe quanto tempo dura a imunidade ao coronavírus, o que significa que existe o risco de que aqueles considerados "imunes" possam reinfetar-se e transmitir o vírus para outros.

Na epidemia de SARS, entre 2002-2003, aqueles que contraíram o vírus e recuperaram ficaram imunes por apenas dois ou três anos, explicou à AFP François Balloux, geneticista da University College de Londres.

Diante de tantas dúvidas, os especialistas - como Locatelli, na Itália - consideram que os exames de sangue devem ser acompanhados do teste de nasofaringe, porque ninguém está seguro de que quem apresente os anticorpos esteja completamente protegido de ter a COVID-19.