Em causa está a plataforma ‘Body-Interact’ (corpo interativo, em português), num simulador virtual a três dimensões do ser humano, que hoje foi apresentada aos jornalistas no Centro Materno Infantil do Norte (CMIN), uma das estruturas do CHUP que também integra o Hospital de Santo António.
Carolina Pires (21 anos) e Tomás Araújo (22 anos), alunos do terreiro ano de Medicina no ICBAS, demonstraram numa das 25 mesas de simulação adquiridas no âmbito deste projeto como é possível treinar as práticas clínicas sem pacientes reais.
Num ecrã plano e tátil, auxiliado por uma tela com informação, permaneceu deitado o paciente virtual Tomás Alves, de 48 anos, que deu entrada na urgência com febre e dor lombal no lado esquerdo.
Ao paciente foram realizados exames físicos, de forma virtual, como auscultação ou palpação do pulso, feitas perguntas de história clínica e familiar e administrada medicação.
O diagnóstico: uma obstrução das vias urinárias, situação que obrigou a pedir a intervenção de um especialista.
“A primeira medida foi estabilizar o doente que entrou instável na Urgência”, descreveu Carolina às médicas Idalina Beirão, diretora do ensino pré-graduado, e Teresa Cardoso, professora de semiologia.
Para “confirmar as suspeitas, foram solicitados exames ao laboratório”, acrescentou Tomás.
Já aos jornalistas, após a aula, ambos descreveram a plataforma como “muito intuitiva” e “realista” e que transmite “confiança” na aprendizagem, tendo lembrado que a possibilidade de desenvolver este treino é “importante” num momento de pandemia em que os alunos estão com acesso condicionado ao hospital.
Além dos alunos dos 3.º, 4.º, 5.º e 6.º anos do ICBAS, num total próximo dos 600 estudantes, também médicos em formação ou especialistas do CHUP que queiram treinar novas técnicas terão acesso às mesas de simulação custaram cerca de meio milhão de euros.
“Neste momento existem constrangimentos no acesso dos alunos e ao contacto com os doentes [devido à covid-19] e, assim, têm oportunidade de, antes de passar ao doente, passar pela simulação. Adequamos o ensino aos tempos atuais, mas isto é algo para ficar”, disse o presidente do conselho de administração do CHUP, Paulo Barbosa.
“Já o fazíamos com outro tipo de técnicas e outro tipo de simuladores, mas este é um passo em frente. Ninguém pensa em meter-se num avião, sem que o piloto antes não tenha feito simulação”, acrescentou.
O responsável acrescentou que a plataforma possibilita o acesso a mais histórias e práticas clínicas do que acontece no terreno, onde nem sempre há doentes disponíveis para práticas em todas as patologias.
O diretor do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto (ICBAS), Henrique Cyrne Carvalho, destacou que os alunos terão “acesso à plataforma através dos seus telefones e ‘tablets’”, pelo que “poderão entrar num determinado cenário e treiná-lo em casa”.
“O resultado não é sempre o sucesso. Se for mal orientado, vai ser o insucesso, mas insucesso em simulação é formativo. Este é um acréscimo ao modelo formativo que nesta fase é particularmente importante porque as condições do ensino e da aprendizagem se modificaram”, referiu o diretor, salvaguardando, no entanto, que nem todo o ensino de Medicina passou para a vertente à distância, uma vez que alguns estudantes de ciclos e estágios específicos mantêm as aulas práticas.
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