“Cada medida contribui com um pequeno efeito (…) e a soma de todas dá o efeito global, mas há algum risco de poder ser insuficiente porque há sinais que nos indicam de alguma perda já de controlo no rastreio epidemiológico”, adiantou o investigador da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
Citando o último relatório das “linhas vermelhas”, Carlos Antunes afirmou que há 303 rastreadores a fazerem rastreios epidemiológicos quando seriam necessários 400.
Cada rastreador tem capacidade para analisar seis novos contactos por dia e isso “já é um limite”. Portanto, os 303 teriam capacidade para rastrear 1.800 casos por dia, mas na semana passada já eram 2.400 casos, para os quais seriam necessários 400 rastreadores.
Nesta situação, o que acontece é que as pessoas ligam para a linha Saúde 24 começam a ter dificuldade em ser contactados.
Por outro lado, apontou, a positividade está a aumentar, situando-se nos 4,8%, 4,9%, “o que significa que estamos a detetar os infetados a um ritmo abaixo do ritmo em que eles estão a ocorrer”.
“São sinais e daí dizer que há algum risco de as medidas serem insuficientes, embora todos tenhamos esperança, e eu também tenho esperança, que elas resultem”, vincou.
Para Carlos Antunes, “é expectável” que as pessoas antecipem a decisão das medidas, à luz do que se tem observado nas outras vagas.
“A partir do momento em que se começa a falar na comunicação social, em que a comunidade política fala sobre o assunto e se perspetiva o agravar de medidas, as pessoas antecipam os seus comportamentos e começamos a verificar no aumento do número de casos uma desaceleração”, explicou.
Portanto, avançou, “podemos esperar já na próxima semana ou mesmo até nesta semana haver uma desaceleração” no ritmo de aumento casos, sendo que o impacto real e efetivo das medidas só será observado a partir de uma semana, uma semana e meia.
No seu entender, é fundamental a monitorização da evolução dos números nas próximas semanas para dizer “se as medidas estão a ser ou não efetivas com consequências de controlo do aumento da incidência”.
Contudo, advertiu Carlos Antunes, certamente não se conseguirá evitar os 4.000 casos diários para a semana e os 5.000 na semana seguinte.
“Vamos ver como é que isso vai acontecer e qual é o ritmo que vai ter, mas ainda existe uma probabilidade de podermos chegar ao Natal com 6.000 [casos] ou com um número superior a isso, eventualmente até 10.000, mas para isso tinha que o número de casos continuar a subir ao mesmo ritmo que está a subir agora, o que é pouco provável”, sublinhou.
Analisando a semana de contenção sem aulas e teletrabalho obrigatório (2 a 9 de janeiro), Carlos Antunes afirmou que é uma medida que vai evitar o que se observou em janeiro do ano passado, contendo a incidência.
“Se chegarmos a 31 de dezembro com 6.000 casos esta pausa da semana de 2 a 9 de janeiro vai reduzir a mobilidade e reduzir os contactos” e vai evitar que esses possíveis casos se transformem em 12.000 passado uma ou duas semanas e vai fazer com que esse número comece a diminuir.
Quanto ao uso obrigatório da máscara em espaços interiores, disse duvidar que tenha “um impacto grande” porque na generalidade dos casos as pessoas continuam a usá-la.
Relativamente à exigência de quem viaja por via aérea para Portugal ter de apresentar um teste negativo, mesmo os vacinados, disse que é “uma medida que apenas tenta suprimir os possíveis casos importados”.
“São casos que ao serem importados podem desencadear novas cadeias de transmissão, não resolve o problema da transmissão comunitária que nós estamos a observar e já é grande”, declarou.
Sobre a testagem, afirmou que já está a haver “um reforço”, tendo passado dos 30 mil testes diários para os 54 mil, mas, afirmou, “ainda é insuficiente porque a positividade está a aumentar”.
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