“[Pedi demissão] após constatação de que não teria a autonomia e liderança que imaginava indispensável para o exercício do cargo”, disse Teich na CPI, que investiga as respostas do Governo brasileiro à pandemia.

“Essa falta de autonomia ficou mais evidente em relação às divergências com o Governo quanto à eficácia e extensão do uso do medicamento cloroquina para o tratamento da covid-19″, acrescentou.

Médico oncologista, Teich era apontado como um quadro técnico dentro do Governo quanto tomou posse em 17 de abril de 2020, mas pediu demissão em 15 de maio, 29 dias depois de iniciar a sua gestão à frente do Ministério da Saúde.

À época do seu pedido de demissão, Teich disse apenas que “a vida é feita de escolhas” e que escolheu “sair”, sem explicar os motivos que o levaram a deixar o Governo.

Questionado por parlamentares no Senado, o antigo governante explicou que pediu demissão porque divergia de Jair Bolsonaro sobre o uso da cloroquina e, portanto, não poderia permanecer no Governo.

“Naquela semana [de sua demissão], teve uma fala do Presidente na saída do Alvorada quando disse que o ministro tem que estar afinado e cita o meu nome especificamente”, contou Teich.

“Na véspera [Bolsonaro] teve uma reunião com empresários em que fala que o medicamento [cloroquina] iria ser expandido. À noite teve uma live [transmissão ao vivo nas redes sociais] que ele fala do uso expandido. Aí no dia seguinte eu peço minha exoneração”, acrescentou o ex-ministro.

Noutro momento, porém, ao ser questionado se ouviu diretamente de Bolsonaro uma orientação ou pedido para apoiar a indicação do uso do medicamento no combate à covid-19, Teich respondeu que diretamente isso não lhe foi dito pelo Presidente.

A cloroquina é um remédio usado contra a malária e algumas doenças como o lúpus que é ineficaz contra a covid-19 embora a sua prescrição tenha sido amplamente defendida por Jair Bolsonaro e seus apoiantes desde o ano passado, quando alguns estudos iniciais foram divulgados.

O Presidente brasileiro, que assumiu ter sido infetado pelo novo coronavírus em julho do ano passado, declarou à época que tomou o medicamento e atribuiu-lhe a responsabilidade pela sua cura.

No entanto, inúmeros estudos demonstraram que a substância é ineficaz no combate ao vírus SARS-CoV-2, causador da doença.

Em março passado, a Organização Mundial da Saúde (OMS) concluiu que a cloroquina e a hidroxicloroquina, uma substância derivada da primeira, não funcionam no tratamento contra a covid-19 e alertou que seu uso pode causar efeitos adversos nos doentes.

A substância passou por uma análise de um grupo de 32 especialistas da OMS que disseram ter uma grande certeza de sua ineficácia e emitiram uma forte recomendação contra seu uso no combate ao novo coronavírus.

O Brasil é o país lusófono mais afetado pela pandemia e um dos mais atingidos no mundo ao contabilizar 411.588 vítimas mortais e mais de 14,8 milhões de casos confirmados de covid-19.

A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 3.230.058 mortos no mundo, resultantes de mais de 154,2 milhões de casos de infeção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.