“Estamos a preparar tudo para reiniciar, o que acontecerá no inicio do próximo ano”, disse à Lusa Jorge Condeço, que reconhece que têm sido anos “muito duros” para o banco público, que tem criopreservadas 400 amostras.

O responsável esclareceu, contudo, que durante estes dois anos de pandemia se manteve a atividade em relação à prestação de colheitas para familiares, em situações específicas, assim como a necessidade de fazer a acreditação e de validar o processo.

Jorge Condeço sublinhou a complexidade de uma organização com estas características, à qual se acrescentaram outras dificuldades nestes últimos anos: “Por exemplo, precisamos de sacos de colheita que nem sequer existem na Comunidade Europeia e temos que mandar vir da Suíça, onde está o fornecedor. O que acontece é que temos imensas dificuldades em mandar vir os sacos porque é extracomunitário”.

Com esta paragem de dois anos, acrescentou, os prazos de alguns reagentes também expiram, sendo necessário comprar novos.

O Banco Público de Células do Cordão Umbilical (BPCCU), que recebe, analisa, processa, criopreserva e distribui dádivas benévolas de sangue do cordão umbilical, está sob a alçada do Instituto Português do Sangue e da Transplantação (IPST) e, ao longo dos anos, tem-se debatido com dificuldades de pessoal e financeiras.

Segundo o IPST, estão adstritos ao BPCCU a tempo inteiro um médico, dois técnicos de saúde, diagnóstico e terapêutica (TSDT) e um assistente operacional. A tempo parcial – “de acordo com as necessidades de serviço” – tem três enfermeiros e dois TSDT.

Jorge Condeço reconhece que o número de profissionais é reduzido para a atividade, sublinhando: ”Nós somos a plataforma principal do tratamento de órgãos, somos os responsáveis pelo CEDACE [Centro Nacional de Dadores de Células de Medula Óssea, Estaminais ou de Sangue do Cordão], somos responsáveis pelo banco de células do cordão e somos responsáveis por 60% das colheitas nacionais de sangue e componentes”.

Dá ainda o exemplo do “programa estratégico de plasma” que está a ser desenvolvido para aproveitar todo o plasma nacional: “Mais uma responsabilidade de grande valor acrescentado para o Instituto que veio sem verbas e sem recursos humanos”.

Quanto a investimentos, segundo o IPST, estão previstos para 2023 cerca de 150 mil euros para aquisição de aplicação informática.

Criado em 2009, o banco tem atualmente 400 amostras criopreservadas. Cada amostra pode assim permanecer 20 anos, mantendo todas as características.

Em declarações à Lusa a propósito do Dia Mundial do Sangue do Cordão Umbilical, que hoje se assinala, Jorge Condeço explicou as vicissitudes pelas quais o BPCCU tem passado, desde a mudança de instalações – estava inicialmente instalado no antigo Pavilhão Maria Fernanda., no Centro Hospitalar de São João - até à concentração no IPST, no âmbito do Programa de Reestruturação da Administração Central do Estado.

Apesar de o BPCCU ter mudado de instalações, parte do biobanco (as amostras propriamente ditas) continua nas anteriores instalações: “É uma estrutura muito pesada, que funciona com nitrogénio liquido para ter temperaturas de 300 graus celsius negativos”, explicou. No futuro, o biobanco mudará para Loulé, integrando o Algarve Medical Center.

“Vai para instalações muito mais adequadas para aquilo que são as necessidades de um banco destes. Há uma melhoria significativa na qualidade da instalação do arquivo”, considerou.

Sobre a importância da existência do banco público, e a diferença para os bancos privados, Jorge Condeço sintetizou: “O banco público tem uma questão fundamental, que é a questão da dádiva. De colocarmos ali potencialmente algo que pode ser útil para outro. É uma dádiva benévola, altruísta e voluntária”.

Explicou ainda que a utilidade do BPCCU é para colmatar a falta de dadores CEDACE, ou seja, dadores de medula óssea. “Quando nós não conseguimos, em situações limite, que os doentes tenham um dador que seja adequado”.

O responsável sublinhou igualmente que, a este nível, Portugal tem “um dos maiores registos mundiais de CEDACE” e, por isso, a utilização das células do cordão umbilical “é muito limitada”.

“Neste momento temos muito poucos pedidos, casos pontuais para famílias”, acrescentou.

Contudo, lembrou, “existem situações, por exemplo, de patologias que estão relacionadas com os cromossomas, anomalias genéticas, em que o próprio cordão, mesmo no próprio, não pode ser utilizado”.