O número de mortes por envenenamento revela que “uma em cada oito mordidas de cobra é fatal” em Moçambique, refere-se no estudo publicado pela Toxicon, uma revista científica de toxinologia, ciência que estuda as toxinas produzidas por microrganismos, plantas e animais.

"A incidência de mordidas de cobra na África subsaariana rural pode estar severamente subestimada", é o título da pesquisa publicada no final de setembro.

O trabalho foi feito em parceria por várias instituições, incluindo a Universidade Lúrio de Moçambique e pretende contribuir para a meta de redução em 50% da incidência de mordidas até 2030, como proposto pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Os autores baseiam as novas estimativas a partir dos resultados de entrevistas a 1.037 agregados familiares de nove comunidades da província de Cabo Delgado.

"Apesar de ser uma subavaliação, os níveis de incidência de picadas de cobra são dez vezes maiores" que as estimativas até agora usadas "e o número de mortes aumenta 30 vezes".

"É urgente que se façam mais inquéritos às populações para avaliar a extensão completa das picadas na África subsaariana, explorar padrões regionais e desenvolver planos de mitigação", lê-se no sumário do estudo.

Os dados sugerem que, todos os anos, cerca de 69.200 pessoas sejam mordidas por cobras em Moçambique, país que acolhe pelo menos 14 espécies de “importância médica”, ou seja, cobras cujas mordidas “podem matar ou levar à amputação de membros”.

A maioria da população moçambicana (68%) vive em zonas rurais e pratica a agricultura para viver, o que acaba por "expor milhões de pessoas a mordidas de cobra”, principalmente na época chuvosa, refere-se no documento.

O elevado número de cobras medicamente importantes e a percentagem de população na zona rural “conferem a Moçambique o estatuto de alta prioridade para estudos de demografia de cobras venenosas e incidência das suas mordidas”, conclui-se no estudo.