Uma equipa multidisciplinar de neurocientistas e engenheiros compilaram aquilo que "pode ser o mapa mais preciso até ao momento" do espaço misterioso que existe entre os nossos dois ouvidos.

Os cientistas descobriram cerca de 100 novas regiões, não reportadas anteriormente, da camada exterior enrugada do órgão, o chamado córtex cerebral ou massa cinzenta.

Novo mapa cerebral
Novo mapa cerebral Novo mapa cerebral segundo o estudo agora revelado créditos: Matthew F. Glasser, David C. Van Essen

"Estes novos conhecimentos e ferramentas devem ajudar a explicar como o nosso córtex evoluiu e quais os papéis das suas áreas especializadas na saúde e doença", disse Bruce Cuthbert, dos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos, que co-financiaram o estudo publicado na revista Nature.

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Um dia, estas novas informações podem permitir "uma precisão sem precedentes em cirurgias cerebrais", acrescentou, citado pela agência de notícias France Presse.

Durante mais de um século, inicialmente usando apenas conjeturas, os cientistas procuraram delinear as diferentes áreas do cérebro e as suas funções.

Crenças antigas

Em 1800, os chamados "frenologistas" dividiram o órgão em secções que controlam certos sentidos e traços de carácter. A região responsável pelo "espírito combativo", por exemplo, pairava acima das orelhas, enquanto a área relativa ao "amor paternal" ficava na parte de trás da cabeça e a da "esperança" no topo.

Essas teorias hoje extintas foram descareditadas com o surgimento da dissecação e de outros métodos de análise científica.

Em 1909, o neurologista alemão Korbinian Brodmann publicou o que é talvez o mais conhecido mapa do cérebro, baseado na descoberta de que diferentes regiões são constituídas por diferentes tipos de células. O mapa de Brodmann, que dividiu o córtex cerebral em algumas dúzias de áreas, ainda hoje é utilizado em escolas médicas.

Já se sabe há algum tempo que regiões controlam os movimentos voluntários musculares, a linguagem, a visão, o som e os aspetos da personalidade, por exemplo. Mas os cientistas ainda discordam sobre quantas regiões do cérebro existem - e mais ainda sobre o que cada uma delas faz.

Antes do novo mapa, havia 83 áreas conhecidas em cada metade do cérebro - um número que agora aumentou para 180, segundo esta equipa de cientistas.

A descoberta foi possível graças à combinação de dados de diferentes métodos de registo de imagens usados para estudar os cérebros de 210 adultos.

Os cientistas testaram um novo software num outro grupo de 210 adultos e descobriram que o programa era capaz de identificar com precisão regiões mapeadas nos cérebros, apesar da variabilidade individual.

"A situação é análoga à astronomia, onde telescópios terrestres produziram imagens relativamente embaciadas do céu antes do advento da ótica adaptativa e dos telescópios espaciais", diz o autor do estudo Matthew Glasser, da Faculdade de Medicina da Universidade de Washington no Missouri.