O estudo, publicado na revista The Lancet Neurology, mostrou que o impacto positivo permaneceu seis meses depois do fim do teste experimental. Tomografias do cérebro revelaram que o componente do chá verde, chamado epigalocatequina galato, altera a forma como os neurónios se liguem entre si no cérebro.

"É a primeira vez que um tratamento demonstra eficácia na melhoria cognitiva de pessoas com esta síndrome", indicou Mara Dierssen, principal autora do estudo e neurocientista do centro.

Embora significativos, os resultados, contudo, não devem ser interpretados como uma "cura". "Mas pode ser uma ferramenta para melhorar a qualidade de vida dessas pessoas".

Especialistas que não estiveram envolvidos no estudo advertiram que, apesar de "fascinante" e de ser um "importante trabalho", os resultados devem ser validados por testes adicionais.

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A síndrome de Down é a forma genética mais comum de deficiência intelectual e afeta, segundo a Organização Mundial da Saúde, aproximadamente uma em cada 1.000 pessoas.

Também conhecida como trissomia 21, é um distúrbio genético em que o indivíduo possui uma cópia extra do cromossoma 21, o que leva a pessoa a ter 47 cromossomas em vez dos habituais 46.

Na síndrome de Down, a cópia extra traz um excesso de proteínas associadas a disfunções cognitivas, o que conduz à redução de tais aptidões e outros problemas de saúde.

A epigalocatequina galato, o composto do chá verde, consegue fazer com que as proteínas voltem aos níveis normais.

Em experiências anteriores realizadas em ratinhos de laboratório, Diverssen mostrou que reprimir um destes genes, o DYRK1A, melhorava a função e desenvolvimento do cérebro. Mas a técnica utilizada não foi uma opção em seres humanos. Por isso, os investigadores escolheram tentar o componente do chá verde.

No teste experimental participaram 84 pessoas com síndrome de Down, que, em seguida, foram divididas em dois grupos. No primeiro foi fornecido um tratamento de chá verde descafeínado contendo 45% de epigalocatequina galato, acompanhado de uma reabilitação cognitiva semanal.

Para realizar o estudo, o segundo grupo tomou placebo, ao invés do componente do chá verde.

Os indivíduos foram submetidos a vários testes após três, seis e 12 meses. Não foi notada mudanças na maioria deles, mas algumas pessoas do grupo do chá verde obtiveram resultados muito melhores.

Além disso, as pessoas que receberam o tratamento apresentaram melhorias ao longo do tempo.

"É emocionante ver como o conhecimento da neurobiologia genética da síndrome de Down está a permitir tratamentos específicos", disse David Nutt, diretor do Centro de Neuropsicofarmacologia do Imperial College de Londres.

Marie-Claude Potier, uma especialista em síndrome de Down no Instituto do Cérebro e da Coluna Vertebral em Paris, disse que os resultados eram "um salto adiante", mas que a segurança e eficácia devem ser confirmadas.

Também é importante "entender cada indivíduo, a sua genética e ambiente, assim como outros problemas de saúde e acesso à educação", destacaram Fabian Fernandez e Jamie Eding, do Instituto do Cérebro Evelyn F. no Arizona.