A propósito da reunião ESMO Guidelines: Real World Cases Series Renal Cell Carcinoma
A Sociedade Europeia de Oncologia Médica (ESMO), tem organizado uma série de reuniões virtuais para dinamizar as suas próprias guidelines que são reconhecidas e utilizadas como referência mundialmente. Aliás, a ESMO conta com mais de 25.000 membros oriundos de 160 países e é considerada uma associação líder na formação e informação multidisciplinar em Oncologia.
Uma das maiores limitações é a rapidez com que é possível atualizar uma guideline, tendo em conta a evolução do conhecimento e da nova evidência que é gerada. Este é o exemplo do carcinoma de células renais, uma entidade reconhecidamente heterogénea e que tem constituído um desafio terapêutico.
Nas situações de doença avançada ou metastizada (no subtipo células claras, o predominante, correspondendo a 80% dos casos) em doentes não previamente tratados, nos últimos anos, foram aprovados internacionalmente 4 regimes terapêuticos. Estas associações de fármacos contendo imunoterapia com inibidores de checkpoint imunitário são todas igualmente válidas (nomeadamente, com redução do risco de morte, aproximadamente 30% vs Sunitinib), com resultados de eficácia e perfis de toxicidade próprios. À data da publicação das guidelines do carcinoma de células renais em vigor atualmente (Escudier B et al. Ann Oncol, 2019) apenas uma destas associações configurava nas recomendações. Ainda este ano, foram divulgados os resultados favoráveis sobre imunoterapia adjuvante, no pós-operatório de doentes de risco de recidiva intermédio a alto. A estratégia encontrada de acompanhar a evolução rápida do conhecimento foi publicar eUpdates das guidelines sempre que justificado – desde 2019 já 5 eUpdates foram publicados pelos autores, algo referenciado na reunião da ESMO.
Foi precisamente para abordar as guidelines preconizadas no tratamento do carcinoma de células renais que, no dia 30 de novembro, participei na reunião ESMO Guidelines: Real World Cases Series Renal Cell Carcinoma. Um aspeto que foi central na reunião: a complexidade da abordagem do doente com carcinoma de células renais.
Este cancro é o 7º mais comum nos homens e o 10º nas mulheres, divide-se em 16 subtipos histológicos segundo a Organização Mundial de Saúde e é caracteristicamente resistente à quimioterapia, tendo sido os fármacos antiangiogénicos (inibidores de tirosina cinase) o padrão do tratamento sistémico há mais de uma década, tendo sido suplantados pelas associações com imunoterapia mais recentemente. Acresce ainda a dificuldade de que não existe exame de rastreio recomendado e a sua incidência tem vindo a aumentar significativamente, o que se parece relacionar com os seus principais fatores de risco: tabagismo, obesidade e hipertensão arterial.
O ponto de partida da reunião foi um caso clínico real e qual a melhor abordagem (incluindo, diagnóstica, terapêutica, prognóstica entre outros) seguindo criteriosamente as recomendações das guidelines da ESMO. Ainda existiu oportunidade para rever o tema da aplicabilidade das guidelines na prática clínica diária (com foco nos estudos de vida real, baseado na utilização de fármacos após a sua aprovação) e, finalmente, um momento de discussão animada e resposta às múltiplas e variadas questões colocadas pela audiência durante o evento.
A reunião foi originalmente emitida em direto a 30/11/2021, e está disponível para assistir em diferido aqui, apenas para utilizadores registados, e as guidelines estão disponíveis aqui, sem restrições de acesso.
As guidelines, escritas por peritos idóneos em cada área, procuram sistematizar a evidência mais robusta e atualizada, de forma regular e de acesso livre. Por exemplo, a utilização de algoritmos de decisão e recomendações sucintas, tornam as guidelines práticas e populares. Assim, facilitam a abordagem sistemática e padronizada para a grande maioria das situações da clínica diária, diminuindo a disparidade de cuidados nos países que por elas se guiam.
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