“Há locais com mais de oito meses de atraso nas colonoscopias, aos testes positivos de rastreio. (…) Isto é muito grave porque ter sangue nas fezes poderá ser já um mau sinal e tem de ser despistado a tempo”, disse à Lusa o presidente da Associação de Apoio ao Doente com Cancro Digestivo (Europacolon Portugal) Europacolon, Vitor Neves.

O responsável defende a criação de “um plano de recuperação público e transparente, que não se fique nos dados abstratos de níveis de 2019, e que seja, de facto, implementado o rastreio do cancro colorretal em todo o país, com as devidas contratualizações".

Vitor Neves lembra que o cancro do intestino, quando detetado a tempo, tem cura e, por isso, sublinha que “a falta de acompanhamento nos cuidados de saúde primários tem de acabar”.

Os dados mais atuais apontam para mais de 10 mil casos todos os anos Portugal de cancro do intestino e mais de 4.200 mortes.

“É um problema de saúde pública que se vem arrastando ao longo dos anos. Já antes da pandemia não havia rastreio de base populacional de forma equilibrada e com uma cobertura nacional (…) estava a dar os seus primeiros passos. Com a pandemia, o rastreio parou e os cuidados de saúde primários ficaram quase inoperacionais na área da avaliação da sintomatologia e do diagnóstico precoce”, afirmou, explicando que é a partir dai que os doentes são referenciados para a especialidade.

O presidente da associação diz que agora aparecem casos “em estado muito mais avançado do que apareciam antigamente” e que há casos de doentes que são apanhados nas urgências, quando têm crises agudas, e que, feitos os diagnósticos complementares, muitos “vão para cuidados paliativos ou para cuidados que já não têm as mesmas soluções que teriam” se a doença fosse detetada precocemente.

“Nesta doença, o rastreio é o melhor custo-benefício. O custo relativamente aos resultados é tão baixo que ninguém devia ter dúvidas de que tem de estar implementado”, acrescentou o responsável, realçando que tratar o doente num estado mais avançado é mais caro do que tratá-lo numa fase primária.

O presidente pede maior sensibilidade do Governo “relativamente à cobertura, de facto, de nível nacional” e diz que na zona norte, onde já se recomeçou a enviar os kits para casa dos doentes, “é exatamente onde existem atrasos de mais de oito meses nas colonoscopias aos testes positivo”.

Explicou que nos casos em que os testes ao sangue nas fezes dão positivo, o doente deverá fazer a colonoscopia num prazo de três semanas.

“Aquilo que a Europacolon também pode fazer e que está a fazer é abrir capacidade para poder acompanhar as pessoas e temos em funcionamento um projeto de apoio em cuidados paliativos ao domicílio gratuito, na zona norte do país para tentar acompanhar doentes que precisam e que não estão a ser acompanhadas pelas unidades centrais”, explica.

Na Europa, há todos os anos 500 mil casos novos de cancro do intestino e mais de 240 mil mortes.

Este mês de março - Mês do Cancro Colorretal -, a Europacolon lança uma campanha informativa e de sensibilização sobre o cancro do intestino, apelando ao rastreio precoce da doença.

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