Um comité das Academias Nacionais de Ciências, Engenharia e Medicina dos Estados Unidos (NASEM) analisou mais de 10.000 artigos científicos para chegar às quase 100 conclusões. O relatório de um painel de 17 membros oferece uma "revisão rigorosa das pesquisas científicas relevantes publicadas desde 1999", lê-se numa declaração da NASEM.
A canábis é a droga ilícita mais popular nos Estados Unidos. Mais de 22 milhões de norte-americanos de 12 anos ou mais dizem ter utilizado a droga nos últimos 30 dias. Nove em cada 10 consumidores adultos afirmam que a utilizaram para fins recreativos, enquanto apenas 10% alegaram fins exclusivamente médicos.
"Há anos que o panorama do uso da canábis se tem transformado rapidamente, à medida que mais e mais estados legalizam a canábis para o tratamento de condições médicas e para o uso recreativo", comenta Marie McCormick, presidente do comité e professora de saúde maternal e infantil da Universidade de Harvard. "Esta aceitação, acessibilidade e uso crescentes da canábis e dos seus derivados têm levantado importantes preocupações de saúde pública", acrescentou.
Alivia as dores
O estudo descobriu que os pacientes que usavam canábis para tratar dores crónicas eram "mais propensos a experimentar uma redução significativa dos sintomas da dor".
Adultos com espasmos musculares provocados pela esclerose múltipla também melhoraram os seus sintomas ao usar certos "canabinoides orais" - medicamentos sintéticos feitos à base de canabinoides.
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Também foram encontradas evidências conclusivas de que estes canabinoides orais poderiam prevenir e tratar náuseas e vómitos em pessoas com cancro que recebem quimioterapia. "Fumar canábis não aumenta o risco dos tipos de cancro frequentemente associados com o uso de tabaco - como o cancro de pulmão e o da cabeça e pescoço", acrescenta o relatório.
Além disso, o comité "encontrou evidências limitadas de que o uso de canábis está associado a um subtipo de cancro testicular".
E os riscos?
Os riscos do uso da canábis incluem a possibilidade de desencadear um ataque cardíaco, mas são necessárias mais pesquisas para entender como é que o consumo desta planta está associado a "ataques cardíacos, acidentes vasculares cerebrais e diabetes".
Fumar canábis pode causar bronquite e tosse crónica, mas a interrupção do uso "provavelmente reduz essas condições", e ainda não é claro se há qualquer relação com a ocorrência de doenças respiratórias, incluindo doença pulmonar obstrutiva crónica, asma ou deterioração da função pulmonar.
Em relação à saúde mental, o comité descobriu que "o uso de canábis provavelmente aumenta o risco de esquizofrenia, outras psicoses e distúrbios de ansiedade social e, em menor medida, depressão". Os pensamentos suicidas podem aumentar e os sintomas de transtorno bipolar podem piorar com o uso intensivo de canábis, acrescenta o estudo.
Mas em pessoas com esquizofrenia e outras psicoses, "um histórico de consumo de canábis pode estar ligado a um melhor desempenho em tarefas de aprendizagem e memória", disse.
Quanto mais as pessoas usam canábis - e quanto mais jovens elas começam - mais probabilidades têm de desenvolver um "problema de uso de canábis", aponta o relatório.
O comité encontrou evidências limitadas de que o consumo de canábis aumenta a taxa de iniciação no uso de outras drogas.
Mesmo que funções cerebrais como aprendizagem, memória e atenção sejam afetadas após o uso de canábis, os cientistas encontraram poucos sinais de danos a longo prazo em pessoas que pararam de fumar.
Em mulheres grávidas, alguns indícios mostraram que fumar esta droga durante a gravidez está associado a um menor peso ao nascer, mas a relação com outros resultados da gravidez e da infância não foi clara.
Acidentes entre crianças, incluindo a ingestão de canábis, aumentaram drasticamente desde que a substância foi legalizada em algumas partes dos Estados Unidos.
De forma pouco surpreendente, o relatório encontrou "provas substanciais" de que o uso de canábis está ligado a uma condução afetada e a mais acidentes com veículos.
A canábis é atualmente uma substância da Lista I sob a Lei de Substâncias Controladas, o que significa que a planta não tem nenhum valor medicinal para as autoridades norte-americanas. "Este relatório é uma reivindicação para os muitos cientistas, pacientes e profissionais de saúde que há muito sabem os benefícios da canábis medicinal", disse Michael Collins, vice-diretor de assuntos nacionais da Aliança de Política de Drogas.
Paul Armentano, vice-diretor do NORML, um grupo de lobby pela legalização da canábis, recorda que as evidências não são novas. "Mesmo assim, há décadas a política de canábis neste país tem sido impulsionada pela retórica e pela emoção, e não pela ciência e pela evidência", disse ele. "No mínimo, sabemos o suficiente sobre a canábis, assim como sobre as falhas da proibição da canábis, para regular o seu consumo por adultos, acabar com a sua criminalização e removê-la da Lista I", acrescentou.
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