“A medicina está bastante evoluída, fazem-se tratamentos, intervenções com tecnologia bastante sofisticada, cada vez se curam mais e se diagnosticam mais as doenças, mas depois há determinados aspetos humanos e éticos que acabam por ficar um bocadinho esquecidos” como minorar a dor, disse Clara Abadesso, pediatra e coordenadora do Grupo de Dor da Criança e Adolescente da Associação Portuguesa para o Estudo da Dor (APED).

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Para Clara Abadesso, ainda se faz pouco nos serviços de saúde em relação ao que podia ser feito: “não quer dizer que não se trate a dor, mas, se calhar, não se estão a utilizar todas as estratégias que podem ser utilizadas e que está demonstrado que são eficazes”.

“É como se existisse um hiato entre o que evidência científica já demonstrou que é eficaz e que se pode fazer para controlar a dor e o que é feito na prática. É esse hiato que temos de reduzir e fazer desaparecer”, defendeu.

Até há pouco tempo, existia a ideia de que os bebés e sobretudo os prematuros não sentiam a dor como os adultos, porque o sistema nervoso ainda não estava completamente desenvolvido, mas “a investigação científica já demonstrou que é totalmente errado”.

Várias estratégias

Para o tratamento da dor, existem três tipos de estratégias: farmacológicas, físicas e psicológicas. “Uma criança que precisa de pôr um cateter, que precisa de fazer uma colheita de sangue, se estiver posicionada ao colo dos pais vai reagir de uma forma muito diferente do que se estiver numa maca a ser segurada por várias pessoas”, exemplificou.

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Outras “estratégias muito simples” passam por deixar as crianças fazerem bolinhas de sabão, soprarem um moinho de vento ou aprenderem a respirar fundo para relaxar e libertar a tensão e a ansiedade, disse Clara Abadesso, defendendo que estas técnicas devem ser utilizadas porque vão “desviar o foco da criança em relação ao procedimento que lhe vai causar dor”.

A hipnose também pode ser aplicada através de alguns exercícios como a luva mágica ou incentivar a criança a viajar ao seu lugar favorito através do pensamento, para ela ir "experienciando" o que vê, o que cheira, o que sente e o que ouve. “A criança está tão absorvida nessa experiência que acaba por entrar num estado de transe e as situações exteriores acabam por perder a importância”, contou.

Clara Abadesso está a desenvolver uma consulta de dor crónica pediátrica no Hospital Amadora-Sintra para ajudar as crianças e adolescentes que sofrem deste problema, que está ainda subdiagnosticado, subvalorizado e subtratado. “Muitas vezes essas crianças andam perdidas entre várias consultas à procura de uma resposta para a sua dor”, lamentou.