"Isto [a contaminação] não é nada normal: 39 amostras positivas em 52 lotes. Diria que não foi uma contaminação que ocorreu de ontem para hoje", afirmou a especialista em segurança alimentar e investigadora da Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica do Porto, citado pela agência de notícias Lusa.

A Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) mandou destruir recentemente 29 toneladas de queijo produzidas na Cooperativa de Produtores de Idanha-a-Nova, devido à presença da bactéria 'listeria monocytogenes'.

Paula Teixeira admitiu que, tendo em consideração a sua experiência com outros casos semelhantes, "provavelmente" a bactéria "está de alguma forma instalada no local de produção".

"O que acontece muitas vezes é que esta bactéria se instala em equipamentos, no ambiente, e acaba por contaminar o produto final", acrescentou.

Bactéria difícil de eliminar

A investigadora sublinhou que não é fácil a eliminação da bactéria numa situação destas.

"É preciso muito trabalho primeiro para perceber qual é o foco de contaminação e depois o que fazer para o eliminar", sustentou.

Um dos problemas da bactéria 'listeria monocytogenes' é o facto de ser superresistente às condições de processamento: cresce no frigorífico e resiste às altas concentrações de sal, sublinhou.

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Paula Teixeira disse também que a bactéria pode estar presente desde que não atinja números muito elevados na altura do consumo.

"Se à saída da fábrica o produto estiver direitinho não vai haver problema", sustentou.

De acordo com a especialista, a recolha de produtos contaminados com este tipo de bactéria ocorre diariamente em todo o mundo.

"Estamos a falar de uma bactéria muito resistente, que cresce no frio. Sendo muito perigosa, andamos sempre em cima destes casos. Como é uma bactéria que anda no ambiente, a possibilidade de algo correr mal existe. Não é por falta de controlo", frisou.

Sem quaisquer alarmismos, a investigadora sublinha que a 'listeria monocytogenes' causa infeções muito severas, mas raras.

"Em Portugal surgem anualmente 10, 20 ou 60 casos de infeção. O problema é que a taxa de mortalidade [por listeriose] anda na ordem do 40%. São casos raros, mas muito graves quando aparecem", alertou.

Paula Teixeira explicou também que a infeção por listeriose ao nível da União Europeia é a que “mais mortes causa por ingestão de alimentos contaminados", ficando mesmo à frente da 'salmonella'.

A bactéria 'listeria monocytogenes' vive habitualmente no solo, em desperdícios e na vegetação, mas pode contaminar as hortaliças cruas, comidas preparadas, queijos, patés ou carnes cozinhadas.

O corpo humano, graças ao seu sistema imunitário, está bastante bem preparado para resistir à presença desta bactéria, que habitualmente provoca apenas transtornos intestinais ou febre.

No entanto, em recém-nascidos ou adultos, com defesas em formação ou deterioradas, a infeção pode ser mortal.