Na porta do centro de saúde de Loures, no distrito de Lisboa, um aviso dá conta de que entre 11 e 21 de setembro não existem vagas do dia para utentes sem médico de família, uma situação motivada por clínico afeto aquele serviço se encontrar de férias, segundo constatou a agência Lusa no local.
A falta de médicos de família no Centro de Saúde de Loures tem gerado longas filas à porta daquela unidade, sendo que muitos utentes começam a chegar durante a madrugada, segundo relatou uma utente à Lusa.
“Na sexta-feira cheguei às 06:00 e já tinha 60 pessoas à minha frente. Só havia 14 senhas e por isso não consegui vaga. Havia pessoas que tinham chegado ao início da noite do dia anterior”, contou Sofia Patrício.
A utente, que pretendia obter um prolongamento da baixa médica, tentou novamente a sorte na segunda-feira, tendo chegado desta vez às 03:15 da manhã.
“É inadmissível que as pessoas tenham de ir para o centro de saúde de noite e de madrugada, sem certeza de que irão ter vaga para os atendimentos complementares. O número de senhas varia e nunca se sabe quantas irão disponibilizar”, apontou.
Segundo adiantou ainda esta utente, a situação tem-se agravado porque o centro de saúde de Loures está a receber utentes sem médico de família de outras unidades do concelho.
Contactada pela Lusa, a vice-presidente da Câmara Municipal de Loures, Sónia Paixão (PS), responsável pelo pelouro da Saúde, lamentou a situação verificada naquele centro, admitindo que situações semelhantes têm ocorrido noutras unidades do concelho.
“Temos vindo a acompanhar. Sabemos que estão a ser abertos vários procedimentos de recrutamento para prestadores de serviços. Algumas falhas têm sido colmatadas, outras não. Sei que ainda hoje entrou uma médica para a unidade de saúde de Santo Antão do Tojal. Portanto, no global estamos com essa preocupação”, apontou.
A autarca referiu que a Câmara de Loures tem solicitado reuniões com o ministro da Saúde, Manuel Pizarro, e defendeu a necessidade de ser criada em Loures uma Unidade Local de Saúde (ULS).
“Temos expectativas em relação à constituição da ULS e que possa ser um caminho para que toda esta situação possa ser revisitada e melhorada. É essa a nossa esperança”, sublinhou.
A Lusa contactou também a administração do Agrupamento do Centro de Saúde (ACES) de Loures-Odivelas, mas ainda não obteve resposta.
As ULS, entidades públicas empresariais, são um modelo de organização que promove a gestão integrada de cuidados de saúde primários e hospitalares agregando, numa só instituição, hospitais, centros hospitalares, centros de saúde e agrupamentos de centros de saúde de uma área geográfica.
A ideia é que as ULS apostem na prevenção da doença e na promoção da saúde, prestando melhores cuidados de saúde. Além de maior acesso e proximidade, as ULS deverão reduzir a burocracia.
Este novo modelo deverá simplificar os processos e melhorar a articulação entre equipas de profissionais de saúde com o foco na experiência e nos percursos entre os diferentes níveis de cuidados, aumentando a autonomia gestionária, melhorando a participação dos cidadãos, das comunidades, dos profissionais e das autarquias na definição, acompanhamento e avaliação das políticas de saúde, maximizando o acesso e a eficiência do SNS.
Deverá ainda permitir uma maior eficiência na gestão dos recursos públicos, simultaneamente com a garantia e respeito pelo papel da participação dos municípios no planeamento, organização e gestão do funcionamento da resposta em saúde à população de determinada área geográfica, potenciando a proximidade e a gestão em rede.
O diretor-executivo do Serviço Nacional de Saúde (SNS), Fernando Araújo, anunciou no final de agosto uma “grande reforma” a partir de janeiro de 2024 com a criação de mais 31 ULS, que agregam os hospitais e os centros de saúde numa mesma instituição e gestão.
Uma das ULS prevista é a de Loures-Odivelas (Hospital de Loures com o ACeS Loures-Odivelas).
Atualmente existem oito ULS: Matosinhos (1999), Norte Alentejano (2007), Guarda (2008), Baixo Alentejano (2008), Alto Minho (2008), Castelo Branco (2010), Nordeste (2011), Litoral Alentejano (2012).
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