A possibilidade de redução da comparticipação nos medicamentos para controlar a asma está a preocupar os especialistas, que alertam para as consequências na saúde dos doentes mas também no aumento dos custos, numa decisão que representaria um retrocesso.

"Temos consciência que essa decisão não foi tomada, mas sabemos que existem algumas estruturas do Ministério da Saúde que têm indicado que se deve reduzir a comparticipação" nos medicamentos para as asmas "menos bem controladas", passando de 69 por cento para 37 por cento, disse à agência Lusa o presidente da Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica.

Os medicamentos para as asmas "menos bem controladas" eram menos ajudados e há dois anos foi alterada a situação e a comparticipação do Serviço Nacional de Saúde passou para 69 por cento, uma decisão que estaria baseada na "necessidade de criar evidência de que existia vantagem".

"Temos mais de cerca de 20 por cento de asmáticos perfeitamente controlados e que seguem a sua vida como se não sofressem de asma, o que justifica que se mantenha este apoio", defendeu Mário Morais de Almeida.

Para o especialista, a possibilidade "é preocupante porque poderá levar a que alguns dos ganhos conseguidos em saúde", como a redução dos internamentos, com "mais cerca de 20 por cento de doentes controlados", se percam, o que seria um "retrocesso".

Com a eventual redução do apoio, os doentes "deixam de ter capacidade para aceder às medicações e perde-se o controlo da doença", passam a recorrer mais aos serviços de urgência e a cuidados não planeados, especificou.

E há que ter em conta custos não estimados em Portugal, "o que é um paradoxo", os custos indiretos, "pois as pessoas não conseguem ser produtivas", passam a faltar muito ao trabalho ou à escola, e, no caso das crianças, os pais também não podem trabalhar.

Mário Morais de Almeida lembrou que já foi demonstrado em países do norte da Europa ou nos EUA que "vale a pena apostar na prevenção", porque "consegue reduzir o impacto global e também reduzir os custos".

A Sociedade vai pedir uma audiência ao ministro da Saúde pois considera importante decidir onde alocar os recursos.

"Ninguém quer promover o esbanjamento de recursos, importa é rentabilizar" e "não pode haver retrocessos" no acesso a medicações a quem precisa, salientou o responsável.

As vacinas alérgicas, que "não se sabe se continuam a ser comparticipadas ou não" são outro tema que os especialistas pretendem analisar com Paulo Macedo.

Os especialistas vão debater estas questões na XXXII Reunião Anual da Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica que vai decorrer no sábado, no Porto.

30 de setembro de 2011

Fonte: Lusa