A artrite reumatoide é uma doença inflamatória crónica que se caracteriza por um processo inflamatório nas articulações que pode culminar na destruição das mesmas se não for tratada atempadamente. No entanto, mais de um terço dos doentes não sabe que tem a patologia.
"As doenças reumáticas são doenças para a vida. Temos as ferramentas, temos os médicos, temos as análises e os marcadores que permitem o diagnóstico precoce, temos os registos, temos o tratamento, mas os doentes reumáticos continuam a não ser tratados devidamente", começa por criticar o médico reumatologista José Canas da Silva.
Estima-se que a artrite reumatoide afete até 1,5% da população portuguesa, sendo a sua prevalência duas a quatro vezes superior em mulheres (1,1%) do que em homens (0,3%). Embora não haja cura para a doença, a artrite reumatoide apresenta um bom prognóstico a longo prazo se for diagnosticada e tratada atempadamente.
Esse diagnóstico deverá ser feito, idealmente, nos primeiros seis meses após o início dos sintomas, mas continua a ser realizado tardiamente em Portugal. Atualmente, o tempo médio ronda os dois anos.
Melhorar o acesso à especialidade médica
Segundo José Canas da Silva, diagnosticar precocemente a doença traduz-se numa melhor qualidade de vida, porque reduz significativamente a probabilidade de dano estrutural, o grau de dependência no dia-a-dia e também a mortalidade precoce. Desta forma, evita-se também que os doentes se vejam obrigados a deixar as suas atividades profissionais por incapacidade.
"O diagnóstico precoce da artrite reumatoide, bem como de todas das doenças reumáticas, é fundamental e encerra um problema: o acesso à especialidade de reumatologia. É urgente que as doenças reumáticas se tornem uma prioridade nacional, o que não acontece por não terem o mediatismo de outras doenças com taxas de mortalidade elevadas, o que se reflete na falta de tratamento adequado e pior qualidade de vida para os doentes, que são os que mais dor têm", alerta o especialista.
O risco da automedicação que disfarça a doença
Sabe-se que cerca de metade dos doentes com artrite reumatoide se vê obrigada a cessar a atividade profissional nos primeiros dez anos após aparecimento dos primeiros sinais da doença. Por outro lado, há doentes que, perante um quadro de dor intensa que se arrasta por semanas ou meses, opta por se automedicar, tomando analgésicos que só vão “disfarçar” a dor e que nada fazem para travar a doença.
De acordo com o reumatologista José Canas da Silva, é necessário que se criem estruturas que permitam que os cidadãos estejam consciencializados para os principais sintomas e para importância de procurar o médico precocemente.
"A visibilidade destas doenças passa pela definição de uma estratégia que permita a literacia da população, uma referenciação precoce para a especialidade, a instituição de terapêuticas modificadoras e um seguimento feito por uma equipa multidisciplinar. Só assim se consegue a visibilidade suficiente para que os reumatologistas sejam distribuídos pelas regiões nacionais onde realmente carecem, bem como a melhoria das infraestruturas já existentes", frisa o médico.
"O não reconhecimento pela sociedade do impacto desta doença pode colocar em causa a implementação de estratégias para o seu diagnóstico e tratamento precoce", conclui.
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