20 de setembro de 2013 - 07h58

Na melhor das hipóteses, apenas 15 dos 75 países com maiores taxas de mortalidade infantil conseguirão alcançar os objetivos de redução desta taxa previstos até 2035, revela um estudo hoje publicado.

Publicado na revista científica Lancet, o estudo revela que, se a tendência atual se mantiver, apenas nove dos 75 países da iniciativa "Countdown to 2015" conseguirão alcançar a meta, definida internacionalmente, de reduzir o número de crianças que morrem antes dos cinco anos para menos de 20 em cada mil nascimentos até 2035.

Mesmo no melhor cenário possível - em que todos os países alcançam as melhorias conseguidas pelos países mais bem-sucedidos nos últimos anos -, apenas 15 países, ou seja, um em cada cinco, alcançarão as metas até 2035.

Os objetivos foram definidos em 2005 pelas agências internacionais de saúde, tendo em conta que os Objetivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM) expiram já em 2015.

Embora reconheçam que as taxas de mortalidade materna e infantil têm vindo a descer na maioria dos países desde 2000, quando foram acordados os ODM, os autores escrevem que os esforços têm de ser intensificados para que se alcancem resultados substanciais nos países de baixo e médio rendimento.

"Embora a redução das taxas de mortalidade sejam de saudar, a nossa análise mostra que se as tendências históricas se mantiverem, haverá ainda 5,4 milhões de mortes entre crianças com menos de cinco anos em 2035", disse o líder da equipa responsável pelo estudo, Neff Walker, da escola de saúde pública Johns Hopkins Bloomberg, em Baltimore, EUA.

Este número, sublinhou o especialista, poderia ser reduzido para mais do que metade se todos os países conseguissem ter desempenhos ao nível dos que alcançaram as maiores melhorias nos últimos anos.

No estudo, os investigadores analisaram dados de 69 países de baixo e médio rendimento, descrevendo a cobertura de 29 intervenções chave que se sabe reduzirem a mortalidade materna e infantil. Dos países analisados, 58 fazem parte da lista de 75 do "Countdown to 2015" - que juntos formam mais de 95% de todas as mortes maternas e infantis do mundo.

Com os resultados, os cientistas projetaram as taxas de mortalidade até
2035 de todos os 75 países exceto o Sudão do Sul, sobre o qual não havia
informação suficiente para apoiar a análise.

Em termos absolutos, os autores do estudo concluem que o número de
mortes de crianças com menos de cinco anos diminuiria de 7,6 milhões em
2010 para 5,4 milhões em 2035 nos 75 países, caso se mantivessem as
tendências atuais.

Caso todos os países conseguissem alcançar as melhorias dos países com
melhores desempenhos, o número de mortes diminuiria para 2,3 milhões.

Em ambos os casos, a redução no número absoluto de mortes de crianças é
motivado tanto pelo aumento das intervenções chave como pela previsível
redução da fertilidade.

O estudo está integrado numa edição especial da Lancet dedicada ao
‘Countdown to 2015’ (contagem decrescente para 2015), uma iniciativa das
Nações Unidas que visa reduzir a mortalidade materna, infantil e
neonatal.

Na mesma edição, um outro artigo alerta que o progresso alcançado na
redução das taxas de mortalidade infantil na última década não deve
fazer esquecer que em 2010 ainda morreram 7,6 milhões de crianças com
menos de cinco anos, a maioria dos quais de doenças evitáveis com
intervenções muitas vezes baratas, como nutrição adequada ou o
tratamento da diarreia ou pneumonia.

Segundo este artigo, o peso da mortalidade infantil está cada vez mais
concentrado na África Subsaariana, onde uma “mistura tóxica” de
crescimento populacional e falência na abordagem das necessidades
sanitárias de crianças e mães levou ao aumento dos números de mortes em
muitos países da região.

Lusa