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“A situação em que vivemos é trágica, estamos a aproximar-nos do colapso do Serviço Nacional de Saúde”, disse à agência Lusa o ex-governante socialista, que assumiu a pasta dos Assuntos Sociais no II Governo Constitucional, liderado por Mário Soares.
Para António Arnaut, as reformas da saúde em Portugal resultaram na expansão do setor privado, à custa da destruição do serviço público.
“Isto é uma questão política de primeira linha, porque tem a ver com a democracia portuguesa”, defendeu aquele que é classificado como o “pai” do SNS.
Elogios da Europa
O Comité de Politica Social da União Europeia elogiou, numa análise divulgada na terça-feira, as mudanças feitas em Portugal na saúde e nas pensões de reforma, mas contrapôs a necessidade de garantir uma adequada cobertura da assistência social.
“Deixemos os estudos. Sou utente do SNS e conheço o que se passa aqui e noutros sítios. O grande problema é que há uma política premeditada, a nível europeu e também em Portugal, de destruir o Estado social e aquilo que pode ser objeto de negócio, de mercantilização, a saúde e a escola pública”, acusou.
O grande problema, prosseguiu, não será tanto o ministro da Saúde, Paulo Macedo, mas “o primeiro-ministro”, Pedro Passos Coelho, que classificou como “um neoliberal assanhado”.
António Arnaut recorreu a estudos já publicados para recordar que o setor público perdeu 3.000 camas nos últimos quatro anos, enquanto o privado ganhou 2.000, com novas unidades a abrir todos os dias.
“Isto é uma situação muito preocupante, porque sendo Portugal um país com dois milhões de pobres e outros dois milhões em risco de pobreza, com o desemprego que temos, se lhes falta o SNS que lhes presta assistência médica numa situação de aflição, então receio que haja realmente uma convulsão social”, declarou.
António Arnaut voltou a apelar ao Presidente da República para intervir: “Isto é uma questão de dignidade nacional, de respeito pelo Constituição da República”.
“Se o Presidente interveio quando era ministro da Saúde Correia de Campos e provocou a queda do ministro, estranho muito o seu silêncio, que é um silêncio cúmplice do atual governo”, sublinhou.
“Tem de chamar a atenção para a situação que se verifica na saúde, porque o colapso que se verificou nas urgências mostra como o SNS está completamente debilitado em recursos humanos e técnicos", exemplificou.
Portugal, afirmou, é dos países que “menos gasta em saúde” (cerca de 800 euros per capita).
“Os médicos e enfermeiros trabalham até à exaustão e, dentro dessa falta de recursos humanos, verificou-se a destruição de equipas médicas, sobretudo de urgência, que funcionavam exemplarmente”, apontou António Arnaut, para quem o Chefe de Estado não pode furtar-se a uma intervenção.
“A realidade é esta: muitas pessoas não vão às consultas ou às urgências porque não têm dinheiro para pagar as taxas moderadoras”, lamentou.
Para o ex-político, trata-se de “uma situação calamitosa” que põe em causa “a saúde dos portugueses, os princípios da igualdade, a coesão social e a paz social”, um bem público.
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