“Agora, com o encerramento do bloco de partos, é mais um golpe para esta população que é servida pelo centro hospitalar”, comentou a autarca, em declarações à agência Lusa.
Ana Reis recorda que, além de ser vereadora, também é médica no serviço de urgência do Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa, explicando que “aquilo que se passa é que os médicos entregaram a escusa às horas extra e, portanto, eles (CHTS) não têm médicos para preencher as escalas do serviço de urgência”.
“Nós percebemos que se trata de uma preocupação que resulta de uma incapacidade de o Ministério da Saúde de chegar a acordo com os médicos e isso está a colocar, não só a nós, mas a vários centros hospitalares, muitos constrangimentos a nível de preenchimento de escalas. Portanto, ficamos preocupados, porque mais uma vez a população da região vai ter menos acesso a cuidados de saúde”, lamentou.
Desde quarta-feira, o hospital de Penafiel tem “encerrado para o exterior até novas indicações” o bloco de partos e a admissão para o serviço de urgência de obstetrícia e ginecologia.
A decisão do Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa, sediado em Penafiel, decorre da “indisponibilidade de médicos que permitam completar as escalas de urgência”.
Os utentes têm a indicação que devem “procurar o atendimento, para aquelas situações, no Hospital de São João, no Porto”.
O hospital de Penafiel, juntamente com o de Amarante, no distrito o Porto, integra o Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa (CHTS), responsável por assistir uma população de quase 600 mil habitantes que residem naquele território, constituindo a segunda maior urgência do Norte do país.
Já no dia 03 de outubro, o hospital de Penafiel tinha solicitado o “desvio de doentes da urgência externa”, por não conseguir reunir o mínimo de especialistas em cirurgia geral devido à recusa dos médicos em fazer mais horas extraordinárias.
A autarca de Amarante sublinha que, além do encerramento das urgências de obstetrícia e do bloco de partos, que vigora desde quarta-feira, há algumas semanas que “não existe no CHTS urgência externa de cirurgia geral”.
“Estão todos na expectativa de o Ministério da Saúde chegar a acordo com os médicos, porque é a única forma de o centro hospitalar poder resolver a situação”, disse, avisando para o problema do inverno se, entretanto, esta situação não for ultrapassada: “Nós sabemos que os meses de inverno no CHTS, por norma, são bastante maus, bastante difíceis. A somar a isso, a falta de disponibilidade dos médicos para fazer horas extra coloca-nos numa situação difícil”.
A situação poderá agravar se “especialidades como medicina interna, como cirurgia, começarem a faltar, numa urgência que serve meio milhão de pessoas”, acrescentou.
Ana Reis afirma que o seu município, um dos maiores do Tâmega e Sousa, “encara esta situação com muita preocupação”, recordando que Amarante já “sofreu bastante” desde que o CHTS decidiu colocar em Penafiel muitas das valências que havia em Amarante e que “serviam uma grande parte da população do Baixo Tâmega”.
Mais de 30 hospitais de norte a sul do país estão a enfrentar constrangimentos e encerramentos temporários de serviços devido à dificuldade das administrações completarem as escalas de médicos.
Em causa está a recusa de mais de 2.500 médicos em fazerem mais do que as 150 horas extraordinárias anuais a que estão obrigados.
Esta crise já levou o diretor executivo do Serviço Nacional de Saúde (SNS), Fernando Araújo, a admitir que novembro poderá ser dramático, caso o Governo e os sindicatos médicos não consigam chegar a um entendimento.
As negociações entre sindicatos e Governo já se prolongam há 18 meses e há nova reunião marcada para sábado.
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