“Não há dúvida de que uma segunda vaga está aqui e que será mais agressiva do que a primeira”, disse o diretor do Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças da União Africana (África CDC), em declarações na conferência de imprensa semanal, em formato virtual, a partir da sede da organização, na capital da Etiópia.

“Contudo, estamos melhor preparados agora do que há dez meses atrás”, acrescentou Nkengasong.

O continente regista mais de 2,4 milhões de casos de contágio, mais de 57 mil mortes e pouco mais de dois milhões de recuperações, de acordo com os últimos dados divulgados hoje pelo África CDC.

o diretor da agência de saúde pública da UA confirmou que o número de novos casos no continente está próximo do pico de julho e agosto, “cerca de 17 mil ou 18 mil por dia”, mas diferenciado entre países que nem sequer sofreram uma primeira vaga daqueles que, embora no início tenham conseguido travar a pandemia, sofrem agora um recrudescimento.

É o caso da África do Sul, o país mais afectado pelo coronavírus em todo o continente, com 36% de todas as infecções na última semana, 23,6 mil mortes desde o início da pandemia, e onde no passado dia 9 as autoridades sanitárias confirmaram oficialmente uma segunda vaga.

A primeira vaga na África do Sul, que começou em março, atingiu o seu pico em julho, com cerca de 12.000 casos por dia. Ontem à noite, a nação do sul do continente ultrapassou mais uma vez 10.000 infecções.

A Nigéria confirmou ontem 930 novas infecções, o registo diário mais elevado desde o início da pandemia. O país contabiliza um total de 75.062 infeções e 1.200 mortes, de acordo com dados oficiais.

Por outro lado, países como a República Democrática do Congo (RDCongo) anunciaram nas últimas 24 horas medidas mais restritivas a partir desta sexta-feira, tais como a proibição de reuniões públicas com mais de 10 pessoas, encerramento antecipado de escolas antes do Natal ou um recolher obrigatório mais severo durante a noite.

“Não há dúvida de que em janeiro, depois das festas, vamos exceder os números” de infecções diárias verificados no pico da primeira vaga, em julho e agosto, previu Nkengasong, que recordou a necessidade do continente envolver as populações locais na resposta à doença e de obter a vacina contra a covid-19 “em grandes quantidades” em 2021.

“Se não atacarmos e vacinarmos agressivamente (agora), haverá bolsas de transmissão que levarão a novos surtos”, concluiu o director do África CDC, que identificou como prioridades os trabalhadores da saúde, os idosos, as pessoas com doenças anteriores, os migrantes e os que se encontram em zonas de conflito.

O mesmo responsável sublinhou que África “não está sentada” à espera das vacinas contra a covid-19 e que está a trabalhar agressivamente com todos os produtores para garantir que o continente não é deixado para trás.

Os “mais altos representantes” da UA estão “pessoalmente envolvidos” no “esforço ativo de não deixar o continente de fora do esforço mundial de vacinação, sublinhou Nkengasong.

“Temos estado em conversações com vários produtores, os trabalhos continuam e são prometedores”, disse ainda, referindo-se expressamente a negociações em curso com a Johnson&Johnson, a AstraZeneca e com o Serum Institute of India, o maior produtor de vacinas em volume, que se associou à AstraZeneca para desenvolver e produzir a vacina.

“Estas discussões não podem ser consideradas negócios, é preciso tempo para que amadureçam”, disse o diretor do África CDC, mas são “importantes”, “especialmente nesta fase prévia, para garantir que o continente não é deixado para trás”, acrescentou.

“O continente nunca até hoje vacinou mais de 100 milhões de pessoas por ano, e terá que fazer muito mais do que isso em 2021 se quiser ter alguma hipótese de combater esta epidemia”, disse o responsável, sublinhando que esta foi uma das principais conclusões da conferência virtual de segunda e terça, patrocinada pelo África CDC, centrada na questão da “justa, equitativa e rápida alocação das vacinas anti-covid-19 para África”.

Outra das recomendações da conferência relacionou-se com a necessidade todas as vacinas serem pré-qualificadas pela Organização Mundial de Saúde, mesmo que doadas, por forma a prevenir a ocorrência de “quaisquer efeitos adversos”. “As vacinas e a vacinação tornaram-se um tópico muito sensível e temos que investir esforços e tempo para o proteger de efeitos adversos”, acrescentou Nkengasong.