Conhece-se o vírus, as suas características e modos de transmissão bem como os seus efeitos de destruição do sistema imunitário que pode levar a doenças e infeções oportunistas mortais.
Os medicamentos antirretrovirais, cada vez mais eficazes e bem tolerados, permitem-nos atualmente manter a supressão virológica de forma sustentada, ao longo de dezenas de anos.
Mas os últimos números da UNAIDS não nos permitem descansar- em 2020 estima-se que tenha havido um milhão e meio de novas infeções e 37,7 milhões de pessoas viviam ainda com o VIH a nível mundial. Desses, cerca de 10 milhões não estavam sob tratamento, por não saberem que estavam infetados, ou por não terem acesso a terapêutica antirretroviral.
E as mulheres são certamente uma população desproporcionalmente afetada nesta pandemia. As mulheres mais jovens dos 15 aos 24 anos são ainda, em muitos países como os da África Sub-Sahariana, cerca de 25% das novas infeções.
Múltiplas razões são apontadas para esta vulnerabilidade - a desigualdade de género do ponto de vista de educação, formação profissional e autonomia. E a violência sexual que deixa a mulher muitas vezes incapaz de se proteger, mesmo quando tem consciência do risco de se infectar por via sexual.
Também no papel clássico de cuidadora da família e mãe, a mulher coloca muitas vezes as suas prioridades de saúde em último lugar, o que se traduz em irregularidade de consultas médicas e interrupções de tratamento.
E os cuidados de saúde da mulher que vive com o VIH abrangem muito mais que o controlo da multiplicação do vírus e a reconstituição do sistema imunitário. A saúde sexual e reprodutiva deve ser seguida regularmente e o desejo de maternidade discutido e planeado.
A transmissão vertical, da mãe para o filho, que sem qualquer tratamento pode ocorrer em até um terço das gestações, torna-se extremamente rara com o diagnóstico precoce na gravidez e um tratamento eficaz. Se a carga viral se mantiver negativa o parto pode decorrer de forma natural e os recém-nascidos nascerem perfeitamente saudáveis.
Nesta era do I=I ou seja indetetável igual a intransmissível, a noção de que um indivíduo que vive com o VIH não transmite a infeção por via sexual, se o vírus se mantiver suprimido, deve ser explicada e difundida.
Esta mensagem pode permitir ultrapassar uma das maiores barreiras – a do estigma e discriminação das pessoas que vivem com o VIH. E 40 anos depois dos primeiros casos diagnosticados tornar a SIDA, uma doença crónica como qualquer outra.
Um artigo da médica Teresa Branco, Internista do Hospital Professor Doutor Fernando Fonseca.
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