O que sabem as mulheres sobre a menopausa?

- 25% das mulheres inquiridas considera-se pouco ou nada informada sobre a menopausa;

- 8 em cada 10 mulheres não sabe a diferença ou tem dúvidas sobre a diferença entre menopausa (diagnosticada ao fim de 12 meses sem menstruação) e perimenopausa (período que antecede este diagnóstico, mas onde é possível experienciar alguns dos seus sintomas);

- “Informação” foi a resposta mais dada pelas inquiridas quando questionadas sobre o que poderia ter contribuído para se sentirem mais informadas sobre o tema.

O que sentem as mulheres na menopausa?

- 9 em cada 10 mulheres tem sintomas que associam à menopausa;

- “Vasomotores” (ondas de calor e palpitações), “sexuais/genitais” (secura vaginal e perda de líbido), “sono e energia” (insónias e fraqueza/cansaço frequente), “ossos e articulações” (dores nas articulações e osteoporose), “corporais” (gordura abdominal e aumento de peso), “urinários” (infeções urinárias e incontinência), “cognitivos” (falta de memória e dificuldade de concentração) e “emocionais” (alterações de humor, ansiedade e depressão) são os sintomas mais comuns associados à menopausa;

- 46% das mulheres reconhece que a menopausa ou pós-menopausa teve um efeito negativo na sua vida sexual e do seu companheiro;

- 24% classifica a sua saúde mental ou bem-estar psicológico como pouco ou nada saudável durante este período da sua vida;

- Em termos laborais, 22% das inquiridas refere que a menopausa afetou a sua produtividade.

Como são acompanhadas pelos médicos?

- 38% nunca procurou a ajuda especializada ou demorou um ano a fazê-lo. É mais comum as mulheres obterem informações sobre a menopausa por si mesmas do que pela via médica;

- 11% das mulheres que está a passar pela menopausa ou já passou por esta fase fez ou está a fazer terapêutica hormonal.

Como se cuidam as mulheres na menopausa?

- 73% das mulheres refere nunca ter feito um tratamento específico para a menopausa, onde se incluem suplementos alimentares, alimentação adaptada ou terapêutica hormonal ou não hormonal;

- 55% não admite não ter feito nenhum tipo de alteração na sua alimentação e 49% admite não ter aumentado a prática de exercício físico após os 40 anos;

- 39% das mulheres em plena menopausa ou pós-menopausa reconhece que esta teve um impacto negativo na sua autoestima;

- 4 em cada 5 mulheres consideram que a menopausa é um tema pouco ou nada falado.

Menopausa: Uma breve introdução

menopausa
créditos: Wells

Na tentativa de mudar a forma como se fala em menopausa e normalizar este tema, que ainda é considerado tabu em Portugal, a Wells, marca especializada em saúde, beleza e bem-estar, trouxe para cima do palco do Teatro Tivoli BBVA 10 mulheres ligadas à área da saúde e ao mundo televisivo de forma a mostrar como este período é vivido pelo sexo feminino.

Durante a conferência, que contou com a moderação da jornalista Marta Atalaya, foi divulgado aquele que é um dos maiores estudos sobre menopausa a nível nacional. Intitulada “Menopausa: Como é vivida pelas mulheres em Portugal”, esta investigação promovida pela Wells e realizada pela Return On Ideas contou com a participação de 1.000 mulheres, com idades entre os 45 e os 60 anos e em diferentes fases da menopausa.

De acordo com as autoras Clara Cardoso e Joana Barbosa, as conclusões foram obtidas com base “em longas conversas, muito abertas” que tiveram com cada uma das entrevistadas no interior das suas casas e onde “houve riso e choro” sobre um tema que ainda persiste envolto em muitos mitos.

Joaquim Neves sobre os três M: Menstruação, Maternidade e Menopausa

O médico ginecologista Joaquim Neves - responsável pela revisão científica do estudo apresentado e que foi o único homem a subir ao palco - refere que, durante grande parte da sua vida, a mulher sempre esteve habituada a normalizar o seu desconforto perante aquilo que apelida dos três M: Menstruação, Maternidade e Menopausa.

Ao longo da conferência, tocou num tema que considera fulcral: a falta de consultas de especialidade sobre a menopausa em Portugal e lamentou a falta de tempo por parte dos médicos de família em educar e informar as pacientes sobre este tema.

O obstetra salientou ainda a importância da proatividade por parte dos médicos em falar abertamente sobre a menopausa e pós-menopausa com as suas pacientes, questionando-as sobre eventuais sintomas e desconfortos que possam sentir durante esta fase da sua vida.

De Júlia Pinheiro a Cláudia Raia: a menopausa na primeira pessoa

Wells Conferência menopausa
créditos: Wells

Para partilhar a sua experiência sobre o tema, a Wells associou-se a diferentes figuras públicas que convidou a partilharem os seus testemunhos em diferentes painéis dedicados ao tema. Inês Maria Meneses e Júlia Pinheiro foram a primeira dupla a pisar o palco do Tivoli. “Estou na menopausa há 10 anos. Comecei pelos 50/51 anos”, afirma Júlia Pinheiro no segmento ‘Histórias na primeira pessoa’ e onde começou por descrever um cenário assustador sobre esta fase da sua vida. Sem perceber bem o que se estava a passar consigo, a apresentadora de televisão diz ter-se sentido à beira de um “colapso mais mental do que físico”, pautado por perdas de memórias e nevoeiro mental. O seu pensamento inicial foi de que estava perante um quadro depressivo. “[Os médicos] Nunca me passaram o conhecimento importante que devia ter nesta fase da minha vida”, elucida. A falta de ferramentas facultadas pela comunidade médica obrigaram-na a procurar um novo caminho: “Tive de desenhar a minha própria estratégia”, afirmou.

Medo e tristeza são as palavras que melhor descrevem esta fase da sua vida. “Eu passei a ser uma pessoa medrosa, insegura”, disse sobre o efeito que a menopausa teve na sua vida profissional e que gerou em si um processo de despersonalização. “Parecia que não era eu. Não me reconhecia.” A medicação, por sua vez, trouxe “alívio, rumo”.

O caso de Inês Maria Meneses é bastante diferente. “Estou a ter uma menopausa muito tranquila”, afirma a radialista portuguesa sobre esta fase da sua vida, mas que, nem por isso, deixa de ser desafiante. No seu caso a menopausa coincidiu com o diagnóstico da Doença de Graves, uma condição autoimune que a debilitou física e emocionalmente.

A apresentadora do programa de rádio “Fala com Ela” destacou a importância da medicação e do efeito transformador que teve no seu dia a dia, devolvendo-lhe qualidade de vida, ao ponto de afirmar: “Não tenho praticamente sintomas, nem da Doença de Graves nem da menopausa”. Prova disso é que aos 52 anos começou a ter aulas de natação e dedicou-se à prática de exercício físico.

Ambas falam da importância em falar sobre este tema com os companheiros, amigas e até mesmo com estranhos. “Eu falo com toda a gente”, diz Inês Maria Meneses que faz questão de dar voz a esta fase da vida da mulher em praticamente todas as apresentações de livros onde vai. “Temos que trazer este assunto para a ordem do dia.” Para Júlia Pinheiro é essencial que o sexo feminino se questione sobre o tema e que não se deixe contentar por “respostas simplistas”.

Para encerrar a conferência, a Wells contou com a participação especial de Cláudia Raia que viajou até Portugal para partilhar a sua história, que de usual não tem nada, no painel "Cenas da Menopausa". Para lidar com a menopausa, a atriz de 57 anos refere o quão é importante sentir o apoio dos pares durante esta fase particularmente difícil e que tem um impacto no bem-estar, autoestima e autoconfiança feminina. “Eu sugiro que nesse momento em que a gente vai falar sobre um assunto tão delicado, que é a menopausa, que a gente realmente preste atenção uma nas outras e a que gente troque informações. Só dessa maneira é que a gente vai sair do limbo.”

Os sintomas vasomotores – onde se inserem os chamados afrontamentos/ondas de calor - foram um dos principais sintomas experienciados pela atriz durante a menopausa. “Vou passar metade da minha vida passando mal? A jogar o marido pela janela?”, disse, entre risos, ao recordar sobre a forma como se sentiu durante esta fase da sua vida e um dos episódios que fizeram com que procurasse ajuda. A atriz brasileira rejeita a noção de que a menopausa seja o fim da linha e acredita que, à semelhança do teatro, a menopausa “é o segundo ato da vida de uma mulher e que o segundo ato é sempre melhor do que o primeiro".

No Brasil foi das primeiras figuras públicas a falar abertamente sobre a menopausa nas suas redes sociais. Sete anos depois está em Portugal a fazê-lo para um público português e onde partilhou uma história que correu mundo: o facto de ter vivenciado a maternidade durante a menopausa e depois dos 50.

Tal como explica a atriz casada com Jarbas Homem de Mello, após uma tentativa de inseminação artificial falhada, as três menstruações consecutivas que se seguiram fizeram-na perceber que algo não estava bem com o seu corpo. “Você está louca?” foi a reposta que deu à sua ginecologista quando esta lhe disse que estava a ovular e que corria o risco de engravidar. “Foi naquela semana que engravidei naturalmente”, afirmou a bailarina que foi mãe pela terceira vez aos 56 anos. Dessa gravidez, nasceu um menino, Luca, que completou um ano em março. Contra todas as expectativas engravidou, deu à luz e amamentou durante a menopausa.

A conferência terminou com a gravação de um episódio, ao vivo, do podcast "Não Fica Bem Falar De… Menopausa e Envelhecimento", apresentado pela atriz Jessica Athayde e contou com Cláudia Raia como convidada.

A atriz brasileira aproveitou ainda este momento para apresentar, em primeira mão, o nome do seu próximo espetáculo. Com encenação e participação de Jarbas Homem de Mello, "Menopausa" é uma peça de teatro que vai passar por Portugal em janeiro de 2025 e irá explorar os principais desafios associados à maturidade feminina e menopausa.