Com a vacinação abaixo das expectativas em grande parte do mundo – menos de 10% das populações dos países de menores rendimentos receberam uma dose -, a Organização Mundial da Saúde (OMS) não prevê o fim da pandemia, alegando que as infeções continuam a avançar a duas velocidades.

“Só quando, a nível mundial, houver uma taxa de vacinação de pelo menos 80% da população é que iremos assistir a uma evolução para endemia”, segundo o virologista José Miguel Pereira à Lusa.

Uma pandemia é declarada pela OMS quanto é detetada uma epidemia em mais do que dois continentes, evoluindo para uma endemia quando o número de doentes ou infetados ocorre de forma contínua e expectável numa área geográfica bem identificada.

De acordo com o investigador da Unidade da Interação Hospedeiro-Patogeno do Instituto de Investigação de Medicamentos (iMed.ULisboa) da Universidade de Lisboa, a única forma de evitar o processo de replicação do SARS-CoV-2, que gera mutações do vírus, é “através de uma campanha de vacinação à escala mundial em que todos as regiões geográficas sejam contempladas com o esquema vacinal completo”.

Enquanto isso não acontece, as atenções estão centradas na variante Ómicron, identificada pela primeira na África Austral e classificada como de preocupação pela OMS em novembro, tendo sido já detetada em pelo menos 77 países, incluindo Portugal.

Para o farmacêutico José Aranda da Silva, antigo presidente do Autoridade Nacional do Medicamento (Infarmed), 2022 poderá ser também o ano em que chegarão ao mercado os primeiros tratamentos antivirais específicos para a covid-19.

“É expectável que sejam aprovados no próximo ano os primeiros antivíricos com eficácia específica significativa”, salientou à Lusa ex-bastonário da Ordem dos Farmacêuticos.

De acordo com Aranda da Silva, além do aperfeiçoamento das vacinas para responder às novas variantes, começa a desenhar-se uma nova geração com proteínas (peptídeos) que “atuarão de forma mais eficaz e com maior estabilidade”.

À entrada do terceiro ano de pandemia, os dados parecem indicar que a covid-19 tem características sazonais, com duas ondas anuais no inverno e no verão, estando a começar a vaga do inverno do próximo ano.

Ao nível da vacinação, no final do primeiro trimestre do próximo ano ficará concluída a vacinação das mais de 600 mil crianças entre os 05 e os 11 anos e deverá avançar a dose de reforço por faixas etárias decrescentes, nos grupos dos maiores de 50 anos.

O próximo ano deverá ainda colocar em evidência a situação das pessoas que recuperaram da infeção, mas que permanecem em situação debilitante, devido ao chamado “longo covid” e que apresentam sintomas como fadiga, falta de ar e disfunção cognitiva.

Dados da associação Long Covid Europe estimam que pelo menos 10% dos infetados – cerca de 120 mil pessoas no caso de Portugal - continuam a apresentar sintomas debilitantes graves por mais de seis meses, o que obriga os serviços de saúde também a dar resposta a estes casos.

A OMS já adiantou que são necessários cerca de 20 mil milhões de euros para apoiar os países menos desenvolvidos a combater a pandemia no próximo ano, um plano para evitar cinco milhões de mortes e vacinar 70% da população mundial até meados de 2022, um objetivo que os especialistas consideram essencial para controlar o ritmo de infeções.