“Num momento dominado pela discussão sobre as alterações climáticas a nível global e o efeito destas na vida das pessoas, é crucial olharmos para o seu real impacto quando relacionadas com a diabetes. Desta forma, poderemos contribuir para a discussão de intervenções a nível pessoal, comunitário, governamental e político que ajudem a mitigar o crescente risco global para a saúde pública causado pelos fatores ambientais”, explica Rogério Ribeiro, investigador da Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal (APDP).
Segundo a Federação Internacional de Diabetes, cerca de 10,5% dos adultos em todo o mundo, mais de 500 milhões de pessoas, vivem com diabetes tipo 2, e quase metade não sabem que têm a doença. Até 2045, estima-se que 783 milhões de pessoas terão diabetes tipo 2. Em causa estão fatores como hábitos sedentários, alimentação pobre em nutrientes e a exposição crónica a poluentes no ar, no solo e na água, existindo fortes evidências de que a poluição do ar é de longe o fator de risco ambiental mais dominante para a saúde em geral e é responsável por mais de 9 milhões de mortes anuais em todo o mundo.
Uma revisão publicada recentemente na revista The Lancet Diabetes & Endocrinology, revela que um estudo sobre a Carga Global de Doenças estimou que um quinto dos casos de diabetes tipo 2 a nível mundial é atribuível à exposição crónica a partículas em suspensão com um diâmetro de 2,5 μm ou menos.
Atualmente, 99% da população mundial reside em zonas onde os níveis de poluição atmosférica estão acima das atuais diretrizes de qualidade do ar da OMS. “Existe, por isso, uma preocupação crescente relativamente aos fatores comuns da poluição atmosférica e das alterações climáticas e uma necessidade premente de compreender a ligação entre a poluição atmosférica e as doenças cardiometabólicas, de forma a delinearmos uma estratégia para lidar com este fator de risco evitável”, acrescenta o investigador.
“Além disto, a interação da diabetes com o ambiente vai ainda mais longe. Tem sido evidente na literatura científica dos últimos anos que as amplitudes térmicas extremas influenciam também a mortalidade das pessoas com diabetes”, acrescenta, rematando: “Por exemplo, foi observado que 3% das mortes de pessoas com diabetes e doença renal crónica em Portugal foram causadas pelas temperaturas extremas, tendo as temperaturas baixas um efeito mais prejudicial nos anos de vida perdidos”.
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