Alguns destes equipamentos, aprovados e certificados pelas entidades reguladoras, possuem tecnologia com capacidade de realizar uma tira eletrocardiográfica de 30 segundos, permitindo a deteção de fibrilhação auricular. É, contudo, importante ressalvar que apesar das leituras pelos smartwatches serem muito fiáveis, carecem sempre de validação por um médico! Ou seja, não basta ter o smartwatch, tem também que ir ao médico para analisar a sua situação clínica.
A fibrilhação auricular é a arritmia mantida mais comum, pode ocorrer sem qualquer sintoma, mas é mais frequente manifestar-se por sensação de que o coração bate rápido e de forma irregular.
Trata-se de situação evolutiva. Inicialmente é intermitente, mas se nenhuma medida for tomada, a arritmia tornar-se-á constante e irreversível.
Para além de redução da qualidade de vida, acarreta risco elevado de desenvolvimento de insuficiência cardíaca (enfraquecimento do coração), demência e de acidente vascular cerebral.
O tratamento é individualizado e inclui sempre três vertentes: a prevenção de acidentes vasculares cerebrais, o controlo da arritmia em si, e a correção de situações clínicas que potenciam a sua recorrência.
O seu médico irá avaliar se há ou não indicação para iniciar medicação para evitar a formação de coágulos, prevenindo assim os acidentes vasculares cerebrais.
Quando de curta evolução, a fibrilhação auricular deve ser silenciada (restaurando o ritmo normal), em especial se causa muitos sintomas com impacto na qualidade de vida. Para tal recorre-se a fármacos e/ou intervenções, nomeadamente a ablação, que é uma estratégia eficaz e segura, amplamente difundida, devendo ser ponderada o mais cedo possível, em especial se a arritma for recorrente, para garantir um sucesso maior e mais sustentável. Nos casos em que a arritmia já não é reversível ao ritmo normal, existe terapêutica para minimizar os sintomas associados.
Deverão igualmente ser pesquisadas outras condições clínicas concomitantes (comorbilidades), que potenciam a recorrência da arritmia, tais como a hipertensão arterial, a diabetes ou a apneia do sono, entre outras, que deverão ser rigorosamente controladas.
No dia-a-dia deverá englobar a prática de exercício físico regular, uma alimentação equilibrada, pobre em sal e gorduras, não fumar e evitar o consumo excessivo de álcool vão reduzir o risco de recorrência da arritmia e potenciar todas as opções terapêuticas.
O sucesso terapêutico desta arritmia depende não só do seu diagnóstico e abordagem terapêutica precoces, mas também do envolvimento do doente na adoção de comportamentos saudáveis e cumprimento consciente e informado dos tratamentos propostos.
A validação da presença de uma arritmia, ainda que detectada pelo smartwacth, deve ser sempre feita pelo médico para que possa analisar toda a situação clínica.
Um artigo de Sérgia Rocha, Assistente Hospitalar Graduada Cardiologia e SubEspecialista em Eletrofisiologia Cardíaca e responsável pelo Laboratório de Eletrofisiologia da ULS de Braga.
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