Fontes energéticas
“O golfe é um tipo de atividade que se caracteriza como um exercício de características aeróbias de baixa intensidade com uma forte metabolização lipídica. Esta baixa intensidade é intercalada com movimentos que alternam entre a baixa velocidade e elevada precisão, e gestos em que a potência mecânica externa é máxima. O praticante de golfe tem de percorrer, em marcha, uma distância que, dependendo do campo, pode chegar aos 8 ou 9 km. Toda esta distância é percorrida a baixa velocidade exigindo um reduzido impacto fisiológico.”

Curiosidade: 18 Buracos – intensidade média 38% VO2 max (indiv. Meia-idade), 4-6 Kcal/ min, aprox. 960 Kcal.;

Solicitação Muscular
São bastantes os músculos solicitados no Golfe. Devido ao movimento de rotação do corpo, toda a musculatura acaba por ser solicitada, desde os pés até à cabeça. De forma fásica, numa primeira fase (no backswing) uns como agonistas, outros como estabilizadores e frenadores alterando a ordem quando se inicia o forwardswing, passando os primeiros a ser frenadores no movimento.

Assim, todas as musculaturas são solicitadas numa determinada ordem sequenciada, que permitirá realizar o movimento de forma fluída e sem sobrecarga de esforço nas estruturas musculares e articulares.

Treino Cardiorrespiratório
Dada a solicitação energética acima referida, a componente base que deverá ser mais treinada será o sistema aeróbio. Uma vez que o golfe se caracteriza por uma modalidade de longa duração,18 buracos, cerca de 3 a 4h a andar a pé, o método de treino contínuo uniforme extensivo parece ser o mais adequado. No entanto, sendo uma atividade que também solicita potência máxima, também o sistema cardiorrespiratório deverá estar preparado para esse estímulo, podendo ser aplicado, por exemplo, o método de treino Intervalado Intensivo Curto (Exemplo: picos de 10 segundos de esforço máximo, para 2 minutos de intensidade muito mais baixa)

Outros protocolos de treino também deverão ser utilizados, consoante o tipo de terreno de jogo e de forma a criar diferentes estímulos ao indivíduo, promovendo assim uma melhor condição cardiorrespiratória.


Treino de Força

O Golfe solicita as três formas de força; isométrica (estática), quando solicitada a estabilização do tronco em determinada posição; Isotónica Concêntrica e Excêntrica solicitada nos movimentos de rotação do corpo durante o Backswing, Forwardswing, e FollowThrough.

As formas de manifestação da força mais evidentes nesta modalidade são a força resistente, pela necessidade de estabilização e precisão e pela continuidade e repetição do esforço, e a força rápida explosiva, aplicada nas tacadas iniciais em que a bola se encontra a uma grande distância do buraco.

O treino deverá então ter em conta o fortalecimento da musculatura estabilizadora das cinturas escapular e pélvica, bem como os restantes grupos musculares em termos de produção de força concêntrica e excêntrica.

É importante fortalecer de forma individual e isolada (se necessário) as musculaturas, para corrigir desequilíbrios e fragilidades, mas é essencial que se integrem esses mesmos músculos em movimentos poliarticulares complexos, promovendo a organização e sincronização do movimento e aproximando o mais possível ao movimento real.

“Dado que o gesto repetido leva a uma sobre solicitação (de determinados) músculos (..) sugere-se que, no ginásio, o golfista realize exercícios de compensação de forma a manter um bom equilíbrio muscular. Ou seja, se no gesto técnico são privilegiados os músculos extensores, com particular incidência dos rotadores internos e adutores (músculos que permitem a rotação interna do ombro e o movimento para dentro), o treino fora do campo deverá incidir na solicitação dos rotadores externos e abdutores (musculatura responsável pela rotação para fora do ombro). Só assim o jogador manterá um balanço muscular que se sabe ser decisivo para a prevenção das lesões de sobreuso. Ainda que haja a tentação de realizar no ginásio exercícios que se assemelhem biomecanicamente ao gesto específico (exercícios funcionais), não deveremos esquecer movimentos opostos aos solicitados nos movimentos mais utilizados. (…)

Na prática, em ambiente de ginásio, na sua forma mais básica, devem ser trabalhados os movimentos em sentidos opostos aos solicitados em campo, como forma de promover o equilíbrio muscular e que se treine o lado não dominante a “simular” o movimento em campo. Um dos principais erros na preparação passa por potenciar os músculos que realizam o movimento em campo, sem trabalhar os músculos opostos, que desaceleram o movimento.

Alongamento
O alongamento muscular promove a reorganização das fibras musculares, melhora a circulação sanguínea e nutrição dos tecidos (o que ajuda na recuperação muscular), potenciando o desempenho do movimento.

Para além do alongamento de todas as musculaturas envolvidas de forma direta no movimento, é de extrema importância o alongamento dos músculos isquiotibiais, glúteos e psoasilíaco pois estes interferem diretamente com a estabilização da coluna lombar.

Em relação ao alongamento, é muito frequente a sua negligência por parte dos praticantes, conduzindo mais tarde a estados de contraturas e encurtamentos musculares.

Glossário
Backswing – movimento que se faz no sentido oposto ao qual a bola vai ser batida
Forwardswing - movimento feito no sentido de acertar na bola
FollowThrough – continuação do movimento após bater a bola
Força Isomética – de uma força muito simples, podemos considerar uma força estática, com o objetivo de estabilizar
Força Isotónica Concêntrica – contração dinâmica do músculo em que se gera maior tensão e encurtamento o musculo
Força isotónica Excêntrica - contração dinâmica do músculo em que apesar de gerar tensão,ocorre um estiramento musculo
Cintura Escapular – conjunto de ossos e articulações (omoplata, úmero, clavículas e externo). De uma forma simples, podemos falar do ombro e da sua relação com o tronco.
Cintura pélvica – conjunto de ossos e articulações da bacia (fémur, osso ilíaco, sacro). De uma forma simples, podemos falar da bacia e região lombar

Bibliografia:
• Mazzeu, P.; Prevenção de lesões aplicadas ao Golfe
• Borja. E., Planeamento do treino funcional (documento não editado), IHP Europa 2010
• Soares, J., Contributos Originais para uma Prática Saudável do Golfe, 2008. Fundação Portuguesa de Cardiologia e & Federação Portuguesa de Golfe
• Murase Y, Kamei S, Hoshikawa T., Heart rate and metabolic responses to participation in golf,J Sports Med Phys Fitness. 1989 Sep;29(3):269-72.

Edgar Borja
Personal Trainer Holmes Place Alvalade