Alguns chegam mesmo a recusar esta possibilidade, nomeadamente alguns familiares e até professores, menos informados sobre o assunto. Quando tal acontece, a criança que já está a sofrer das dores e incapacidade causadas pela sua doença, vê o seu sofrimento agravado pela incompreensão daqueles que lhe são próximos e que mais a deveriam ajudar, apoiar e a levar a superar as suas dificuldades.
É contra este estado de conhecimentos que a Sociedade Portuguesa de Reumatologia Pediátrica tem a obrigação de lutar, divulgando entre toda a população Médica, e não só, conhecimentos sobre as doenças reumáticas da criança, sua importância particular num ser em desenvolvimento e suas repercussões possíveis a médio e longo prazo, não esquecendo nunca quais as melhores maneiras de ultrapassar as dificuldades que se vão levantando às crianças atingidas pelas doenças reumáticas juvenis e suas famílias.
Mas as crianças também sofrem de doença reumática?
Esta é frequentemente a primeira dúvida a surgir. As doenças reumáticas são muitas vezes encaradas como “doenças dos velhos” por algumas das mais frequentes dentre elas, como as Artroses e a Osteoporose, aparecerem geralmente em indivíduos mais idosos, geralmente após os 50-60 anos de vida.
Mas, nem tudo o que parece é, e as doenças reumáticas inflamatórias mais graves surgem frequentemente em grupos etários mais baixos, habitualmente em idade inferior aos 30 anos, e muitas vezes os primeiros sintomas surgem na infância e adolescência, como é o caso das doenças reumáticas juvenis.
Entre estas estão as Artrites Idiopáticas Juvenis (AIJs), grupo de doenças crónicas da infância e adolescência que atingem cerca de 1/1000 jovens deste grupo etário (idade < 16 anos). As AIJs são um grupo heterogéneo de doenças reumáticas juvenis que têm casos de Artrite Reumatoide, de Artrite Psoriásica, de Espondilartrites juvenis, de doença de Still, de artrites associadas à Doença Inflamatória do Intestino, entre outras.
Sendo das doenças graves mais frequentes neste grupo etário, o seu diagnóstico e tratamento adequados pode permitir curar a doença ou minimizar as suas consequências, permitindo a cura ou o crescimento normal e a entrada na idade adulta com as mesmas oportunidades académicas e profissionais dos indivíduos saudáveis do mesmo grupo etário.
Mas muitas outras doenças reumáticas podem atingir as crianças e adolescentes, como por exemplo, os Síndromas Auto-Inflamatórios, o Lúpus Eritematoso Sistémico, a Dermatomiosite juvenil, as Esclerodermias juvenis, entre outras, o que justifica plenamente a existência desta sub-especialidade Médica da Reumatologia e da Pediatria.
Se a criança tem uma doença crónica, isso significa que vai ser para toda a vida?
Quando os médicos classificam uma doença como crónica, tal significa apenas que a doença não dura apenas alguns dias ou uma ou duas semanas, caso em que as doenças são classificadas como agudas.
Habitualmente, as doenças reumáticas são consideradas crónicas quando a sua duração é superior a 6 semanas. Por isso, dizer-se que uma doença reumática é crónica significa apenas que não vai durar apenas alguns dias. Se a doença durar três meses já será uma doença crónica, e não durará toda a vida da criança.
Mesmo nas doenças mais graves, que por vezes duram mesmo muitos anos, é possível obter períodos longos de bem-estar e ausência total ou quase total de sintomas.
Mas, se a doença é crónica e não tem cura, será que tem tratamento?
Muitas vezes confunde-se doença crónica com doença sem cura e sem tratamento, o que felizmente, não é verdade.
Embora muitas vezes não seja possível ao médico assegurar a cura destas doenças, muitas delas curam antes da criança atingir a idade adulta e, mesmo quando não curam, é possível tratar as crianças de forma a minimizar os efeitos da doença e permitir que a criança cresça e se desenvolva como adulto.
Mas tratamento destas doenças não significa apenas medicamentos! Há exercícios que a criança ou o jovem doente deve aprender a fazer no dia-a-dia e outras medidas que devem ser conhecidas e aplicadas.
O tratamento de qualquer doença crónica exige doentes motivados e com conhecimentos sobre a sua doença e sobre a melhor maneira de a combater e de com ela “conviver”, tirando o máximo partido das suas capacidades e minimizando eventuais incapacidades ou dificuldades
A existência destas doenças que podem cursar durante grande parte da infância e adolescência das crianças e jovens por elas afectadas e a existência de tratamentos que permitem modificar muito o prognóstico e as repercussões funcionais, quando o diagnóstico é efectuado de forma precoce, tornam particularmente importante a criação desta sub-especialidade de Reumatologia Pediátrica no nosso País.
Através da formação Médica e da divulgação de conhecimentos sobre estas doenças reumáticas da infância e adolescência, temos a firme convicção de que estaremos a contribuir de forma importante para que muitos jovens sofrem menos e que, no futuro, muitos adultos possam viver uma vida feliz e produtiva, sem a repercussão de incapacidades que podem repercutir-se em toda a sua vida adulta.
Um artigo do médico J. A. Melo Gomes, reumatologista e reumatologista pediátrico e presidente da Sociedade Portuguesa de Reumatologia Pediátrica.
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