“É urgente abrandar, perceber exatamente aquilo que está a acontecer à nossa volta, o que está a acontecer dentro de nós. Stress, má alimentação, falta de cuidado com o corpo (…), a forma como vivemos, a uma velocidade tal que já nem passamos tempo com aqueles de quem gostamos”. Com estas palavras, Bárbara Taborda, faz a abertura do seu livro. Frases que não chegam desirmanadas de uma pergunta: “quem não quer envelhecer com qualidade?”

Na conversa que mantemos com Bárbara Taborda, especialista em envelhecimento saudável, tendo como mote o livro Slow Aging, um guia para uma vida longa, saudável e feliz (IN edições), procuramos algumas das respostas para a pergunta que, por certo, perpassa o espírito de todos nós. Envelhecer é um processo natural. O que não significa entregarmo-nos ao ritmo do tempo sem lhe dar luta com a “vitalidade e a “harmonia”.

Bárbara, fundou a sua primeira empresa de comunicação em 2001, no Porto, área onde trabalhou perto de 20 anos e dinamiza, atualmente, a rubrica “Be My Guest”.

À conversa, a empreendedora recorda-nos a sua história pessoal, de como após os 40 anos sentiu um decréscimo de energia, foco e disciplina. O nascimento do filho, o Benjamim (também é mãe de Constança), acrescentou noites mal dormidas ao quotidiano da ex-manequim. Muitas perguntas surgiram. A resposta resumiu-se a uma palavra “abrandar”. Bárbara decidiu “arrumar a casa”, o mesmo é dizer por ordem na mente, corpo e alma.

Criadora do Slow Aging Project, conceito que assenta no - slow aging, envelhecimento saudável – Bárbara tem um objetivo: levar as pessoas a sentirem-se mais enérgicas, realizadas, equilibradas, confiantes, felizes e bonitas em todas as fases das suas vidas. Uma meta, mas também o início de um novo caminho que deve conciliar saúde, nutrição, cozinha, desenvolvimento pessoal, desporto, ioga e beleza.

“De que vale uma vida longa sempre doentes e à espera da morte?” – Bárbara Taborda
créditos: Teresa Aires/IN Edições

Atualmente, dispomos de inúmeros meios e recursos para melhorar as nossas vidas. Paradoxalmente, vivemos em permanente stress e ansiedade. Não lhe parece um paradoxo?

É verdade. Passámos a viver a um ritmo alucinante. O mundo tecnológico trouxe isso, tal como trouxe o acesso rápido à informação ou desinformação, como costumo dizer. As pessoas estão tão ocupadas em cumprir com as exigências da sociedade que só param quando não aguentam mesmo mais. E só nessa altura começam a procurar ferramentas para recuperar, quando isso devia fazer parte de uma higiene mental e física diária.

As pessoas estão tão ocupadas em cumprir com as exigências da sociedade que só param quando não aguentam mesmo mais.

Em determinado momento da sua vida, a Bárbara parou para pensar no caminho que trazia e aquele que queria futuramente. O que a fez parar e pensar sobre si e as suas metas?

Sei exatamente qual foi esse momento, porque veio com o nascimento do meu segundo filho, o Benjamim. Fui obrigada a desacelerar e nesse momento, quando abrandei do ritmo frenético da minha vida, em que nem tinha tempo para refletir, muita coisa veio ao de cima.

Certamente que nesse momento de paragem terá colocado algumas perguntas a si mesma. Que perguntas fez?

A primeira pergunta foi o que realmente era importante para mim, e como gostava que fosse a minha vida dali para a frente. Sentia-me cansada, sem energia mental e física, sentia-me sem foco, sem grandes objetivos e isso era o sinal que algo tinha de mudar.

“De que vale uma vida longa sempre doentes e à espera da morte?” – Bárbara Taborda
Bárbara Taborda com Vèronique Lefort. créditos: Alex Costa/IN Edições

Da reflexão à ação, o que mudou na vida da Bárbara a partir do momento em que inicia um novo caminho?

Sempre fui uma pessoa que cuida de si. Fazia desporto e não era muito amiga do açúcar. Mas precisava de abrandar e de ter uma alimentação que me desse mais energia. Comecei a praticar ioga e meditação. Passei a ter uma alimentação consciente, ou seja, escolho os alimentos dos quais vou tirar partido nutritivo e energético. Desapeguei-me de coisas que já não eram importantes. Coloquei-me em primeiro lugar. Aprendi a começar a dizer não quando devia dizer.

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O seu livro fala-nos de slow aging. É o mesmo que dizer um método para retardar o envelhecimento?

Um método para envelhecer com qualidade, vitalidade e em harmonia. Esses são os pontos mais importantes. De que vale uma vida longa sempre doentes e há espera da morte? Esse tem de ser o nosso primeiro pensamento. Atualmente, com uma boa alimentação, meditação e exercício físico, os pilares fundamentais, isso é totalmente possível. Depois, tudo vem como consequência, a aparência mais jovem, a sensação de plenitude e a energia.

Passei a ter uma alimentação consciente, ou seja, escolho os alimentos dos quais vou tirar partido nutritivo e energético.

Quando pensamos em atrasar o envelhecimento, ocorre-nos a questão da aparência. Contudo, tal como a Bárbara refere, não basta cuidar do exterior, há que “mimar” o interior. A que aspetos devemos prestar atenção?

Mimar e muito. Hoje a alimentação da maioria das pessoas é assente em alimentos processados que só geram inflamação e doenças. Se ao invés disso, tivermos uma alimentação rica em vegetais, frutas, boas proteínas e bons hidratos, sendo o menos processados possível, isso reflete-se na pele e no corpo. Podem até comprar o creme mais caro do mercado, mas se a alimentação não for boa, ele não vai sequer ser devidamente absorvido pela pele. O mesmo se aplica à ingestão de água. Se não bebermos muita água - porque sem hidratação as células têm dificuldade em se regenerar -, e se não fizermos atividade física a nossa ‘máquina’ também fica ferrugenta e, logo, vai passar o tempo na ‘oficina’.  O exterior é um reflexo do nosso cuidado interior, do nosso amor próprio.

“De que vale uma vida longa sempre doentes e à espera da morte?” – Bárbara Taborda
Henrique Sá Pessoa com Bárbara Taborda. créditos: Alex Costa/IN Edições

A Bárbara chamou ao seu livro personalidades de diferentes áreas. Quem vamos encontrar?

Alguns dos especialistas que eu mais considero, de áreas da máxima importância para o conhecimento das pessoas nesta jornada de cuidado e de bem-estar. No livro encontramos o contributo de Manuel Pinto Coelho, médico que pratica uma medicina funcional e que se foca em ajudar os pacientes a viver com mais qualidade. O Hugo Madeira nos cuidados da saúde oral. A Ana Garcez uma especialista em nutrição integrativa - para mim a melhor -, ensina-nos a iniciarmos uma alimentação consciente e realmente nutritiva em que usamos o alimento como medicamento. A Jaquelina Amado, psicóloga e coach, ajuda-nos com as ferramentas certas para agirmos e cuidarmos da nossa saúde mental.

Encontra outros contributos, como a Carolina Peral, no ioga; o Nuno Mendes no exercício físico, o Filipe Silva, a Véronique Lefort e o Eugénio Violante na área da beleza, o Henrique Sá Pessoa e a Samya Bruçó na cozinha. Todos eles contribuíram para que fosse possível criar esta ‘bíblia’ com todas as ferramentas para um envelhecimento saudável.

Hoje a alimentação da maioria das pessoas é assente em alimentos processados que só geram inflamação e doenças.

Atualmente, temos a possibilidade de prolongar a nossa vida, fruto dos fármacos e tratamentos disponíveis. Contudo, como já referiu, mais vida não significa qualidade de vida. A que aspetos da saúde devemos estar atentos para prevenir ao invés de remediar?

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Aos pilares da alimentação e do exercício físico, acrescento o cuidado da saúde mental, algo extremamente importante.  Se a cuidarmos com meditação, passarmos algum do nosso tempo em contacto com a natureza, desligarmos da tecnologia e dormirmos bem vamos evitar muitas doenças. O stress e as nossas emoções têm um grande impacto nas nossas células e geram muitas doenças como o cancro e doenças cerebrais degenerativas. É bom que se tenha consciência disso.

Outra dica muito importante, é cuidarmos do intestino. É nele que reside a nossa imunidade e onde se produz a nossa serotonina que nos dá a sensação de bem-estar e felicidade. Tomarmos probióticos diariamente para providenciarmos boas bactérias ao nosso intestino é fundamental, tal como evitar os alimentos processados e inflamatórios como os refrigerantes, bolos, salgados, açúcares refinados e lácteos que só nos vão agredir e levar-nos à doença.

“De que vale uma vida longa sempre doentes e à espera da morte?” – Bárbara Taborda

A Bárbara já se referiu à alimentação. Como sabemos, também somos aquilo que comemos. Segue alguma dieta restritiva ou prefere praticar uma alimentação equilibrada sem privações?

Tendo a consciência do que os maus alimentos fazem ao meu corpo e o tipo de doenças que geram, tenho uma dieta nutritiva, carregada de bons nutrientes para o meu organismo. Não como alimentos com glúten, lácteos e açúcares refinados, mas tenho implementado em casa o ‘cheat day’, ou seja, uma vez por semana, podemos fazer as asneiras que quisermos, comer uma pizza, beber vinho, comer uma sobremesa doce, de resto tentamos seguir à risca a alimentação consciente.

É possível cuidar da pele, cabelo, sem despender uma soma elevada em cosmética?

Claro que sim. A natureza oferece tudo o que precisamos. No livro tem algumas receitas. Por exemplo, azeite com sal ou açúcar é um excelente esfoliante que elimina as células mortas e ainda hidrata a pele. Uma máscara de banana e aveia vai nutrir o cabelo. Existem dezenas de alternativas, é só procurar.

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créditos: IN Edições

Nos nossos dias atarefados como conseguimos arranjar tempo e paz para cuidarmos da nossa saúde mental e emocional?

“Não tenho tempo” é uma frase que ouço imenso e isso é igual à falta de amor próprio que muitas vezes demonstramos. O amor próprio é, nada mais nada menos, do que a disciplina e o compromisso connosco. Se não dedicar 30 minutos por dia a mim, tenho de perceber que algo está mal. É mentira dizermos que não temos tempo, porque todos temos. Todos temos momentos em que paramos, que estamos no online a acompanhar o que se passa no mundo ou que vemos televisão. Por exemplo, acordar 30 minutos mais cedo e cuidar de si. Não havendo tempo, façam a meditação em dez minutos, mas façam.