“Saí do Douro para vir para cá e criar um projeto diferenciador de algo que não é comum aqui em Montalegre, que é o vinho”, afirmou Francisco Gonçalves.
O enólogo deixou uma empresa ligada ao setor do vinho do Porto, onde trabalhou durante 15 anos, e quis apostar na terra natal, desenvolvendo o projeto Mont’Alegre em conjunto com o irmão, Paulo Gonçalves.
Em plena pandemia de COVID-19, fizeram a primeira vindima naquela que dizem ser a vinha mais alta de Portugal, plantada a 1070 metros de altitude.
“Chamaram-nos de loucos porque era quase impossível fazermos isto, contudo, este ano, já fizemos a nossa primeira colheita, muito pequenina. Chegámos a fazer cerca de 250 litros de vinho”, referiu.
Agora, preparam-se para construir um centro de vinificação, na zona industrial de Montalegre, que querem ter em funcionamento na vindima do próximo ano.
Montalegre não é um território tradicional de vinho. É o município mais a norte do distrito de Vila Real onde neva com alguma regularidade e o frio é intenso.
Mas, para Francisco Gonçalves, este território pode ser um “centro de oportunidades”.
“Através das mudanças climáticas que têm existido, acreditamos que este poderá ser, aqui, um caminho diferenciador na área do vinho”, sustentou.
Os vinhos Mont’Alegre são produzidos a partir de uvas das zonas de Chaves, Macedo de Cavaleiros e Mogadouro, sub-regiões de Trás-os-Montes. São vinificados no local de origem e, depois, levados para “estagiar em altitude” em Montalegre.
A partir do próximo ano, os vinhos passam a ser também vinificados neste concelho. Ao longo dos próximos anos prevê-se também o aumento da produção na vinha local.
“Criamos um conceito que já é seguido em outras zonas de altitude do mundo, como o Chile ou a Argentina, em que se produz o vinho e depois se leva para zonas mais altas”, referiu.
E, pelo facto de estarem a 1.000 metros de altitude, o enólogo aponta características diferenciadoras destes néctares a “nível aromático”, dos vinhos “mais elegantes” e “mais frescos”.
A pandemia trouxe dificuldades às vendas e, por isso, Francisco Gonçalves referiu que, neste momento, a aposta incidiu “um pouco mais sobre as exportações”.
Com uma produção média anual de 100.000 garrafas, as exportações representam 28% do negócio e os principais mercados são os Estados Unidos da América, França, Alemanha, Itália, Brasil e Canadá.
O trabalho está também a ser feito em conjunto com os distribuidores e, apesar de ainda não terem um canal ‘online’, também têm tido “muita procura” no ‘site’ da empresa, fazendo a entrega das encomendas.
“Percebemos que, realmente, o paradigma está a mudar. Este conceito do ‘online’ está muito mais ativo e possivelmente será o futuro”, salientou.
O projeto de vinhos dos dois irmãos complementa-se com a unidade de turismo Casa da Avó Chiquinha e a Taverna do Mercado, que, neste verão, foram muito procurados por visitantes que, por causa da pandemia, procuraram preferencialmente o Interior, o Parque Nacional da Peneda Gerês e o Património Agrícola Mundial, distinção atribuída ao Barroso (Boticas e Montalegre).
Francisco Gonçalves afirmou que, apesar da interioridade, da distância e das dificuldades acrescidas, é neste território que “querem fazer a diferença” e referiu que, em cinco anos, concretizaram um investimento de cerca de “1,5 milhões de euros”.
Em 2018, Mont’Alegre Clássico Tinto 2015 foi considerado um dos 100 melhores vinhos do mundo na categoria melhor compra pela Wine & Spirits. Em 2020 volta ao “top 100″ da revista, agora, com um vinho branco.
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