Apesar de não ser de hoje, a expressão “informação é poder” ganha no presente um peso e alcance compreensível. Nunca na história humana dispusemos de tanta e tão acessível informação. Porém, e recorrendo a uma outra expressão de uso quotidiano, “mais pode ser menos”. O mesmo é dizer que face à abundância de informação, é lícito que nos sintamos perdidos, até mesmo baralhados. Esta questão pede especial atenção quando em causa está um tema sensível: a nossa alimentação e a sua relação com a saúde.

A maioria de nós preocupa-se com o que a comida contém, qual a sua origem e a cadeia de distribuição, de que forma influencia a nossa condição física e a dos que nos estão próximos, nomeadamente os nossos filhos. Para cada um destes itens, deparamo-nos com uma enormidade de informações, de fontes e de protagonistas. Todos estes itens acabam por convergir para um tópico essencial a Segurança Alimentar.

É neste contexto que campanhas como aquela lançada pela Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA) e os seus parceiros nos Estados-Membros da UE (ver caixa), nos trazem a segurança de encontrar num mesmo lugar informação esclarecedora e de base científica para inúmeros tópicos relacionados com a alimentação e saúde.

O que é a EFSA?

A Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA) é uma agência da União Europeia criada em 2002. Trabalha em estreita colaboração com cientistas de alto nível de toda a UE, que analisam, avaliam e aconselham sobre segurança alimentar e nutrição com base nos dados mais recentes. Para além da segurança e da nutrição dos consumidores, o trabalho da EFSA é também crucial para proteger os animais e o ambiente de quaisquer riscos associados à cadeia alimentar.

Anteriormente conhecida como #EUChooseSafeFood, a nova campanha #Safe2EatEU, apresenta-se com um compromisso, o de promover a sensibilização dos cidadãos europeus para a segurança dos alimentos e para tomarem decisões informadas nas suas escolhas alimentares.

Esta é uma iniciativa transversal a 18 países europeus, entre eles Portugal (a que se juntam a Roménia, Chéquia, Hungria, Grécia, Estónia, Croácia, Itália, Letónia, Chipre, Eslovénia, Espanha, Luxemburgo, Eslováquia, Áustria, Polónia, Irlanda, Macedónia do Norte). No nosso país a campanha faz-se em parceria com a ASAE.

sopa
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Facilitar o acesso a informação sobre segurança alimentar

A EFSA parte para esta campanha baseada em factos. Num estudo datado de 2023, em colaboração com a empresa de estudos de mercado IPSOS, quase 70% dos europeus manifestam interesse pela segurança alimentar. No entanto, cerca de 60% consideram a informação sobre segurança alimentar demasiado técnica e difícil de compreender.

Uma campanha que assenta em vários pilares

1. Doenças de origem alimentar

A reter: É importantíssimo seguir as regras básicas de higiene ao confecionar os alimentos, devendo os ovos e a carne ser cozinhados corretamente. A maioria dos casos de toxinfeção alimentar é causada por bactérias provenientes de alimentos crus que entraram em contacto com alimentos prontos a comer. 

Que alimentos comer para se ser saudável?

Na UE as autoridades nacionais de cada país fornecem aos consumidores orientações dietéticas com base nos alimentos para uma alimentação saudável. Trata-se de recomendações baseadas em dados científicos para a população em geral e para grupos como as mulheres grávidas e as crianças. Fornecem informações práticas, como os tamanhos das doses para diferentes alimentos e as doses diárias ou semanais recomendadas. As diretrizes variam de país para país, mas geralmente promovem o consumo de cereais integrais, fruta e legumes, frutos secos e sementes, leite e produtos lácteos com baixo teor de gordura, peixe e água. Costumam desencorajar o consumo de alimentos com elevado teor de gorduras saturadas, açúcares e sal em alimentos transformados.

Fonte: EFSA

A Salmonella é um tipo de bactéria que pode causar uma doença chamada salmonelose nos seres humanos. Todos os anos na Europa são registados mais de 91.000 casos de salmonelose.

Nos alimentos, a Salmonella encontra-se principalmente em ovos e carne crua de suínos, perus e galinhas. Pode ser transmitida aos humanos através de alimentos contaminados. Os sintomas da salmonelose humana incluem febre, diarreia e cólicas abdominais. Se infetar a corrente sanguínea, pode pôr a vida em risco.

Os cientistas europeus também analisam os riscos colocados por agentes patogénicos capazes de contaminar alimentos como a fruta, os produtos hortícolas, os cereais e as especiarias. A combinação de alimentos e agentes patogénicos que ocupa o primeiro lugar consiste em Salmonella e vegetais de folha comidos crus, seguida de Salmonella e vegetais de bolbo e caule, como a cebola e os espargos.

Doenças de origem alimentar
Doenças de origem alimentar

2. Técnicas corretas de manuseamento dos alimentos

A reter: Os alimentos são seguros quando são frescos e corretamente manuseados. Por seu turno, alimentos não seguros contendo bactérias, vírus, parasitas ou substâncias químicas prejudiciais podem causar mais de 200 doenças diferentes - desde diarreias a cancros, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Suplementos alimentares

Os suplementos alimentares ou dietéticos contêm ingredientes como vitaminas, minerais, aminoácidos, enzimas e extratos de plantas, tomados sob a forma de comprimidos, cápsulas, pós e líquidos. Podem ser comprados sem receita médica. Entre os suplementos alimentares comuns estão a vitamina D, a equinácea, o óleo de peixe e o cálcio, plantas, algas, fungos ou líquenes. Não são medicamentos e não se destinam a tratar nem a prevenir doenças. Na UE, são regulamentados como alimentos e não devem ser vistos como substitutos de uma dieta saudável e equilibrada. A maioria das pessoas não precisa de suplementos alimentares, uma vez que a sua alimentação lhes fornece os nutrientes de que necessitam, exceto a vitamina D. Em doses elevadas, algumas substâncias podem ter efeitos adversos.

Fonte: EFSA

As normas europeias e nacionais, apoiadas pela ciência, ajudam os agricultores, as empresas, os restaurantes e os consumidores a garantir que as suas refeições diárias são seguras.

A forma como os alimentos são manuseados é importante. Desde as compras até à confeção e ao consumo, existem dicas que pode seguir relativamente à conservação segura e a práticas de cozinha e higiene na cozinha que o ajudam a desempenhar o seu papel na segurança alimentar.

Os rótulos alimentares são uma fonte de ajuda, indicando o prazo de validade dos alimentos frescos e o valor nutricional dos alimentos transformados. Considere essas informações juntamente com outras coisas que são importantes para si, como o sabor, o custo ou a redução do desperdício alimentar.

Doenças de origem alimentar
Doenças de origem alimentar

3. Importância de ler os rótulos dos alimentos

A reter: A Comissão Europeia estima que até 10% dos 88 milhões de toneladas de desperdícios alimentares produzidos anualmente na UE estão relacionados com a marcação da data nos produtos alimentares. Só em Portugal, estima-se que são desperdiçados cerca de 1 milhão de toneladas de alimentos por ano.

Desta forma, a marcação de prazos nos alimentos, baseada na ciência, deve ser clara e correta nas embalagens. Uma melhor compreensão e utilização da marcação de datas nos alimentos pode ajudar a reduzir o desperdício alimentar na UE, bem como garantir a segurança alimentar.

Neste sentido, alguma vez se perguntou qual é a diferença entre os rótulos onde consta "Consumir até" e " Consumir de preferência antes de"? “Consumir até” refere-se à segurança dos alimentos, enquanto “Consumir de preferência antes de” está relacionada com a qualidade dos alimentos. Todos os alimentos pré-embalados devem ter rótulos informativos ao abrigo da legislação da UE. Aqui encontra informação pormenorizada sobre esta questão.

rótulos
rótulos

4. Promoção de práticas de redução do desperdício alimentar

A reter: Em 2021, os agregados familiares da UE geraram mais de metade do total de resíduos alimentares (54 % ou 70 kg por habitante). Cerca de 16 % são desperdiçados em restaurantes e outros estabelecimentos de restauração, bem como em pontos de venda a retalho, como supermercados e mercearias. O resto é desperdiçado durante a produção e o fabrico.

As alegações de saúde como “reduz o colesterol” nas embalagens são fiáveis?

Uma alegação de saúde é uma declaração sobre uma relação entre o alimento e a saúde. Por exemplo, pode sugerir que um dado alimento “reduz o peso corporal” ou “mantém a função muscular normal”. Por outro lado, uma alegação nutricional indica ou sugere que um alimento tem propriedades nutricionais benéficas, como “baixo teor de gordura”, “sem açúcares adicionados” e “elevado teor de fibras”. Em conjunto, os reguladores europeus e nacionais protegem os consumidores de informações inexatas ou enganosas relacionadas com os alimentos. Apenas podem ser utilizadas na rotulagem e na publicidade dos alimentos alegações nutricionais e de saúde que estejam devidamente autorizadas pela Comissão Europeia após avaliação científica da EFSA.

Fonte: EFSA

A UE comprometeu-se a ajudar a reduzir para metade, até 2030, o desperdício alimentar global a nível do retalho e dos consumidores e a reduzir as perdas de alimentos ao longo das cadeias de produção e de abastecimento alimentar.

Podemos fazer a diferença reduzindo os nossos resíduos alimentares e encorajando outros a fazerem o mesmo.

Em casa, podemos tomar medidas simples, mas eficazes, como o planeamento das refeições, o aproveitamento das sobras, a conservação adequada dos alimentos frescos e cozinhados e a distinção entre as datas “consumir até” e “consumir de preferência antes de” indicadas nos rótulos dos alimentos com base científica.

Do mesmo modo, há hábitos de compra conscientes, como escrever uma lista de compras e comprar apenas o necessário, que ajudam a minimizar o desperdício de alimentos nas lojas ou no mercado.

Doenças de origem alimentar
Doenças de origem alimentar

Também podemos fazer doações de alimentos a pessoas carenciadas através de pontos de venda a retalho e de instituições de beneficência.

Em síntese, o sistema de segurança alimentar da UE assegura que cada europeu tenha o direito de saber como os alimentos que consome são produzidos, transformados, embalados, rotulados e vendidos. Uma vez mais, há que recuperar a expressão “informação é poder”. Partilhe-a através das redes sociais e aceda a mais informação aqui.