Para o espaço que agora vai abrir no Time Out Market, João Rodrigues traz a sua identidade enquanto chefe e uma abordagem de respeito pelo produto nacional e sazonal, que tem vindo a desenvolver no Feitoria desde 2014.

O grande desafio será o de adaptar o tipo de cozinha que faz no Feitoria, onde serve cerca de 30 a 40 refeições por noite, à escala do mercado. “Pelo sítio onde está integrado este espaço – um mercado – o que vou fazer será cozinha de mercado, baseada no produto disponível da estação. Será uma comida cheia de sabor e simples, mas sempre de grande qualidade. E ainda que seja uma cozinha de escala, vamos trabalhar sempre com produtos orgânicos e portugueses e com respeito pelas estações”, acrescenta João Rodrigues.

A carta que o chefe de cozinha João Rodrigues vai apresentar no Time Out Market conta com pratos de carne, peixe, marisco, vegetarianos e sobremesas.

João Rodrigues começou a trabalhar na Bica do Sapato, integrou a equipa do restaurante Pragma (Casino Lisboa), passando ainda pelo Ritz. Em 2007 ganhou o prémio de "Chef Cozinheiro do Ano", tendo integrado em seguida a equipa que abriu o Feitoria, juntamente com o chefe Cordeiro. Em 2014, assumiu os comandos do Feitoria (estrela Michelin durante oito anos consecutivos), onde pratica uma cozinha de respeito pelo produto e produtores nacionais, segundo a sua sazonalidade.

Chefe de cozinha João Rodrigues, com uma estrela Michelin, chega ao Time Out Market
Chefe de cozinha João Rodrigues, com uma estrela Michelin, chega ao Time Out Market créditos: fabricedemoulin.com

Em casa, o pai sempre cozinhou muito — e bem. Caçador e pescador, tinha a natureza sempre à sua volta. O gosto de João Rodrigues pela cozinha começou aí, no interesse pelos legumes e pelos animais que lhe davam a provar. Não via a cozinha como uma profissão, mas a ideia acabou por surgir em conversa com a irmã. “Cozinhar permitia-me alcançar o estilo de vida que procurava, viajar e conhecer outras culturas”, conta o chefe de cozinha.

A cozinha, ao contrário do que se possa pensar, é mais do que se estar fechado dentro de quatro paredes. Inscreveu-se na Escola de Hotelaria de Lisboa, chamaram-no para umas provas e ficou. “Comecei a gostar imediatamente das aulas práticas e daquela ideia romântica que ensinam nas escolas sobre hierarquia e o amor pela farda”, explica.

Os estágios vieram a seguir, o primeiro na cozinha do Sheraton e o segundo na do Ritz. A partir daí, ficou apaixonado para sempre. Começou a trabalhar no restaurante Bica do Sapato em 2003, onde ficou três anos e meio. “Na cozinha do chefe Fausto Airoldi havia muita experimentação e muitos ecos do que se fazia em Espanha. Já tínhamos esboços de menus de degustação, o que, na altura, ainda não era prática corrente em Portugal. Foi uma experiência muito interessante”, diz Rodrigues.

De lá foi para o Hotel Ritz, passando de um restaurante que dava 130 jantares para outro que servia 20, onde trabalhou com os chefes de cozinha Stephane Hestin e Sebastien Grospelier, este último com duas estrelas Michelin.

Chefe de cozinha João Rodrigues, com uma estrela Michelin, chega ao Time Out Market
Chefe de cozinha João Rodrigues, com uma estrela Michelin, chega ao Time Out Market

Mais tarde, Fausto Airoldi convidou-o novamente para abrir um restaurante, desta vez no Casino Lisboa — naquele que terá sido um dos primeiros restaurantes de assinatura a levar o nome do seu chefe: Pragma de Fausto Airoldi (em 2006) — e só com menus de degustação. “Foi a libertação criativa porque não existiam barreiras, era experimentação pura”, desabafa.

Em 2007 participou e venceu o concurso de chefe cozinheiro do ano. Um dos jurados era o chefe Cordeiro, que acabou por convidar João Rodrigues para fazer a abertura do que viria a ser o Altis Belém. Entrou para o projeto em setembro de 2008 e abriu o Feitoria em fevereiro do ano seguinte. “Foi a minha segunda abertura e foi uma experiência que dura até hoje”, diz. No início, entrou para o lugar de chefe residente e, com a saída do chefe Cordeiro, em 2014, passou a ser o chefe executivo do hotel.

Os primeiros quatro anos do restaurante tiveram um caminho: a partir de então o Feitoria começou a seguir outro rumo, tornando-se o que é nos dias de hoje. João Rodrigues é ainda responsável pelo projeto Matéria que se irá materializar numa plataforma de pesquisa, catalogação e divulgação de produtos e produtores.