Sabe bem conduzir junto à linha de Cascais, assim como viajar no comboio urbano, fora das horas de ponta. Ainda assim, resistimos percorrer esta Estrada Marginal sem destino e quando temos um, nem sempre o cenário é animador: areais e restaurantes de praia lotados. A boa nova, pelo menos para alguns, é que há uma nova casa de pasto junto à linha: a Madrasta que, desta vez, é a boa da fita.
Aberta desde o passado dia 22 de março, a casa da Madrasta encontra-se no meio do Jardim Municipal de Paço de Arco, num edifício histórico dos anos 50 muito acarinhado pelos oeirenses e que oferece uma bela vista para o mar.
O nome, que nos remete para algumas das personagens más dos contos de princesa eternizados pela Disney, surge, segundo Marta Talhão, diretora de marketing do grupo Non Basta, para “desmitificar um bocadinho a ideia da madrasta má”.
“As famílias hoje em dia podem ser tudo e está tudo bem”, relembra. “Toda a gente conhece ou tem amigos que têm, de facto, uma madrasta e é uma coisa normal”, observa.
Deste modo, o grupo responsável pelo restaurante decidiu através desta figura, considerada em tempos como “outsider”, atualizar o conceito de família ao invés de nos remeter para uma ideia tradicional que não corresponde à realidade. Afinal, as famílias definem-se pelas relações entre os seus elementos e não por ideias pré-estabelecidas.
O espaço com cerca de 200 lugares, conta com duas salas interiores com ambientes distintos, uma esplanada e um rooftop. É caso para dizer que neste sítio, que se diz democrático, há sempre lugar para mais um.
O restaurante funciona em regime all day. Assim, pode parar na casa da Madrasta para almoçar, jantar, petiscar, comer uma pizza fora de horas ou beber um copo e ir com a família – seja ela como for –, amigos ou cara-metade. Na verdade, até pode ir com colegas de trabalho, fechar um negócio ou parceria.
“A população [local] adora este espaço, porque cresceram com ele e estava, realmente, nos últimos anos maltratado”, comenta Marta Talhão, explicando que demoraram quase três anos a restaurar a construção.
Apesar do tempo, Marta parece acreditar que valeu a pena. “O primeiro dia [de abertura] foi incrível”, recorda. “Eu estava aqui e quando abrimos foi uma enchente. As pessoas pareciam que vinham à romaria da Aldeia, é mesmo vir ver o quão especial é o espaço”.
Uma Madrasta que pensa em todos
“A nossa oferta [Non Basta] é muito direcionada para nós, para o país nacional, para os bairros, para as comunidades que circundam os restaurantes e aqui não poderia ser diferente”, explica a representante do grupo. “Queríamos que fosse democrático, que de facto agregasse o maior número de pessoas possível, que fosse interessante para realmente apelar um estrangeiro que venha e que queira comer umas ostras, uns petiscos portugueses ou uma massa, ou o que seja… Mas que as pessoas daqui também pudessem vir e aproveitar não só o almoço ou o jantar, mas poder vir aqui de tarde e comer uns pasteis de massa tenra…”, exemplifica.
Variedade, contemporaneidade, criatividade e referências tradicionais compõem a ementa deste novo spot. Nesta casa existem tanto pratos clássicos como Amêijoas à Bulhão Pato, o Prego do lombo, os Filetes de pescada com arroz de limão e grelos ou o Arroz de lavagante; como opções mais criativas, como o Cachorro de Lavagante, Salmão de cura caseira com leite de tigre, o “Bitoque” de cogumelos assados ou a Couve-flor assada com molho romesco.
O denominador comum em toda a carta são os ingredientes de alta qualidade. Em colaboração com a Semear (uma associação que promove a inclusão social para crianças, jovens e adultos com dificuldade intelectual e de desenvolvimento), o Non Basta criou a sua própria horta para poder cultivar e colher os seus ingredientes para que a qualidade seja sempre um fator primordial. Assim, os produtos que chegam à mesa do Madrasta, e dos restantes restaurantes do grupo, têm sempre selo de qualidade garantido.
O menu procura igualmente promover a partilha para que os clientes consigam explorar todos os espaços do restaurante no seu expoente máximo. Destacam-se ainda as pizzas de fermentação lenta (com consultoria de Luís Alvim), com uma massa leve e crocante, ideais para uma refeição rápida em qualquer momento do dia.
“Não podíamos pôr uma cruz na matriz italiana”, comenta Marta Talhão, acrescentando que os primeiros restaurantes do grupo eram apenas italianos. O facto do Non Basta ter uma cozinha de produção própria de onde, diariamente, são produzidas as massas frescas, os molhos e outras preparações para os seus restaurantes também terá contribuído para a inclusão de pizzas nas sugestões da casa.
Para além das pizzas, existem pratos de pasta fresca.
Um bar feito de memórias
Para Duarte Cardeira, bartender executivo da empresa, “Madrasta remonta logo a família” e, por isso, foi o mote para as suas criações que se inspiram naquilo “que comia ou bebia quando era mais novo” e no seu percurso profissional, uma vez que ambas as coisas são, para o bartender, casa.
Entre as sugestões da carta de Duarte, existe um twist de um Cuba Livre (o primeiro cocktail que bebeu quando saía à noite) e o Nonna Spritz com gin infusionado com marmelada e que tem como inspiração a sua avó.
A seleção de bebidas é ampla e vai desde cocktails clássicos até criações de autor, passando por vermutes, bebidas espirituosas e destilados. A pensar em quem não consome álcool, existem chás, kombuchas e as versões virgin dos cocktails.
A carta de vinhos é completa, com vários rótulos das diferentes regiões de Portugal, além de champanhes e vinhos franceses e italianos. Esta é uma colaboração com Pedro Ramos, ex-sommelier do Feitoria, que fez a consultoria dos vinhos que podemos encontrar no Madrasta. Já Nuno Pereira é o sommelier residente do Madrasta.
Um barco grande à conquista da linha
“Estamos a falar em quase 200 lugares, é muita coisa”, refere Marta. “E ainda há espaço para crescimento na esplanada. Portanto, é um barco grande, muito maior que qualquer outro dos nossos restaurantes”, adiciona.
O rooftop será o único espaço do restaurante totalmente novo. “Antes era um telhado”, revela. No verão, o terraço convida a cocktails, a refrescar após um dia, tarde ou manhã de praia. “É muito privilegiado [o Madrasta] nesse sentido”, conclui. “Para famílias que têm crianças é também incrível”, salienta pelo facto de existir um parque infantil mesmo à porta do restaurante.
Inês Moura é a autora do projeto de arquitetura e interiores. “Ela é muito criativa e ela própria vai buscar muitas inspirações que acredita que façam sentido. Aqui, inspirou-se muito na sinergia, precisamente entre o mar e o jardim”, partilha a diretora.
Comentários