Ana e Raquel Bento conheceram-se numa popular empresa de vernizes que deixou de operar em Portugal. A primeira Bento era advogada e a segunda engenheira química. "É uma história muito engraçada", diz-nos Ana.

"Estávamos naquela fase ou damos o salto agora ou não damos", partilha. Ana, que fazia assessoria jurídica na empresa de vernizes que acabaria por sair de Portugal, revela-nos durante a conversa que não se sentia completa na área da advocacia. "Não era aquilo que me preenchia", desabafa.

Foi então que decidiu, com Raquel, criar uma empresa de empresa de vernizes. E porquê de vernizes?

Em primeiro lugar, devido à experiência que haviam adquirido no trabalho anterior. Depois, porque perceberam que existia espaço no mercado. "Em Portugal, a única marca conhecida era a Andreia", indica, recordando que vinha da área de direito e que não percebia nada "de folhas de Excel" e de "contas". Conclusão, um começo de negócio desafiante.

"Foi muito complicado", comenta a antiga advogada.  "Éramos só as duas", afirma. "Era eu que andava de carro a bater à porta das lojas a apresentar a marca, com o catálogo que, na altura, nos tinha custado 25 euros na Office Center, desenhado por mim e por ela", conta com entusiasmo. "Tínhamos um único catálogo e andámos nas lojas todas e era: ah, não conheço, não quero".

onde é que nos fomos meter?

Deste modo, e segundo Ana Bento, os primeiros três anos da Inocos foram difíceis e não esconde que, muitas vezes, tiveram vontade de desistir. "Subsídio de Natal em dezembro? Não", explica. "Eu olhava para a Raquel e dizia: onde é que nos fomos meter? Não temos nem para ordenado quanto mais para subsídio".

O facto de ambas serem mães também fez com que sentissem ainda mais dificuldades. “Na altura [criação do negócio], tínhamos dois [filhos]. Agora já temos as duas três”.

Olhando em retrospetiva, a CEO não tem dúvidas de que a fase inicial foi muito desafiante, porém, diz-nos, “era aquela coisa: não desisto. Persisto, persisto e persisto”.

"O nosso grande salto foi em 2012, quando nós fizemos a parceria com a Pipoca Mais Doce" partilha com o SAPO Lifestyle. “Fizemos uma edição de vernizes com ela”, recorda. “Correu super bem”, finaliza.

Hoje, somos 32 pessoas e já exportamos

Foi assim que Ana e Raquel descobriram uma fórmula de sucesso. Depois de colaborarem com a Pipoca, trabalharam em modo de parceria também com Raquel Strada e com Maria Vaidosa (Mafalda Sampaio). "Também íamos fazer com a Cristina Ferreira, mas o valor que ela pedia na altura... não tínhamos capacidade", confidencia, admitindo que hoje o valor "não é nada". Na época, "éramos duas", enquadra. "Hoje, somos 32 pessoas e já exportamos".

Ainda que o mercado principal seja Portugal, a Inocos exporta atualmente para Espanha, França, Marrocos, Suíça, Luxemburgo, Angola e Bélgica e é comercializada através de mais de 300 revendedores.

"Tudo o que é para unhas, nós temos", diz-nos, apesar do tipo de verniz mais procurado ser o de gel.

"Nós começámos com verniz tradicional, depois começámos a investir no de gel. O de gel cresceu imenso e o tradicional desceu, conta. "Agora, está a assistir-se as pessoas a deixarem o verniz gel por várias questões: porque querem trocar mais vezes, porque estraga mais a unha…"

"Hoje, já se nota um bocadinho o tradicional a crescer", refere, considerando que é devido à existência de linhas vegan e por se apostar cada vez mais em ingredientes mais naturais.

tão leve, tão alegre. Somos nós

Em suma, o mercado dos vernizes não é estanque e o comportamento do consumidor vai variando. Para Ana Bento, gerir a Inocos "tem sido espetacular". "É o nosso bebé, a nossa criança", qualifica.

A Inocos, que conta com mais de 300 cores de verniz gel, procura lançar coleções temáticas, mais ou menos, de três em três meses. Este ano, estreou-se nos festivais com um stand no NOS Alive. "As pessoas já não vão às feiras à procura da pechincha", observa Ana, acrescentando que a maioria "compra tudo online".

"Para conquistar mercado, temos que ir para um sítio onde esteja toda a gente, de todas as idades, dos 14 aos 60", explica. "Passa tanta gente por um festival de verão, é tão leve, tão alegre. Somos nós".