Matilde Ferreira faz parte da quinta geração de ourives da Luiz Ferreira. Foi dela que partiu a ideia de abrir uma loja da marca, criada pelo avô em 1910 no Porto, na rua de São Bento em Lisboa. Depois de viver no estrangeiro durante dois anos, trocou o norte pela capital. "Descobri este espaço depois de andar a ver noutros sítios. Vi na [rua] Castilho e até no Chiado mas nenhum deles fazia jus ao que queríamos", desabafa a ourives.
"Quisemos fazer aqui uma coisa diferente, um bocadinho mais moderna, porque esta é uma marca muito clássica, tal como as nossas lojas no Porto. As pessoas têm reagido muito bem. Percebem que faz parte do andar do tempo, que exige uma mudança. E nós estávamos a precisar de fazer um refresh da marca. Estávamos a precisar de modernizar um bocadinho e foi o que fizemos neste espaço", garante Matilde Ferreira.
O legado centenário que ainda hoje perdura
Filho e neto de ourives, Luiz Ferreira nasceu em 1909. Na década de 1930, começou a trabalhar com o pai, David Ferreira. Em 1970, abriu na rua Trindade Coelho, no Porto, a sua primeira loja. Até morrer, em 1994, nunca mais parou, envolvendo os filhos no desenvolvimento e na expansão da marca a que deu nome. "Criaram um legado que foi passando de geração em geração", sublinha Matilde Ferreira, uma das netas.
Em 108 anos, muita coisa mudou mas o classicismo da marca, que em tempos encantou os reis de Espanha, os duques de Windsor, o papa João Paulo II, Jacqueline Kennedy Onassis, a duquesa de Alba, Amália Rodrigues, Helena Rubinstein e até o presidente dos EUA Richard Nixon conseguiu resistir à passagem do tempo. "As pessoas gostam daquilo que foi feito há alguns anos, principalmente quando o meu avô começou", justifica.
"As pratas do meu bisavó também eram muito conhecidas mas o meu avô teve um reconhecimento internacional incrível", garante Matilde Ferreira. "Fomos continuando um bocadinho com esta linha clássica sem a alterar muito mas, para sobreviver no mercado, hoje em dia, também é preciso modernizar e, com as novas gerações, tenho também uma prima a trabalhar connosco, fomos trazendo novas ideias", diz.
As novas linhas que foram surgindo
Além de desenvolver novos modelos e novas linhas, a Luiz Ferreira também tem apostado em novos materiais, por vezes por razões de força maior. "Já não podemos usar marfim, por exemplo. Hoje em dia, só usamos osso", confidencia a ourives. Para além das lojas físicas no Porto e em Lisboa, também têm uma loja online. "Mas tem pouco movimento porque só temos lá uma pequena parte da nossa coleção", admite Matilde Ferreira.
As muitas encomendas que vão surgindo do estrangeiro pela via tradicional não justificam uma aposta maior. "Somos uma marca já muito reconhecida internacionalmente", garante. "Temos muitos pedidos de fora, sobretudo dos bichos, que foram o grande boom do meu avô. Temos muitas encomendas do Brasil e do Reino Unido. Agora, começaram a surgir de África também", revela a ourives, que não esconde a paixão pela coleção de animais.
"Temos um grande espólio de bichos. Sempre que pergunto ao meu pai se já fizeram algum mais estranho, como uma toupeira, um porquinho-da-índia ou um tatu, ele diz que sim", afirma Matilde Ferreira. Apesar de ter crescido rodeada de ouro e prata, a ourivesaria não é um sonho de criança. "Foi um interesse que foi surgindo", revela. "Eu cresci rodeada de coisas bonitas e, a dada altura, comecei a gostar", acrescenta ainda.
Futuro do negócio nas mãos da sexta geração
2018 é o ano de promoção e de consolidação da nova loja da Luiz Ferreira, aproveitando a presença na capital para dar um novo impulso à empresa. "Eu não me posso queixar do nosso posicionamento mas, realmente, precisávamos de ficar um bocadinho mais leves porque a marca estava a desaparecer um bocadinho", reconhece Matilde Ferreira. "O meu avô não quereria que isto morresse", assegura a ourives.
Se a tradição familiar se mantiver, o negócio, centenário, não acabará tão cedo. "Já existe uma sexta geração. Ainda não está pronta, porque são muito pequeninos, mas, se Deus quiser, vão, tal como nós, interessar-se por esta arte. Somos quatro irmãos do lado do meu pai. Há também as outras primas. Espero que, pelo menos um, venha a gostar disto como nós gostamos", desabafou ainda Matilde Ferreira ao Modern Life.
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