Foi na "casa dos sonhos" azul-celeste construída no Carreau du Temple, um dos grandes espaços públicos parisienses, que os modelos desfilaram com criações em branco cintilante, preto austero, cores fluorescentes, para uma coleção que estava "95%" pronta quando Abloh morreu de cancro, explicou a empresa.
No final do desfile, momento em que o criador sai para cumprimentar, cerca de 30 colaboradores do estilista apareceram com t-shirts onde exibiam as cores de um pôr do sol. O público respondeu com aplausos e lágrimas.
Virgin Abloh, designer, arquiteto e DJ negro, concebeu uma passerelle onde remixou ousadamente streetwear e cortes clássicos, kaftans e peças de inspiração oriental.
Silhuetas unissexo, e até uma modelo de véu, como se fosse uma noiva vestida de branco, cruzaram a passerelle.
"Não vamos tentar copiar o Virgil"
A morte de Abloh, que quebrou os padrões ao assumir a direção artística da emblemática maison Vuitton em 2018, chocou o mundo da moda, onde circulam rumores sobre a sua substituição.
"Não vamos tentar copiar o Virgil", disse o diretor da Louis Vuitton, Michael Burke, em entrevista ao jornal Le Figaro na qual levantou a questão pela primeira vez.
"Precisamos de alguém com a coragem dele, mas também com a coragem da Louis Vuitton(...) Alguém que não necessariamente seja da elite da moda, que seja fascinado por este mundo e queira conquistá-lo", disse.
O que é preciso é uma personalidade com "sensibilidade no prêt-à-porter, que é muito importante no nosso negócio. Um estilista que entenda os tempos, entenda o seu espírito e saiba sintetizar tudo o que acontece num momento contando belas histórias", adicionou.
Um desfile de homenagem foi realizado a 30 de novembro em Miami, dois dias após a morte do estilista americano devido a um cancro.
Abloh fascinou as gerações mais jovens do mundo da música e da arte, especialmente nos Estados Unidos. Rihanna, Kanye West, Kim Kardashian, Bella Hadid e Pharrell Williams estiveram presentes em Miami.
Para corresponder à enorme expectativa desta apresentação, a Vuitton contou com duas passerelles, também devido às regras anticovid, que obrigam a reduzir a capacidade.
"Ele planeou tudo cuidadosamente até o último minuto", disse à AFP Kim Jones, que foi designer da Louis Vuitton até 2018, quando Abloh o substituiu.
"[O Virgil e eu] viajamos pelo mundo juntos. Sinto-me muito sortudo por tê-lo conhecido", disse ele.
Após a morte deste criador, apenas um outro designer negro permanece no horizonte da moda, Olivier Rousteing, da Balmain.
A escolha de Virgin Abloh foi "ousada", e a escolha do seu sucessor "exigirá também audácia", explicou Serge Carreira, professor de ciência política em Paris.
Abloh não hesitou em colaborar com a Nike e outras marcas desportivas para quebrar barreiras.
"Virgil mostrou como se pode ser multidisciplinar e destemido. Ele era realmente poderoso. Teve um impacto na vida de tantas pessoas", disse à AFP Bianca Saunders, uma estilista londrina com raízes afro-caribenhas.
Entre os potenciais candidatos negros para substituir Abloh estão os seus colaboradores Samuel Ross e Heron Preston, o diretor artístico da Reebok, Kerby Jean-Raymond, a estilista britânica Grace Wales Bonner e ainda o rapper e designer Kanye West, amigo de Abloh.
Também são mencionados Kris van Assche, que deixou a Berluti, e Daniel Lee, que já não trabalha na Bottega Veneta, além de Riccardo Tisci (Burberry, ex-Givenchy).
“Virgil Abloh encarnou a diversidade, foi uma figura na promoção do talento entre os estilistas negros. É uma questão simbólica, mas a questão afeta a indústria da moda de uma forma global”, explicou Serge Carreira.
A Louis Vuitton fez uma parceria com a casa de leilões Sotheby's para colocar 200 pares ténis Nike "Air Force 1" projetados por Virgil Abloh à venda para caridade.
O preço inicial é de 2 mil dólares.
Os lucros revertem para a sua fundação "Post-Modern", que apoia a formação de designers de origem afro-americana e africana.
A Semana da Moda Masculina continua em Paris com novas promessas, como a britânica Bianca Saunders, que se estreou com uma coleção que remete para o século XX, e a francesa Y/Project, que ignorou convenções e desfilou com homens e mulheres.
Para o Y/Project, os homens usarão fatos enormes e grandes no outono, protegendo o seu rosto com sweats de gola extra longa, enquanto as mulheres usarão t-shirts ajustadas, estampadas a imitar o seu corpo.
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