Maria Grazia Chiuri, que se tornou na primeira mulher a estar à frente da Dior, iniciou o desfile da nova coleção com uma modelo que usava uma camisola às riscas com a seguinte interrogação: "Por que não existiram grandes artistas femininas?"

O desfile, marcado pela ironia, foi de longe o mais colorido já apresentado pela nova estilista para a maison francesa, que chamou a atenção ao usar como referência as cores primárias da artista feminista Niki de Saint Phalle.

Apesar de ter homenageado a artista, que se tornou famosa pelas "Nanas" - figuras femininas esculpidas com formas generosas - Chiuri não utilizou modelos 'plus size' no desfile da marca.

"Nem todas as mulheres podem ser modelos", declarou Chiuri à Agência France-Presse (AFP), enquanto elogiava a recente proibição de se contratarem modelos excessivamente magras para desfilar nas passerelles em Paris.

"Eu acho que é uma ótima ideia porque eu sou mulher, tenho uma filha", disse. "Ao mesmo tempo, temos que explicar que nem todas as pessoas podem ser modelos," acrescentou.

'Trata-se de um trabalho'

As declarações de Maria Grazia Chiuri surgem apenas duas semanas após a onda de desfiles com modelos 'plus size' durante a Semana de Moda de Nova Iorque, que teve como estrela principal a americana Ashley Graham.

"Atualmente as pessoas querem fazer de tudo um pouco. Mas a verdade é que se quiserem ser cantores, têm que ter uma boa voz. Se quiserem ser alpinistas, têm que ter uma boa preparação física", argumentou.

A diretora criativa disse ainda que, geralmente, o público tem uma ideia errada sobre os estilistas. "Eu não quero usar modelos anoréxicas. Às vezes as pessoas esquecem-se que se trata de um trabalho", diz.

"Nós utilizamos um manequim fixo. De tamanho 37. Não utilizamos o 40 porque é muito difícil fazer as medidas posteriores. Existem algumas medidas que são ideais para se fazer o primeiro modelo (protótipo). Precisamos de raparigas que sejam talentosas e que tenham nascido com essas medidas", complementou.

Chiuri admitiu adorar modelos que "têm personalidade. Eu amo (a modelo britânica) Ruth (Bell), porque ela tem uma personalidade marcante. Eu acho que podemos sentir isso", comentou.

A estilista italiana apresentou as suas criações numa espécie de caverna grandiosa e espetacular cheia de mosaicos espelhados, similar às instalações feitas por Saint Phalle na Alemanha e em Itália.

'Todas deveríamos ser feministas'

Maria Grazia Chiuri iniciou o seu reinado como diretora criativa da Dior com uma camisola onde se podia ler "Todas deveríamos ser feministas", uma frase retirada da obra de Linda Nochlin, historiadora da arte e feminista americana, e que inspirou a coleção primavera/verão 2018.

O tamanho padrão para as modelos tornou-se num tema polémico, cercado de críticas de que a moda escolhe para os seus desfiles jovens como um padrão de beleza inalcançável e doentio.

A modelo 'plus size' Ashley Graham teve uma calorosa recepção ao desfilar para a marca de lingerie Addition Elle em Nova Iorque, seguida de nomes como Candice Huffine, Precious Lee e Sabian Karlsson, todas da mesma categoria, que participaram em outros desfiles.

Recorde-se que atualmente as modelos devem vestir no mínimo o tamanho 34 e só podem trabalhar a partir dos 16 anos.