Apesar de o processo estar "numa fase protocolar", em que não lhe é permitido adiantar "muita mais informação", o criador referiu estar a trabalhar para "uma futura coleção", ressalvando, no entanto, ainda não saber "qual será o caminho final".

O designer foi convidado pelo IBVAM para conhecer de perto o modo como se trabalha o bordado e esteve na região a estudar as suas especificidades, reconhecendo que há um valor acrescido quando se consegue perceber o que está por detrás desta produção.

Transportar estas ideias para a moda, tirando o bordado do universo da casa, é uma ideia que estimula o criador.

"Nunca consegui enquadrar-me numa moldura de designer de moda, tendo seguido outro caminho que não as coleções de outono-inverno, e também trabalhei noutras áreas como ‘l’art de la table' [‘arte da mesa’], que é muito aquilo para que o bordado da Madeira está destinado", explicou à Lusa.

Filipe Faísca sublinhou que não pretende desenraizar a tradição, até porque esta "é de tal maneira forte que é impossível retirar esse peso" do bordado.

"Basta deslocar as coisas e torná-las um pouco mais contemporâneas, porque é tao rico e tão profuso que basta mudar o fundo de um lado para o outro e a coisa acontece. Bastam pequenas alterações para vermos coisas diferentes", afirmou.

Filipe Faísca considera ainda que há algo de "crístico" no trabalho desenvolvido pelas bordadeiras da Madeira.

"Estas mulheres são iluminadas. Imagine-se a trabalhar 11 horas, isolada, em silêncio. E com quem é que pensa que está a falar? Só com Deus", referiu.

O IBVAM tem desenvolvido ações deste género, “cofinanciadas em 85% por fundos comunitários, veiculados pelo programa Madeira 14-20, sendo o restante montante suportado pelo orçamento regional", disse à Lusa a presidente do conselho diretivo do instituto, Paula Jardim.

Já em julho de 2017, o designer norte-americano Jeff Garner, responsável por vestir algumas estrelas mundiais da música, esteve na Madeira para fotografar uma coleção que incluía o típico bordado da Madeira, também numa iniciativa apoiada pelo IBVAM.

"O bordado Madeira representa um produto distinto e de excelência. O IVBAM, através desta parceria com o designer português, pretende cimentar ideias com vista à dinamização de um projeto que catalogue o produto ao mundo da moda e dos têxteis", referiu Paula Jardim.

O principal objetivo destas ações é "conquistar sobretudo o mercado nacional, dando a conhecer ao público português as diferentes versatilidades do bordado da Madeira, quer nos seus motivos estéticos, quer nas distintas aplicações que o mesmo poderá assumir", afirmou.

Filipe Faísca nasceu em Moçambique, em 1964. Atualmente vive e trabalha em Lisboa.

Em 1989, licenciou-se em Design de Moda pelo IADE, tendo sido distinguido, em 2007, com o Globo de Ouro de melhor designer de moda português.