A poucas horas de assistir ao grande desfile do primeiro dia de ModaLisboa, começo a dar voltas à cabeça. “O que é que eu vou vestir?” Opto por ir de preto até porque looks exuberantes e excêntricos nunca foram o meu estilo. Chego ao Centro Cultural de Belém (CCB) às 20h45 em ponto, hora que devia ir levantar a reserva do bilhete para o desfile do Nuno Gama, que começava por volta das 21h00. E qual não é o meu espanto quando vejo que o CCB estava completamente deserto. Nem uma alma viva e nada da confusão que estava à espera. Confirmo as horas e tudo certo. Depois de conversar com as pessoas da organização escuto as quatro palavras que ninguém quer ouvir: “O desfile está atrasado.”

Para uma pessoa que odeia ficar à espera, isto não são boas notícias. Poucos minutos depois, começam a chegar as primeiras pessoas. Para passar o tempo e distrair-me do tempo que ainda vou ter que esperar começo a observar as pessoas. Entre batons verdes, sandálias prateadas estilo futurístico e cabelos rapados à la Rihanna, chegam as primeiras ‘VIP’s’. Tal como eu, Paula Bobone e Lili Caneças mantêm-se fiéis à pontualidade.

Nisto coloco-me na fila para levantar o bilhete para o desfile de Nuno Gama, que só abre 35 minutos depois da hora prevista. Quando chega a minha vez digo que sou da imprensa e que vinha levantar o meu bilhete. Devido aos lugares limitados e a uma confusão que nem percebi muito bem qual foi, dizem-me que parte da imprensa (eu incluída) não tem bilhete para o desfile. Num espaço de segundos vejo a minha vida a andar para trás. Mas antes de sequer tentar explicar que tinha reservado o bilhete segundo as instruções da organização da ModaLisboa e começar a entrar em pânico, acontece algo incompreensível. Como que por magia, uma senhora chega ao pé de mim e dá-me um bilhete para a mão. Ainda a processar o que aconteceu, a senhora desaparece tão depressa como apareceu, não tendo sequer tempo de lhe agradecer.

Se calhar as pessoas estavam certas quando, por várias vezes me disseram que tenho uma sorte incrível e que devo ter nascido com o rabo virado para a lua.

Nisto deixo para trás uma fila gigante e entro no Grande Auditório. O relógio marcava 22h45 quando as luzes se apagaram. Em vez do tradicional desfile os convidados são brindados com um documentário que faz uma retrospetiva de toda a carreira e coleções passadas de Nuno Gama.

Foram 50 minutos de pura emoção que me deixaram colada ao ecrã. Apesar de não conhecer a fundo o trabalho de Nuno Gama, a verdade é que através deste documentário tive a oportunidade de ver o seu método de trabalho, qual a sua bagagem cultural e aprender sobre o seu processo criativo. Quando alguém me pergunta porque é que gosto tanto de moda, acho que a resposta reside neste tipo de documentários. Para além das roupas, aquilo que mais me atrai nesta indústria é a motivação, a criatividade e a imaginação que os estilistas têm em criar peças que nalguns casos são verdadeiras obras de arte. E sem dúvida alguma que Nuno Gama se insere nessa categoria.

Saio do auditório completamente rendida e convicta de que tive a oportunidade de assistir a algo muito especial: “Ainda não estive num desfile à séria mas vai ser difícil superar isto”, penso. A caminho de casa, apanho um taxista que pergunta o que se passa no CCB. Quando falo no nome de Nuno Gama a resposta é imediata: “Para mim, o Nuno Gama é um dos melhores estilistas portugueses. Há uns anos andei feito louco à procura de um casaco em que o forro era o mapa mundo. Era incrível, mas nunca encontrei”, afirma.

No segundo dia a maior parte dos desfiles decorreram no habitual Pátio da Galé. Apesar de estar bastante ansiosa para ver ao vivo, e pela primeira vez, um desfile numa passerelle, não estava preparada para a maré de gente que encontrei no recinto. Entre stands de marcas, algumas caras conhecidas e muitas desconhecidas, das coisas que mais ouvi foram os elogios e comentários ao meu companheiro de peluche: “Olha o SAPO”, “É o Cocas” ou “Onde é que estão a dar o SAPO?”. Com um atraso de meia hora, preparo-me para assistir ao primeiro desfile da minha vida: Pedro Pedro.

Sentada na segunda fila, de repente as luzes apagam-se e faz-se silêncio. Com a música no máximo, os modelos entram na passerelle e começa o zum zum de câmaras fotográficas e flashes. Olho à minha volta e está tudo de telefone na mão. E tão depressa como começou, termina o desfile e as pessoas saem da sala.

Entre os vários desfiles escuto uma conversa entre duas senhoras. “Aqui ninguém se veste normalmente. As pessoas usam aquelas roupas que tem no armário mas que nunca vestem no dia a dia”. Se calhar estavam a estar a falar da rapariga com o turbante verde fluorescente ou então do senhor com o chapéu vermelho e fato amarelo. Toda a gente sabe que a Semana da Moda é a altura em que muitas pessoas perdem a cabeça e criam looks "estrambólicos". Sinceramente estava à espera de encontrar mais pessoas com outfits arrojados e nonsense, capazes de nos deixar de queixo caído de tanta mistura. Mas a verdade é que afinal, as pessoas normais também vão à ModaLisboa.

À medida que o resto do dia vai avançando assisto a Alexandra Moura e Carlos Gil, onde vejo um tropeção em plena passerelle. Apesar da modelo não ter caído, o momento não valeu para o susto. O relógio já passava das 23h quando começou o último desfile do dia: Miguel Vieira, uma coleção que me surpreendeu pela positiva e pela simplicidade das suas peças. Quando me levanto para me ir embora dou de caras com uma das minhas bloggers preferidas de sempre: Camila Coutinho, autora de um dos blogs de maior sucesso no Brasil 'Garotas Estúpidas'. Aproveito a oportunidade para trocar algumas palavras e tirar uma fotografia. Haverá melhor desfecho para o segundo dia de ModaLisboa?

Chega o domingo. O último dia é marcado por uma confusão dos diabos e pelas apresentações de Nadir Tati, Filipe Faísca e Dino Alves. Mesmo tendo a consciência de que os desfiles a que assisti não eram os da Chanel, da Prada ou da Dolce&Gabbana, estava à espera de sentir um arrepio na espinha, o coração bater mais forte ou as mãos ficarem suadas por estar sentada na primeira fila daqueles que são considerados os maiores estilistas nacionais. Apesar de algumas das peças terem despertado a minha atenção e curiosidade, tenho que confessar que em nenhum dos dois dias de desfiles senti o tão esperado ‘wow factor’.

Para além disso, também estava à espera de ver mais celebridades e figuras públicas naquele que é considerado um dos eventos de moda mais importantes a nível nacional. Mas a verdade é que isto não é como nos filmes e nos documentários de moda: não há uma Anna Wintour, não temos uma front row repleta de it girls e o chamado street style não tem tanto peso como o internacional.

Apesar de não ter sentido a emoção que estava à espera, a verdade é que estou morta por voltar. Não só para poder voltar a sentir todo o burburinho à volta do Pátio da Galé, mas também para poder assistir, pela primeira vez, ao desfile do estilista que mesmo sem apresentar coleção me conquistou o coração: Nuno Gama.

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