Existem alguns casos em que os médicos apoiam a cirurgia estética em adolescentes sobretudo quando o problema físico faz com que estes deixem de ir à escola por discriminação e se sintam inferiorizados e complexados. É o caso daqueles que têm as chamadas orelhas de abano. Mas no topo da procura de cirurgia estética por parte de adolescentes está o aumento mamário.
São muitas as jovens que desejam aumentar o peito e que procuram uma solução em cirurgia estética com o devido consentimento dos pais. Nenhum adolescente ou menor que 18 anos é operado sem que os pais autorizem a cirurgia. Para o cirurgião plástico Francisco Ibérico Nogueira, cada caso deve ser analisado mas há que seguir a sensatez, a ética e o correto ponto de vista médico.
Não é nem deve ser nenhum tabu. A posição de Francisco Ibérico Nogueira, muito marcada pelos seus mais de 30 anos de experiência, é clara. Cada caso é um caso e deve ser estudado individualmente mas existem princípios gerais consoante o tipo de pacientes e as situações que surgem.
«No que respeita ao aumento mamário, de uma forma geral, dizemos às pacientes que a glândula mamária se desenvolve até aos 17, 18 anos e que a partir daí dificilmente crescerá a menos que haja um distúrbio hormonal, uma subida de hormonas femininas muito súbita ou que surja uma outra situação anómala sob o ponto de vista metabólico», explica o cirurgião plástico.
Depois dos 18 anos
A partir desta idade, Francisco Ibérico Nogueira não vê qualquer inconveniente em realizar uma mamoplastia de aumento, especialmente «se for preservada a função fisiológica da mama que é a lactação», diz-nos. Nestes casos, o especialista conta com duas técnicas privilegiadas através de dois tipos de incisões. «Podemos realizar a incisão axilar, ainda que seja menos recomendada», diz.
A explicação é simples. «Por ser mais visível na praia e quando se levanta os braços ou, em alternativa, a incisão que se situa no sulco mamário e que permite uma visualização muito boa do campo operatório. Esta é a melhor opção pois permite-nos efetuar uma boa eletrocoagulação dos vasos sanguíneos e uma dissecção de todo o contorno da bolsa em que vai ser introduzida a prótese mamária», defende o cirurgião plástico.
A necessidade de ponderar cada caso
Algumas jovens por volta dos 16 anos vivem um sofrimento psicológico tal que devem ser devidamente avaliadas pois podem mesmo cometer uma loucura por terem vivenciado alguma situação traumatizante. «Nestes casos, deve ponderar-se se vamos ou não avançar para resolver um problema de caráter estético mas também relacionado com a autoestima do paciente e evitar uma consequência maior. Não devemos errar por excesso nem por facilitismo», esclarece Francisco Ibérico Nogueira.
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O imperativo de uma avaliação prévia
Na opinião do cirurgião plástico, há que ter muito cuidado com o facto de a Medicina se ter transformado num «negócio à escala mundial», uma vez que existem «pessoas que nem sequer têm formação a operar jovens de qualquer idade, sem critérios e sem a realização dos exames pré operatórios, conduzidos sobretudo pela questão meramente económica». Os pacientes que nos procuram são «rigorosamente selecionados e bem estudados».
Também é necessário analisar os pacientes a nível psicológico, pois são muitas as razões de caráter emocional que levam algumas pacientes a pressionarem os pais e os médicos para se submeterem a determinada cirurgia, sobretudo no que respeita ao aumento mamário. «Não há que ter pressa em submeterem-se a uma intervenção», sublinha o especialista.
«Não é o facto de ter uma mama maior ou menor que vai mudar a vida destas adolescentes. É preciso explicar-lhes isso. Por exemplo, não é o aumento mamário que irá melhorar a sua vida amorosa», esclarece o especialista. Por este motivo, Francisco Ibérico Nogueira conta, nas suas clínicas, com o contributo de um psicólogo que reúne as ferramentas certas para que «os pacientes aprendam a conhecer-se melhor».
O papel do psicólogo
O psicólogo pode perceber de facto se «aquilo que a adolescente quer vai de encontro ao que procura». Esta questão é fundamental sobretudo quando surgem jovens que acham que vão recuperar o «namorado perdido», como se lhe refere, depois de realizarem a cirurgia. «Em 90% das situações, a procura da cirurgia tem como causas razões que não se prendem com a parte estética mas com múltiplos fatores», diz.
O que é certo é que o equilíbrio emocional é um dos aspetos mais importantes para que se avance para qualquer cirurgia estética. «Um médico que lida diariamente com os seus doentes consegue perceber quando é que as expetativas são irrealistas», afirma o cirurgião plástico, habituado a lidar com este tipo de situações há várias décadas.
«No fundo, não raras vezes, a paciente vai procurar fazer uma transferência de responsabilidade dos seus infortúnios para o médico que a partir desse momento passa a ser o responsável por não ter alcançado a felicidade que estava à espera», salienta ainda Francisco Ibérico Nogueira.
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A vontade de corrigir as orelhas e/ou o nariz
Estes são problemas comuns e motivo para que os pais levem os filhos às consultas. A cirurgia plástica que corrige as «orelhas de abano» é a otoplastia. «Nestes casos, é comum haver uma situação que se vai arrastando chegando ao ponto da criança/jovem ser vítima de violência psicológica que acaba por ter efeitos brutais na formação da sua personalidade», revela o médico.
Este é um dos casos em que Francisco Ibérico Nogueira aconselha «vivamente a cirurgia uma vez que as perturbações psicológicas nestes casos podem ter consequências muito nefastas no futuro». Segundo a Direção-Geral da Saúde, organismo central do Ministério da Saúde, a otoplastia só deve ser realizada em crianças com mais de cinco anos.
No que respeita às alterações no nariz, as cartilagens nasais desenvolvem-se até aos 12, 14 anos. «Julgo que não é aconselhável proceder-se a rinoplastias antes dos 15 anos porque depois da cirurgia podem surgir modificações que obriguem a mais retoques», salienta o cirurgião plástico. A partir desta idade, já é possível efetuar uma rinoplastia «sem o mínimo de riscos», assegura o especialista.
A obrigatoriedade do consentimento dos pais
Em qualquer um dos casos ou seja qual for o motivo que conduz à cirurgia, os jovens vão acompanhados para a consulta pelos progenitores. «Antes da cirurgia, conversamos sempre com os pais para solicitar a devida autorização e o consentimento informado. Nunca avançamos para qualquer tipo de tratamento estético cirúrgico sem a devida aprovação dos pais», avança o especialista.
No caso do aumento mamário, são as mães que, por norma, tomam as rédeas das decisões das filhas. «Os pais colocam-se mais à parte, embora tenham uma enorme relação de proteção e de carinho mas preferem que sejam as mães a ajudar as filhas», foca Francisco Ibérico Nogueira.
Interessa-lhe saber antes de decidir:
- Em primeiro lugar, «as jovens devem alimentar o espírito, informarem-se, terem uma vida saudável e, posteriormente, é importante aconselharem-se com os pais antes de decidirem corrigir determinado problema que as inquieta», revela Francisco Ibérico Nogueira. Pode também ser benéfico pedir conselhos a médicos e psicólogos para saberem se a sua decisão será a mais acertada.
- «Hoje em dia, 99% das cirurgias são realizadas com anestesias locais, com procedimentos minimamente invasivos e uma enorme segurança», explica Francisco Ibérico Nogueira.
- «Qualquer paciente que vai ser submetido a um tipo de cirurgia deve ser tratado como um doente normal. Logo, devem ser escrutinadas todas as situações patológicas que podem trazer complicações ou que até o podem excluir da cirurgia», salienta o cirurgião plástico.
- É obrigatório realizar um protocolo de estudo pré-operatório que permita que o paciente seja operado «sem qualquer risco». Francisco Ibérico Nogueira defende que «um paciente que esteja bem estudado, que seja operado numa clínica e com uma equipa que reúna todas as condições, o risco da cirurgia tem de ser nulo», adianta.
- «Se um determinado cliente tem uma patologia que desaconselhe a cirurgia, pode dar-se o caso de termos procedimentos alternativos que podem beneficiar o paciente esteticamente de outra forma e mitigar-lhe o sofrimento que tem em relação a uma determinada dismorfia. Por exemplo, pode não ser possível realizar uma rinoplastia clássica mas em alternativa recorrer a procedimentos não cirúrgicos com técnicas específicas», conclui Francisco Ibérico Nogueira.
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Quando a cirurgia muda vidas
Francisco Ibérico Nogueira recorda variados casos de jovens com atrofias mamárias importantes, com situações de assimetrias acentuadas em que a cirurgia as despertou para a vida. «O cirurgião sente-se muito gratificado por ver o brilho nos olhos destes jovens pois são situações que de facto modificam as suas vidas», refere.
«Dá também um certo prazer a um cirurgião saber que operou uma jovem manequim que viu a sua vida profissional beneficiada e a lançou para o estrelato», conta-nos o cirurgião plástico, sem contudo revelar nomes. São estes alguns exemplos que o tocam particularmente, como faz questão de assumir.
«É muito gratificante acompanhar a sua evolução e verificar que o nosso trabalho ajudou a permitir o sucesso nas suas carreiras profissionais. Noutros casos, saber que uma cirurgia as tornou mais extrovertidas, alegres e sem complexos é absolutamente compensador», conclui ainda Francisco Ibérico Nogueira.
Texto: Cláudia Pinto
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