O peso da personalidade, do amor, da família e dos amigos na forma como nos relacionamos com o mundo e nele nos posicionamos. Este tem sido, ao longo de 20 anos, o pano de fundo do trabalho desenvolvido por Margarida Vieitez, especialista em mediação familiar e de conflitos e terapia de casal. Dessa experiência nasceu o livro «Verdades, mentiras e porquês», publicado pela editora Edições Chá das Cinco, no qual partilha as dúvidas que tem ouvido e respondido em consultório.
Ao todo, são 500 perguntas acompanhadas por estratégias terapêuticas, segundas oportunidades que todos merecemos, porque como ensina neste livro a especialista, a felicidade deve ser uma escolha, procura-se e pode estar nas entrelinhas de várias respostas. Descubra, de seguida, os ensinamentos que esclarecem muitas das interrogações que pode ter:
- Nas relações humanas há pessoas certas e pessoas erradas?
«É comum ouvirmos falar em pessoas certas e pessoas erradas. Mas será que isso existe? Não creio. O que existe são pessoas que gostam de nós e nos fazem bem e pessoas que não gostam de nós e não nos fazem bem», esclarece Margarida Vieitez. No livro «Pessoas que nos fazem felizes», escreveu sobre essas mesmas pessoas, «que podem ser os nossos companheiros, os nossos amigos ou fazer parte da nossa família», sublinha.
«Existem muitas pessoas com quem se pode construir uma relação saudável, plena de afeto, de amor e de verdadeiro sentido. Elas não são as pessoas certas. São as pessoas que têm a capacidade de o amar como você merece ser amado», acrescenta ainda. O conselho que deixa é seja seletivo. «Procure escolher para ter na sua vida pessoas que gostem de si e lhe façam bem», diz a especialista em mediação familiar e de conflitos e terapia de casal.
Evite também pessoas tóxicas. «Afaste-se de quem demonstra, por palavras, atitudes e comportamentos, não gostar de si, nem lhe querer bem algum», afirma Margarida Vieitez. Acredite no amor. «Lembre-se. Não existe só uma pessoa no mundo com a capacidade de a amar. Muitas têm essa capacidade», afirma ainda a autora do livro.
- Como saber se é paixão ou amor?
«O amor pode ser apaixonado, mas a paixão não é amor. Ninguém pode dizer que ama outro ao final de um mês. Se lho disserem, não acredite. Para amar, tem de conhecer o outro e perceber se consegue aceitá-lo na sua perfeição imperfeita. É deste conhecimento que nasce o verdadeiro amor, que lhe possibilita, mesmo zangado, pensar que ama, elevando o que gosta», salienta Margarida Vieitez.
«Amor é conhecimento e aceitação. Paixão é desconhecimento e aceitação do que se gosta. Amor apaixonado é aceitação com ternura e sorrisos, sentindo a alma arder com um beijo e o espírito voar com um abraço», descreve. «O amor é uma construção que se vai fazendo a dois, todos os dias, e que só depois de algum tempo se consegue sentir», defende ainda a especialista em mediação familiar e de conflitos e terapia de casal.
«Atração física também não é amor, embora o amor possa igualmente crescer pelo caminho da atração, gerando proximidade e cumplicidade», distingue. «Procure o verdadeiro amor. Embora em vias de extinção, ainda existe. Passe pelo encanto e pela paixão e continue em frente, em direção ao amor», sugere.
«É uma estrada que parece perigosa. Muitos se desviam dela!», constata Margarida Vieitez. «Mas, se continuar, poderá sentir o verdadeiro propósito da vida, que é conhecer o amor!», afiança a autora.
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- Por que criamos demasiadas expetativas desde o primeiro encontro amoroso e como evitá-lo?
«Nadar num mar de expetativas pode não ser fácil. Mas de onde vêm todas elas? Da necessidade de se sentir querida e amada, da solidão, carência afetiva, inexperiência, de querer viver um amor muito cor de rosa, mostrar que finalmente está acompanhada, ser aceite, valorizada e feliz. Quanto maior a idealização, maiores as expetativas», assegura Margarida Vieitez.
«Muitas assentam naquilo que faz do outro e da relação», sublinha. «Dosear essa idealização e equilibrar esses anseios pode ser o primeiro passo para se sintonizar com a realidade. Ter como expetativa que vão casar, depois de um mês de namoro, pode tornar-se muito stressante. Imaginar, ao final de seis meses, que vão ter quatro filhos não parece muito adequado», afirma ainda a autora.
«Pensar que a relação é perfeita e nunca vão discutir é, senão infantilidade, imaturidade», diz ainda Margarida Vieitez, que aconselha a uma mudança de paradigma. «Equilibrar as suas expetativas e perceber porque tem necessidade de idealizar o outro pode protegê-la de situações mais dolorosas», acrescenta ainda.
- Por que é difícil terminar uma relação apesar de já não se acreditar nela?
«Por vezes, escolhemos quem não devíamos, forçando-nos a acreditar numa relação sem futuro. Pode dever-se à solidão, a querer viver uma paixão, ter afeto, uma pessoa em quem possa confiar, filhos, apoio, sair de casa dos pais, um nível económico superior, ascender profissionalmente ou fazer ciúmes à ex-namorada ou ao ex-namorado», diz.
«E a maior parte das pessoas não têm consciência disso», refere Margarida Vieitez. «No início da relação, apesar de todos os avisos internos, acreditam que vão ser felizes e até fazem tudo para o ser», sublinha a autora, que deixa um conselho a quem vive um relacionamento que não o realiza a todos os níveis.
«Valorize a sua própria companhia. Enquanto não o fizer, vai escolher pessoas que nada têm a ver consigo», defende Margarida Vieitez. Em relação ao outro, «a escolha de um companheiro deve ter como pressuposto gostar dessa pessoa e não outras razões», alerta ainda a autora de «Verdades, mentiras e porquês».
Veja na página seguinte: É possível alguém mudar por amor?
- É possível alguém mudar por amor?
«Pode acontecer que se queira tanto um romance que se pense que as coisas vão mudar. Mas o tempo passa e nada muda. Ainda assim, acreditamos na mudança porque queremos viver lindas histórias de amor», constata Margarida Vieitez. «Isso leva-nos a acreditar que tudo vai correr bem. Mas nem sempre assim acontece, muito pelo contrário», defende ainda a autora especializada.
«E quanto mais queremos mudar o outro, mais caótica fica a relação», assegura a especialista, que também aqui volta a deixar vários conselhos. Um deles é aceite! «As pessoas não são cobras que mudam de pele frequentemente. Perceba se consegue aceitar essa pessoa com a pele que tem. Pensar que, por dizer que gosta de si, essa pessoa vai transformar-se noutra é uma loucura», diz.
Pergunte-se e interrogue-se. «Por que quer ficar com uma pessoa que não é a ideal? Entenda onde vem a sua necessidade de transformar o outro. Será que tem dificuldade em aceitarem-na como é?», questiona. E também não tente mudar o outro. «É uma missão frustrante sem grandes resultados. Por que sente essa vontade?», pergunta.
«Por que lhe é difícil aceitar que ele pense de forma diferente? Querer mudar o outro significa que não o aceitamos como é, e isso pode derivar de uma idealização, isto é, da convicção de que existe um companheiro ideal com características bem definidas por si», acrescenta ainda a especialista em mediação familiar e de conflitos e terapia de casal.
Mude também de relação. «Algumas atitudes e comportamentos podem ser alterados, não por imposição, mas porque a pessoa sente que faz sentido alterá-los. Mas se mudava muito, o melhor é procurar outro companheiro e deixar essa pessoa ser quem é».
- O que fazer quando nos apaixonamos fora do casamento?
«Acompanhei várias pessoas e casais que viveram esta situação. Algumas contam aos seus companheiros o que está a acontecer. Outras escondem-no, com medo das consequências. Quando se gosta de duas pessoas ao mesmo tempo, não se gosta de nenhuma delas», afirma Margarida Vieitez. Antes de tomar uma decisão, sugere que se pondere a questão com calma.
«Se não sabe de quem gosta mais, pode ser que nenhuma dessas pessoas seja a certa», sublinha a especialista. «Pense bem antes de decidir colocar a sua relação de longa data em perigo por uma paixão. A paixão passa, o amor fica! Talvez a sua relação precise de ser reinventada, e essa paixão veio mostrar-lhe que têm de fazer algo», acrescenta.
«Se não sente por essa pessoa mais amor, nem respeito, confiança, partilha e cumplicidade, coloque um ponto final, mas dê um tempo até um novo compromisso», aconselha Margarida Vieitez. «Se o outro gostar mesmo de si, vai esperar», acredita a autora e especialista em mediação familiar e de conflitos e terapia de casal.
Veja na página seguinte: Só se vive um grande amor?
- Só se vive um grande amor?
Não, diz Margarida Vieitez, que defende que podemos «viver dois, três, quatro, se o decidirmos». Os que forem precisos, na prática… Mas, para que isso aconteça, tem de evitar esconder-se «dentro de um iglu e viver lá para sempre, depois de o primeiro amor terminar», bem como acreditar que «outro amor vai acontecer na sua vida». «Não hipoteque a sua vida amorosa», aconselha.
«Você tem direito a uma segunda, terceira ou quarta oportunidade. Não existe só uma pessoa no mundo que tenha o privilégio de saber amá-la», refere a especialista. Ter presente que «o direito (e o dever) de ser feliz assiste-lhe e se isso significar ter de casar e descasar até encontrar a pessoa que saiba amá-la e aceitá-la, que o seja», afiança a especialista em mediação familiar e de conflitos e terapia de casal.
- Como criar um projeto de vida a dois?
Sonhar, projetar e criar objetivos a dois é muito importante. «Uma relação que já dura há alguns anos e que continua a viver apenas no dia a dia, no estamos a conhecer-nos, pode envelhecer precocemente», diz Margarida Vieitez. «Conversem sobre o que esperam e como querem viver num curto e médio espaço de tempo», complementa.
«Mesmo no início, passados alguns meses, conversar sobre como estão a sentir-se na relação e o que gostariam de fazer dela pode gerar grande proximidade e cumplicidade», refere ainda. «Definam atividades em conjunto, programas que gostem de fazer, viagens e novas experiências que gostariam de empreender a dois», acrescenta também.
Texto: Carlos Eugénio Augusto
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