Não creio que o recomeço vá ser igual para todas as idades. Os adolescentes, confiantes na vacina, irão voltar aos abraços efusivos de outrora. Penso que o baixar da guarda poderá levar a um novo crescimento de casos, e ao prolongado uso obrigatório de máscaras na sala de aula. A luta é entre as vacinas e as novas variantes. O comportamento individual poderá determinar o vencedor.
Seria bom que a DGS desse instruções precisas quanto às medidas de segurança previstas, e não as deixasse para a véspera da abertura. Quando houver um caso positivo na sala quem deverá ser confinado? E em que se baseia a decisão? E se for um professor? No recreio quais são as restrições? As escolas e famílias precisam de saber a tempo com o que contam.
Vai ser interessante perceber como irão os jovens reagir aos colegas que recusaram a vacina, se esses forem infectados, com consequências para todos. A discussão quanto aos limites da liberdade individual será um bom tema de debate na escola.
Quem tem menos de 12 anos, embora com muito baixo risco de doença grave é, contudo, veículo de transmissão. Será que a vacina se irá estender a todas as crianças em idade escolar? É preciso que se diga - se tal for o caso - qual o racional por detrás da decisão. Ela parece-me legítima ao levar-se em conta o interesse da população em geral, mas de utilidade duvidosa para a criança individualmente. Pelo menos enquanto não houver informação científica que desminta a afirmação.
A pandemia teve um impacto enorme nos jovens. O período da existência definida pela despreocupada alegria de viver sofreu forte abalo. Aquela que se irá talvez chamar Geração COVID, cresce em ansiedade e insegurança. É impossível não temer o futuro quando se observam alterações climáticas catastróficas, se percebe que um acidente, (natural ou não), num qualquer ponto do globo tem impacto universal, e é notória a tensão entre as várias potências. Sinto, nestes jovens, o medo do futuro.
Cabe também à escola educar no sentido da responsabilidade individual na preservação da Terra que é de todos. A ansiedade diminui quando sabemos que podemos ajudar a controlar os danos.
No entanto, também muito se poderá aprender com a experiência da pandemia. Para começar a utilidade e limites dos novos meios de comunicação. A interacção à distância veio para ficar, embora a antecipe como recurso, não como regra. De qualquer modo, já não há desculpa para que a escola se veja encerrada nos seus muros, e não use as novas tecnologias como forma de educar e comunicar com estudantes e famílias.
Na “bibliografia” de apoio deverão estar, obrigatoriamente, ligações a sites instrutivos, vídeos de Youtube e outra informação da internet. O telemóvel, num estalar de dedos, abre as portas à maior biblioteca do mundo, e também às formas mais atraentes de aprender. Porém, para saber distinguir o trigo do joio é preciso formação científica e intelectual, cuja responsabilidade à escola pertence. Os jovens têm os instrumentos, falta dar-lhes as competências.
Diz-se que o tempo dos media e o da justiça são diferentes. Será que podemos aceitar que o tempo da escola não acompanhe o ritmo de alteração da sociedade? “Quem guardará os guardas?” Perguntava um poeta romano
Quem ensinará os professores? Pergunto eu.
Temo que o envelhecimento desta classe profissional seja acentuado, e todos sabemos como a idade torna a mudança pouco apetecível.
No espaço público, nomeadamente nas redes sociais, a desinformação é erva daninha que abafa a verdade, ou a procura dela. Não basta aos professores alertar para o risco do uso inadequado da net, é necessário que quebrem os círculos fechados de opiniões e tendências, onde procuramos o eco da nossa própria voz. É importante promover a capacidade de ouvir para abraçar a diferença. A razão de ser do negacionismo deve ser debatida, para que até daí surja proveito.
Nestes dois últimos anos assistimos ao fazer da ciência, com o prodígio das vacinas mas, em simultâneo, a propostas e teorias que desabam para rapidamente dar lugar a outras, que por sua vez se aperfeiçoam. Este processo merece discussão, pois há poucas experiências tão instrutivas como o erro.
Acredito que esta vivência seja uma oportunidade para educar melhores cidadãos, capazes de compreender o processo científico e, ao mesmo tempo, dar valor às chamadas Humanidades. Há medida que a tecnologia nos vigia, conhece os nossos gostos e hábitos, e nos serve um menu feito à medida, é necessário que a escola faça compreender que são invisíveis os fios que movimentam as marionetes.
A sociedade moderna exige uma escola que antecipe o que aí vem, ajude a reflectir e, já agora, que fique bem claro: Quem não fala inglês está perto do analfabetismo. Se a escola prepara o futuro, não poderá estar atrasada no presente.
Texto: Nuno Lobo Antunes
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