Diversos estudos têm vindo a defender que a hora das refeições é uma poderosa ferramenta para consolidar as relações entre pais e filhos. Outros sugerem que esse hábito pode ajudar a fortalecer as habilidades sociais das crianças e a melhorar os seus hábitos alimentares.

Um relatório da Academia Americana de Pediatria, publicado pela na revista Pediatrics, percebeu que as refeições familiares habituais podem ajudar a garantir que os adolescentes comam mais frutas e verduras, correndo menos risco de desenvolver distúrbios alimentares, particularmente no caso das raparigas. Contudo, segundo o US News, estes benefícios podem ser reduzidos se os pais passarem a refeição distraídos, verificando constantemente o telemóvel.

Os adultos devem aproveitar as refeições para se envolverem e mostrarem genuíno interesse pelos mais novos. Alguns especialistas fizeram uma lista de perguntas que estimulam a relação da família à mesa, sem esquecer que as questões têm de ser adaptadas à idade dos miúdos.

1. Aconteceu alguma coisa divertida ou difícil, hoje?

“Partilhar o dia-a-dia com o seu filho é importante para reforçar o vosso laço”, defende Gail Saltz, professor de psiquiatria no Weill Cornell Medical College, em Nova Iorque. “Também é importante dizer-lhes o que se destacou no seu dia”. Para crianças em idade escolar, uma pergunta válida é: qual foi a coisa mais interessante que aprendeste hoje? “Isso será útil para entender o que estimula a criança, em que áreas ela precisa de mais ou menos ajuda”, realça Saltz

2. O que estás a pensar?

Muitos especialistas defendem que é importante que as crianças se sintam compreendidas e possam partilhar abertamente o que lhes atravessa a mente. “As conversas não precisam de ser sérias nem pesadas”, sugere Shimi Kang, diretor de saúde mental infantil e juvenil da organização Vancouver Coastal Health, no Canadá. “Se a criança revelar dificuldades com colegas, conte-lhe sobre as dificuldades que teve na idade dela. Isso ajuda a que se sinta mais relaxada”.

3. Com quem almoçaste hoje?

“Crianças e adolescentes não se esforçam para partilhar os detalhes da vida na escola, especialmente se forem constrangedores ou desagradáveis. Não grite com seu filho, mas se notar algo que lhe parece preocupante (por exemplo se ele disser ‘almocei sozinho’) é importante perceber o que se passa”, explica a psicóloga infantil Susan Bartell.

4. Posso contar-te uma coisa maluca que me aconteceu hoje?

“As crianças são normalmente autocentradas. Aprender a preocupar-se com os outros começa em casa”, defende Susan Bartell. “Cabe aos pais explicarem que é importante que eles se preocupem com o que os rodeia. Isso não só os ensina a pensar para além de si próprios, como também os ajuda a perceber o quanto o pai e a mãe valorizam a sua opinião.”

5. Quais são as coisas pelas quais te sentes grato hoje?

A gratidão é um sentimento importante. Nancy Buck, psicóloga de desenvolvimento, vê na mesa de refeições o lugar ideal para falar de ideias, valores ou princípios que os adultos acreditam serem determinantes para a educação dos filhos. “Este não é o momento para discursos, mas sim para mostrar curiosidade e partilhar”, defende. Além dos valores partilhados pela família, os especialistas recomendam que se ensine a expressar gratidão, explicando que é fundamental para o desenvolvimento e bem-estar geral.

6. Sentes-te cheio?

Nem todas as conversas têm de ser profundas. Para crianças muito jovens, Jill Castle, especialista em nutrição infantil do Connecticut, sugere perguntas simples como: o que é que a tua barriga te diz? Está com fome? “Crianças e adultos podem sair a ganhar se estiverem atentas às vozes interiores. Falar sobre fome, plenitude e satisfação ajuda as crianças a tomarem consciência do seu apetite”.

7. O que é que te fez rir mais nos últimos dias?

Entender como o seu filho se sente em relação à vida exige que saiba como ele vive – e não simplesmente o que lhe acontece. Assim como no desenvolvimento da linguagem e na matemática, as crianças precisam de aprender a entender e a gerir as emoções através da interação com pais, professores e outros adultos, além dos colegas. Para avaliar se o seu filho teve um bom ou mau dia também pode perguntar: “De 1 a 10 como classificarias o teu dia?”.

8. Tens alguma dúvida sobre o que viste nas notícias?

Nesta era tecnologicamente hiperativa, crianças e adolescentes – assim como os adultos - são bombardeados com mais informação do que aquela que podem digerir, o que pode provocar ansiedade. “As crianças ouvem coisas que nem sempre entendem”, defende Saltz. “Perguntar ao seu filho o que o está a impressionar e discutir a sua opinião é útil para corrigir equívocos, aplacar medos e ter consciência do mundo que o rodeia”.

9. O que queres fazer amanhã?

É bom envolver as crianças nos planos da família. “Isso pode contemplar a planificação das férias ou apenas a forma como gostaria de passar o dia seguinte. Outra abordagem para perceber os interesses do seu filho, que podem estar em constante mutação, é perguntar-lhe: que atividades te interessam mais agora?”

10. Como estão os teus amigos e colegas?

“Falar sobre o ambiente social é fundamental. É aqui que se podem descortinar possíveis situações de bullying”, explica Saltz. “Dar feedback e até envolver-se na análise de situações complicadas pode ajudar a criança a conviver melhor com os problemas.” Outra pergunta para avaliar as suas relações sociais é: com quem é que conversas mais na escola?

11. O que é que deste na aula de História…?

… ou de outra disciplina qualquer. Ser específico pode ajudá-lo a ter uma ideia mais concreta do que a criança aprendeu ou com o que teve de lidar. Também pode perguntar: de que falaste hoje à hora do almoço? “Espere mais resistência a esta pergunta por parte de adolescentes (eles são mais reservados)”. E aí, “opte por questões abertas que exijam respostas com várias frases”, recomenda o terapeuta familiar Russell Hyken “O mais importante não é o assunto mas criar confiança e construir pontes.”

12. Qual foi a melhor coisa que te aconteceu hoje?

Falar sobre os momentos altos – ou baixos - é outra boa forma de obter informações sobre a rotina do seu filho. Sinta-se à vontade para revelar o que aconteceu consigo, isso aproxima-os. “Ao fornecer uma fatia da sua vida, isso faz com que o seu filho ofereça uma parte da sua”, defende Hyken. “Outra questão pertinente para compreender o seu humor é: estás stressado com alguma coisa? É mais um passo na ponte entre ambos de forma a que, quando houver um problema, o seu filho recorra si”.

Saiba mais em: http://pediatrics.aappublications.org/content/early/2016/08/18/peds.2016-1649