Os rapazes adoram subir às árvores e jogar futebol? Ok, mas algumas raparigas também. “Os rapazes são uns durões? Pode ser, mas as raparigas também”, afirma Katie Hurley, psicoterapeuta infantil e de adolescentes, conferencista e autora de vários livros sobre jovens, num artigo da CNN sobre o que podem os pais fazer para educarem os filhos para a igualdade entre homens e mulheres.

“Por exemplo, tenho um filho e uma filha, e ela é muito mais durona do que ele”, comentou Hurley, explicando que, “assim como associamos brincadeiras agressivas a rapazes, aplicamos logo o rótulo de ‘menina má’ às miúdas endiabradas”.

A especialista conta que, certo dia, se dirigiu a um grupo de jovens do secundário para lhes fazer algumas perguntas, “do género: ‘quem é mais esperto ou quem é melhor nas aulas de educação física, as meninas ou os meninos?’”

Katie Hurley conta que os rapazes mostraram alguma dificuldade em responder a estas questões, mas quando lhes pediu que definissem comportamentos tipicamente femininos e masculinos já se mostraram mais desenvoltos. Disseram-lhe frases como: “As raparigas gostam de usar maquilhagem e os rapazes não”. Ou: “Elas falam mais na sala de aula”. E ainda: “Normalmente, os rapazes são mais fortes ou mais rápidos, é o que o meu irmão diz”.

“Enquanto respondiam, ia enumerando os estereótipos que se iam formando naquelas cabecinhas”, confessou Hurley. “As crianças continuam a interiorizar as mensagens passadas pelos seus pais e professores, o que veem na televisão, no cinema e na música”, defende a autora de No More Mean Girls: The Secret to Raising Strong, Confident, and Compassionate Girls (algo como O Fim das Meninas Más: o segredo para criar raparigas fortes, confiantes e solidárias), que será lançado no Inverno e pretende acabar com o mito das raparigas más (porque saem do estereótipo cor-de-rosa).

Um relatório recente da Common Sense Media sobre a igualdade de género e o papel da televisão e do cinema na construção de estereótipos, mostra que o panorama não é animador.

Diz a CNN a este respeito que “uma análise a mais de 150 artigos, entrevistas, livros e outras pesquisas provou que as crianças entre os 2 e os 6 anos começam a associar brinquedos, atividades e jogos a cada sexo e entre os 7 e os10 anos já atribuem qualidades específicas a mulheres e a homens: por exemplo, os homens são agressivos e as mulheres emotivas”.

“Este estereótipo dos géneros continua a ser reforçado dia após dia, hora após hora, na internet, na televisão, em livros, na música, em videojogos”, defendeu Jayneen Sanders, professora, autora, editora e defensora de uma educação para a igualdade.

“As nossas raparigas têm poucas opções além do cor-de-rosa 'fofo' na seção feminina e os rapazes acabam por se contentar com o azul e o cinzento da secção masculina”, ironizou Sanders, que já publicou vários livros para crianças. “Como os adultos mais próximos tendem a perpetuar as velhas mensagens, os estereótipos de género continuam a ser reforçados em casas e na escola”, defendeu, sublinhando que “as crianças não nascem a achar que o seu sexo é melhor do que o do outro. Elas nascem com a ideia de que não há diferenças”.

É por isso determinante que a educação para a igualdade de género comece mal a criança nasce. “Desde o primeiro dia, os pais devem fornecer às filhas e aos filhos brinquedos e livros onde meninos e meninas são heróis, vivem aventuras e vestem-se como querem, independentemente do que a sociedade estipula como certo”, defende Jayneen Sanders.

Segundo os especialistas, há um conjunto de práticas fundamentais que deve seguir para ensinar a igualdade de género aos seus filhos.

Tome nota

  1. Nunca use o género sexual como desculpa para um determinado comportamento.
  2. Contrarie os papéis tradicionais. Por exemplo: “Peça à sua filha que leve o lixo e ao seu filho que aqueça o jantar”, exemplifica Sanders.
  3. Deixe rapazes e raparigas saberem que podem expressar e discutir sentimentos e emoções e chorar se estiverem tristes.
  4. Discuta as profissões supostamente masculinas e femininas e “mostre às crianças que há excelentes bombeiras e ótimos enfermeiros”.
  5. Converse com os seus filhos sobre heróis de carne e osso, e explique que o sexo de cada um é o menos importante. O fundamental é a dedicação.