Quando o João era mais pequeno, recusava-se a dormir, e ninguém em casa dormia, nem mesmo ele. Passávamos noites a fio em claro, e de manhã era muito difícil acordar, e o dia todo era muito difícil de passar. Aguentávamos o dia a cafés e a contar as horas que faltavam para podermos tentar dormir. E era mesmo muito difícil, pois a privação de sono nunca fez bem a ninguém. Nessa altura tive uma ideia que achava (e ainda acho) que é de génio.
Surgiu-me numa daquelas noites em que estamos a olhar para o teto a tentar dormir, mas a cabeça ainda está meio atordoada e não consegue descansar, começando a surgir ideias. Ideias de génio.
Lembrei-me que seria muito bom se houvesse um tipo de banco de crédito do sono. Ou seja, quando eu tivesse a oportunidade de dormir, dormia muito e creditava horas de sono nesse meu banco do sono. Quanto mais dormia, mais créditos acumulava. Por exemplo, aquela sestinha ao domingo à tarde, aquela sestinha mesmo confortável no sofá da sala onde o sol entra e, amigo, aquece os pés, aquela sestinha durante a qual, sem darmos conta, dormimos cerca de duas horas e até soube tão bem. Sim, essa mesmo! Imaginem só: com essa sesta acumulávamos duas horas de crédito de sono, a somar no nosso banco de crédito de sono.
E depois vinha uma má noite, daquelas noites chatas em que um adoece e o outro acorda; a febre não desce nem por nada e já não sabemos o que fazer, e vemos as horas a passar e a madrugada a entrar pelo quarto dentro, e o despertador a tocar como se nada fosse. Sim, essas mesmas noites que nos deixam de rastos no dia seguinte, sem conseguir pensar e com a cabeça a latejar.
Agora imaginem que podíamos creditar umas horas de sono, do nosso banco de sono, para atenuar os efeitos negativos da noite passada.
Brilhante não é?
Há alturas em que me teria dado imenso jeito um banco do sono. Ontem foi uma delas.
Estou certa de que haveria bons clientes, e até mesmo subscrições quase vitalícias.
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