O ciúme é, segundo Ayala Pines e Elliot Aronson (psicólogos), "a reação complexa a uma ameaça percetível, a uma relação valiosa ou à sua qualidade."

Muitas vezes as figuras parentais não valorizam o ciúme entre irmãos porque aguardam que o tempo readapte a criança à existência de mais elementos na sua vida, outras vezes há a dificuldade de saber como abordar esta contrariedade na relação familiar. Nada disto é surpreendente, sentirmo-nos desarmados, preocupados, desesperados e equacionar o que fazer, tendo como objetivo que a relação entre irmãos seja parte da felicidade de cada um dos filhos e não um obstáculo a uma dinâmica familiar harmoniosa.

A expressão deste sentimento, o ciúme, pode mostrar-se através da agressividade para com o irmão, para com o pai e/ou mãe e ainda para com os pares, podendo também ser manifestado com comportamentos regressivos ou introversão. A criança não tem ainda muitas vezes competências para refletir sobre as suas emoções e age impulsivamente. É muito importante permitir que a criança exteriorize os ciúmes, permitindo-lhe ser escutada quanto aquilo que lhe desagrada para que possa ser possível devolver-lhe a perceção que o pai e/ou mãe têm acerca da compreensão de que entendem o quão é difícil para ele partilhar o carinho do seu pai/mãe.

Evidentemente que se a criança guardar para ele este sentimento tão doloroso, este irá surgir de alguma outra forma não manifesta, embora igualmente preocupante. A capacidade de dialogar permitindo levar a criança a sentir que o amor do pai/mãe pode ser partilhado e que não diminui de intensidade pelo aparecimento de outro ser, pode tranquilizar a criança. A família deve demonstrar que não se trata de uma competição e que todos vão ganhar outras vivências experienciadas com pessoas significativas.

Se não se tiver em atenção a importância deste sentimento na vida de uma criança, podemos potencializar padrões negativos que perduram durante toda a vida, frustrações que podem influenciar o modo de agir e pensar em relação ao irmão, assim como no que diz respeito à construção de outras relações importantes.

Mas estes acontecimentos podem ser ultrapassados e por isso pode ser importante seguir algumas sugestões, caso seja sentido que o problema perdure mais tempo do que seria de esperar para uma adaptação.

- Não demonstre sinais de preferência por nenhum dos filhos;

- Ser pai e mãe significa ser de todos eles e de cada um, ou seja, dê tempo de qualidade afetiva em exclusivo a cada um e não apenas em conjunto;

- Não selecione o filho mais velho para ser o cuidador de um dos irmãos;

- Para evitar competição entre eles não deve compará-los. Promova sempre a colaboração entre todos;

- Seja justo;

- É importante dialogar para permitir a expressão das emoções e sentimentos;

- Dê carinho e muito espaço para a criança expressar os seus medos, angústias, ansiedades e assim traduzi-los e transformá-los em confiança e segurança afetiva.

Sandra Helena

Psicóloga clinica / Psicoterapeuta infantojuvenil